Foto de divulgação / Meningite meningocócica |
A FEHOESP- Federação dos Hospitais, Clínicas e
Laboratórios do Estado de São Paulo, representante de 55 mil serviços privados
de saúde, está enviando novo alerta para o setor para a ocorrência de
meningite.
Em campanha junto aos estabelecimentos de saúde, a
Federação pede cautela e cuidado no diagnóstico de pacientes que chegarem aos
pronto-socorros, clínicas e hospitais com sintomas parecidos com uma gripe.
Segundo o médico Yussif Ali Mere Jr, presidente da
FEHOESP, com a ocorrência de casos de meningite meningocócica, dengue, zica e
chikungunya e a volta do sarampo, é preciso redobrar a atenção para que
sintomas de uma doença mais grave não sejam confundidos com o de uma gripe.
“Importante que serviços de saúde, médicos e profissionais estejam atentos à
ocorrência dessas doenças e realizem um diagnóstico criterioso para que não
ocorram erros de avaliação”, alerta o médico.
No entanto, o presidente da FEHOESP
alerta para o fato de que não existe integração entre as políticas
públicas de saúde e o setor privado. “Funcionam como dois sistemas
independentes. É como se o segmento privado funcionasse dissociado do sistema
público de saúde, que deveria ser único, hierarquizado e totalmente integrado.
A falta de integração propicia atendimentos em duplicidade, dificuldades no acesso
do paciente, maiores custos e menor eficiência no atendimento
médico-hospitalar”, destaca.
Para o médico, é imprescindível integrar as ações
preventivas para que o sistema de saúde realmente funcione como um
todo.
Meningites
Consultado pela FEHOESP, o professor e
infectologista Roberto Focaccia, autor de diversos tratados da especialidade,
explica que o meningococo (Nesisseria meningitidis) existe em todo
o globo terrestre e apresenta 12 tipos diferentes dos quais são mais comuns o
A, B, C, W, Y. O tipo A é mais epidêmico e ocorre ocasionalmente. O B e o C,
fora de epidemias, são os que mais ocorrem. No Brasil, vem prevalecendo a
meningite do tipo C, em segundo lugar os tipos B e W.
“Mas o que significativamente afeta a gravidade é o
estado imunológico de cada indivíduo e o início precoce e adequado do
tratamento”, alerta o especialista.
Sintomas e diagnóstico
Clinicamente, o paciente com meningite
meningocócica apresenta além do quadro comum de qualquer outra meningite como
febre alta, dor de cabeça quase insuportável, vômitos “em jato” não
relacionados com a alimentação, confusão mental, musculatura da nuca
enrijecida, uma característica especialmente peculiar: pequenas manchas
avermelhadas pelo corpo geralmente com um ponto central enegrecido, chamadas
petéquias, de fácil visualização. O número é variável e às vezes chegam a
apresentar pequenas hemorragias locais. Essas lesões são altamente sugestivas
de meningite meningocócica.
O diagnóstico da meningite é dado pelo exame do líquor,
que se apresentada com aspecto purulento, aumento da pressão liquórica, e
alterações típicas a todas as demais meningites (baixa de glicose e aumento das
proteínas liquóricas, neutrófilos acima de 50%). No exame direto ao microscópio
pode-se rapidamente sugerir, pela morfologia das bactérias, o agente
etiológico. A cultura do líquor é fundamental e permite verificar com certeza
qual bactéria está causando a meningite, porém o exame pode demorar 2 a 3 dias.
“Importante salientar que o uso prévio de antibióticos antes da coleta do
líquor impede a identificação bacteriana”, alerta o professor.
Outros exames mais sofisticados, eventualmente
disponíveis, aumentam a capacidade de identificar a bactéria e, no caso da
meningocócica, permite identificar o tipo de meningococo.
Em algumas situações clínicas é necessário fazer
uma tomografia craniana para pesquisa de outras alterações do sistema nervoso
central, que podem alterar a conduta terapêutica.
O presidente da FEHOESP lembra que todos os casos
de meningite devem ter notificação compulsória à Secretaria Municipal da
Saúde. Segundo diretriz do SUS (Sistema Único de Saúde) definida pelo
Ministério da Saúde, o trabalho de investigação de casos de meningite se dá de
forma descentralizada, por meio das secretarias municipais de Saúde, com apoio
do Estado sempre que necessário.
Tratamento
O tratamento deve ser o mais precoce possível. Os
antibióticos devem ser sempre por via endovenosa até a alta. Nos casos em
que a meningite clinicamente já permite verificar que se trata de causa
meningocócica (petéquias em profusão) pode se iniciar com ceftriaxone
endovenoso. Se a etiologia da meningite ainda é duvidosa deve-se iniciar com
terapia de alta performance de acordo com as bactérias mais prevalentes com
cada faixa etária até a chegada da cultura liquórica. Lembrando que pacientes
imunossuprimidos ou que adquiriram infecção hospitalar devem ter aumentado o
espectro de ação dos antibióticos, incluindo o combate a anaeróbios, fungos e
bactérias oportunistas.
O SUS disponibiliza vacina meningocócica tipo C
conjugada (com toxóide tetânico ou diftérico dependendo do fabricante) aos 3 e
5 meses, com reforço aos 12-13 anos. Nas clínicas privadas é possível comprar
vacinas meningocócicas quadrivalentes (tipos A,C,W,Y) e a vacina recombinante
tipo B.
Importante salientar que populações já imunizadas
naturalmente por infecções assintomáticas respondem muito melhor às vacinações.
Como no Estado de São Paulo, o meningococo tipo C já circulou muito
sensibilizando boa parte da população, a vacina meningocócica C comum ou
conjugada tem eficácia sempre melhor.
Números da Secretaria da Saúde
Contatada, a assessoria de imprensa da Secretaria
de Estado da Saúde, comunicou que o Centro de Vigilância Epidemiológica
registrou 7,1 mil casos e 408 óbitos em 2018 considerando todas as
etiologias de meningite (bacteriana, viral e outras não
especificadas). Neste ano, até fevereiro, foram contabilizados 495 casos e 26
óbitos.
Segundo o órgão, “não há evidência de nenhuma
anormalidade no cenário epidemiológico da doença neste momento. Em casos de
surtos localizados, sempre que necessário, as vigilâncias epidemiológicas são
acionadas para agir imediatamente na investigação dos casos e providenciar a
vacinação dos grupos específicos com o objetivo de conter a transmissão”.