Nada
mais cômodo para uma sociedade fragmentada do que ter uma ideologia anestésica
que permita trilhar por entre críticas ou discordâncias de uma forma de
governo. Algumas ideologias de esquerda, como a que tivemos no governo petista,
são difusas, ou seja, abordam vários segmentos. Algo assim é sempre preocupante
na visão de um eleitor conservador, e foi para isso que votamos na única opção:
o candidato Bolsonaro.
Cheios
de esperança, aguardávamos um novo Brasil, que preservasse novos valores e
combatesse a corrupção. Na essência isso existe, pois as mudanças estão
ocorrendo, só que de uma forma atrapalhada, visionária, que mais uma vez nos
faz deparar com uma “ideologia anestésica”, desta feita de direita e muito mais
desorganizada, pois a esquerda petista sempre foi estrategista, e a nova
direita bolsonarista não passa na verdade de um amontoado de ações desconexas,
na qual o trilho ideológico é pobre e advém muito mais das ideias de um
astrólogo que nem no Brasil vive, mas que serve de “referência conservadora
recheada de frases de efeito e palavrões”.
É
interessante notar que muitas vezes algumas posições de Olavo de Carvalho fazem
sentido, mas logo se perdem diante da realidade do país e na construção de uma
segmentação lógica de programas que realmente interessam à população pobre do
Brasil. Parece-me haver duas formas atuais de balizar o governo nas suas
propostas, uma, econômica e ameaçadora, em que com a reforma da previdência,
uma vez aprovada, tudo se resolverá. Puro devaneio. Outra é que, se não
seguirmos as orientações ideológicas, seremos punidos por “balbúrdias” sociais,
ou seja, trocamos uma ideologia esquerdista perigosa por uma ideologia
sonhadora sem efeitos práticos e desconexa da realidade, que ignora as
verdadeiras necessidades, bem como importantes demandas sociais e econômicas.
Vendeu-se
a ideia de que no governo Bolsonaro tudo seria resolvido de forma fácil, como
se não houvesse um Estado Democrático de Direito, como se nada tivesse que ser
discutido, negociado com a sociedade e com a câmara, haja vista o projeto
anticorrupção do ministro Sérgio Moro, que também já desgastado se depara com
discordâncias do presidente, como no caso do armamento para ruralistas.
Enfim,
o presidente Bolsonaro necessita harmonia com todos, com seu vice, com seus
ministros, para que possamos avançar e fazer valer nosso voto, caso contrário,
nesse emaranhado de desencontros, teremos que nos valer da astrologia para
saber o que será do Brasil até o fim do mandato.
Fernando Rizzolo - advogado,
jornalista, mestre en Direitos Funfamentais