País
fica distante de atingir principais metas de saneamento básico da ONU
Com quase 211 milhões de brasileiros, o País tem quase 48% da população sem coleta de esgoto e cerca de 17%, sem acesso à água tratada, segundo dados de 2019 do Instituto Trata Brasil, com base no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério do Desenvolvimento Regional. Os dados são uma preocupação para a saúde pública, uma vez que as más condições de acesso à rede de esgoto, água tratada e coleta seletiva estão diretamente relacionadas, entre outros problemas de saúde, à propagação de doenças intestinais, principalmente as causadas pela bactéria Helicobacter pylori.
O Dr. Schlioma Zaterka, presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) e presidente honorário do Núcleo Brasileiro para o Estudo do H. pylori, adverte: Doenças como gastrite e úlceras são causadas por um conjunto de fatores, com destaque para a presença dessa bactéria no trato intestinal. Contraída por meio da ingestão de água e alimentos contaminados com fezes, ela coloniza naturalmente na mucosa do estômago e do duodeno e prejudica a barreira protetora desses órgãos, podendo causar inflamação, dores e queimação abdominal, e até o câncer intestinal.
“Dos fatores que predispõem indivíduos de uma população de risco ao câncer gástrico, o H. pylori é o mais importante", complementa Zaterka. Estima-se que no Brasil 13.540 homens e 7.750 mulheres sejam acometidos por esse tipo de tumor, somente em 2019, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Também chamado de câncer gástrico, este é o quarto tipo mais frequente entre os homens e o sexto, entre as mulheres, no País.
O médico gastroenterologista detalha que a bactéria é o agente infeccioso crônico mais disseminado entre os seres humanos (cerca de 60% da população mundial). Sua frequência aumenta em países em desenvolvimento, como no Brasil, e em locais onde há precárias condições de saneamento básico, como é o caso dos cem maiores municípios brasileiros, dos quais somente 22 deles oferecem esgoto tratado para mais de 80% da população, segundo dados do Instituto Trata Brasil. A bactéria se manifesta, ainda, com mais prevalência na infância, apresentando índices já acima de 50% e aumentando com o decorrer dos anos.
Saneamento básico X câncer gástrico nas regiões
O relatório do Instituto Trata Brasil aponta também que o saneamento básico ainda é precário nas diferentes regiões do País. No Norte, apenas 10% da população tem coleta de esgoto e, no Nordeste, 26%. Em outras regiões, a porcentagem é maior. No Sul próximo a 44%, no Centro-Oeste 53% e, no Sudeste, 78%. Além disso, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, de 2018, no País mais de 20 milhões de pessoas não tinham acesso a algum tipo de coleta de lixo, especialmente no Nordeste e no Norte.
Esses resultados mostram que o Brasil ainda está longe de alcançar as metas de saneamento básico da Organização das Nações Unidas (ONU). Em seus Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, o organismo internacional pontua que os países devem “Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos até 2030”.
“A Organização Mundial da Saúde (OMS/ONU) considera o H. pylori um dos mais perigosos agentes causadores de câncer. Aproximadamente, 80% dos tumores malignos do estômago tem relação com a infecção pela bactéria, observando-se diminuição no número de casos quando de sua erradicação”, explica o Dr. Octávio Souza Júnior, médico gastroenterologista da FBG. Investir em saneamento básico é a principal maneira de prevenir a infecção pelo H. pylori e, consequentemente, as doenças causadas pela bactéria, complementa.
Dados do INCA revelam que, sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer gástrico em homens é o segundo mais frequente nas regiões Norte e Nordeste. Nas regiões Sul e Centro-Oeste, é o quarto. Já na região Sudeste, ocupa a quinta posição. Para as mulheres, é o quinto mais existente nas regiões Sul, Centro-Oeste e Norte. Nas demais regiões, Nordeste ocupa a sexta posição e Sudeste ocupa a sétima.
“Nas regiões, importantes capitais e grandes cidades de nosso País têm condições de saneamento inaceitáveis pela importância que ocupam. Cabe ao poder público assumir sua responsabilidade e atuar para reverter o quadro atual. A prevenção do H. pylori se faz mesmo com políticas públicas voltadas ao saneamento básico, bem como com medidas individuais de controle de higiene de alimentos e água para consumo”, defende Souza Júnior, que também é professor das Universidades Federal e do Estado do Pará.
Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG)