O ato suicida é definido como qualquer ação cometida
com a intenção de pôr fim à própria vida. Antes de chegar ao ponto de atentar
contra a própria vida, o indivíduo passa pelo estágio da ideação suicida, um
momento de angústia e sofrimento desesperadores aos quais o indivíduo se mostra
incapaz de lidar, vendo no suicídio a única maneira de dar fim à sua dor.
O SUICÍDIO É UMA DAS 10 MAIORES CAUSAS DE MORTE EM TODO MUNDO.
Segundo a OMS, o número de suicídio supera a soma de mortes causada por
homicídios, acidentes de trânsito, guerras e conflitos civis ao ano. No Brasil,
acredita-se que ocorram 32 mortes por suicídio ao dia.
90%Transtornos mentais – transtorno bipolar, psicoses,
depressão, esquizofrenia, além do abuso de álcool e drogas estão ligados a 90%
das tentativas de suicídio.
Não se deve encarar o suicídio como uma falha de caráter; é um problema de
saúde, um sintoma da gravidade de uma doença psiquiátrica que deve ser abordado
de forma ética, profissional e terapêutica.
PREVENÇÃO E TRATAMENTO
Quando se fala em tratamento do comportamento suicida, presume-se que exista o
desenvolvimento de algumas etapas para que se chegue ao ato. Tratar as
patologias psiquiatras de base é fundamental para prevenir que a doença evolua
para uma tentativa de suicídio. Tratando a doença, a ideação suicida
desaparece.
Mas a primeira etapa do tratamento é, com certeza, abordar o tema. É sempre
difícil falar sobre suicídio; porém, não fazê-lo só aumenta o tabu,
dificultando a identificação do paciente potencialmente suicida e o seu
encaminhamento ao especialista.
Não se fala tanto sobre o tema porque tem-se a falsa ideia de que falar sobre
ao assunto pode induzir a realização do ato, quando o contrário é mais
verdadeiro. Precisa-se falar sobre o suicídio, sobre os problemas que levam ao
ato. É importante que o assunto esteja presente nas conversas das pessoas e
saia da esfera do tabu e do preconceito, tonando esse diálogo um meio de
prevenção.
O suicídio pode e deve ser considerado um grave problema de saúde pública. O
que se estima é que cerca de seis a dez pessoas, no mínimo, são afetadas de
maneira direta quando ocorre o suicídio de uma pessoa próxima. Este é um
comportamento determinado por uma diversidade de fatores – psicológicos,
biológicos, genéticos, culturais, sociais – e por isso não pode ser tratado
como um acontecimento isolado na vida de uma pessoa.
Sempre vai existir uma grave fragilidade que precisa ser compreendida, pois, em
geral, a decisão de terminar com a vida, independente do ponto de vista ao qual
é analisado, é a consequência final de um processo de grande sofrimento. Algumas
vezes a pessoa pode não desejar de fato morrer mas sim eliminar a dor
insuportável que vem sentindo.
Aqueles que já tentaram suicídio em algum momento de sua vida têm de cinco a
seis vezes mais chances de tentar novamente, sendo esse o fator de risco mais
significativo. Também não é possível ignorar que a maior parte dos que tiraram
a própria vida tinham um transtorno mental que frequentemente não foi
identificado ou mesmo tratado adequadamente. As psicopatologias mais comuns que
apontam um fator de risco para o suicídio incluem depressão, transtorno
bipolar, transtornos de ansiedade, alcoolismo, abuso de drogas, transtornos de
personalidade e esquizofrenia. Por conta disso o diagnóstico correto é também
uma forma de prevenir a mortalidade nessas situações. Pesquisas apontam ainda
um aumento da necessidade de atenção entre aqueles com história familiar de
suicídio ou de tentativas.
Falta de esperança no futuro, desespero, desamparo e impulsividade, são as
emoções mais comuns que podem se associar ao comportamento suicida. O impulso
para cometer suicídio pode ser transitório e desencadeado por eventos do dia a
dia – recriminação, fracasso, falência. Quando uma pessoa decide terminar com a
sua vida ela é incapaz de perceber outras maneiras de enfrentar ou de sair do
problema.
Existem inúmeros mitos sobre o comportamento suicida.
O primeiro é de que quem ameaça, quer apenas chamar a atenção. Esse é um
pensamento inadequado pois a maioria dos suicidas falam ou dão sinais sobre
suas ideias de morte. Também existe um certo tabu em relação ao tema, como se
verbalizar o desconforto da vida causasse um aumento do risco, porém falar com
alguém pode aliviar a angústia e a tensão que esses pensamentos trazem.
A prevenção ao suicídio passa pela mesma proposta de qualquer intervenção em
saúde mental. É preciso que, não só os profissionais da área da saúde, mas
familiares, professores e toda a sociedade, sejam capazes de reconhecer quando
um fator de risco esta presente. É possível que facilitando o apoio emocional necessário
para reforçar o desejo de viver, a intenção e o risco de suicídio venha a
diminuir. Em geral, sentir que existe ligação afetiva com um grupo ou uma
comunidade auxiliam a pessoa a lidar com a ideação suicida. Quanto maiores e
mais sólidos os vínculos sociais menor a mortalidade por suicídio.
Os fatores que asseguram a integridade psicológica do ser humano, e portanto o
protegem de um possível desejo de morte, incluem uma boa autoestima, laços
sociais bem estabelecidos com família e amigos, religiosidade, ausência de
doença mental, capacidade de adaptação e resolução de problemas além de acesso
a serviços e cuidados de saúde física e mental.
Depressão e prevenção de suicídio.
Esta doença causa um sofrimento intenso no indivíduo, que de repente se vê sem
forças e sem energia para as atividades que realizava habitualmente. É comum o
indivíduo deprimido se culpar pelo que está sentindo, achando que é
preguiça ou má vontade de melhorar. Entretanto, é importante salientar que a
depressão é uma doença que requer tratamento e não depende apenas da força
vontade da pessoa para se recuperar. É essencial também apontar a
diferença entre tristeza e depressão. Todos nós ficamos tristes de vez em
quando e isso é normal. Na depressão, essa tristeza não passa e começa a
prejudicar várias áreas da vida como o trabalho, os estudos e
a relação com amigos e família. Podemos dizer que a pessoa deprimida olha
com uma lupa todos os problemas e dificuldades e por outro lado quase não
enxerga ou minimiza as coisas boas de sua vida.
O indivíduo deprimido apresenta sintomas tais como:
desânimo diário
desinteresse pelas atividades habituais
pensamentos predominantemente negativos em relação a pessoas e acontecimentos à
sua volta.
sentimento de inferioridade
isolamento social
culpa excessiva
irritabilidade
insônia ou sono excessivo
falta de concentração
falta de apetite/perda de peso
vontade de chorar ou choro
frequente
falta de esperança no futuro.
sintomas físicos sem causa
orgânica.
perda da capacidade de sentir
prazer (anedonia)
ideias de morte e suicídio
Prevenção de suicídio
Pessoas com depressão têm mais
chance de pensar na possibilidade de suicídio, tentarem se suicidar ou se
suicidarem.
Por isso é importante que familiares e/ou amigos ficarem atentos a qualquer
sinal de que a pessoa esteja fazendo planos nesse sentido.
Muitas vezes a pessoa deprimida comenta que quer se matar e as pessoas à
sua volta acham que ela está só querendo chamar a atenção. É
importante entender isso como um pedido de socorro e imediatamente comunicar ao
psiquiatra e psicoterapeuta para obter a orientação necessária.
O suicídio é um tema tabu do qual se fala pouquíssimo. As pessoas têm,
inclusive receio de perguntar a um amigo ou familiar se ele tem ideias
suicidas, mesmo que suspeitem que ele esteja cogitando se matar. Em
ambientes de trabalho ou universidades em que uma pessoa cometeu suicídio,
apesar do sofrimento, também se percebe um bloqueio em se falar do assunto.
É como se as pessoas achassem que falar de suicídio fosse
incentivá-lo e é justamente o contrário. A melhor forma de prevenir é ter
abertura para falar do assunto. Quando se aborda o assunto é possível
ajudar, pensar em outras possibilidades e buscar ajuda profissional.
É importante frisar que m torno de 90% das pessoas que cometem suicídio
apresentavam transtornos mentais e uma boa parte destes suicídios
poderiam ser evitados com tratamento psiquiátrico e psicológico.
Dr. Leonard F. Verea –
CRM- 51.938 - médico psiquiatra formado
pela Faculdade de Medicina e Cirurgia de Milão, Itália. Especializado em
Medicina Psicossomática e Hipnose Dinâmica. Especialista em Medicina do
Trabalho e Medicina do Tráfego. É membro de entidades nacionais e
internacionais. Atua como diretor do Instituto Verea e da Unicap.
www.verea.com.br