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O ginecologista e obstetra Dr. Alberto Guimarães explica sobre essa
doença durante a gravidez
A hanseníase é uma doença crônica e transmissível, causada
pela bactéria Mycobacterium
leprae, que se multiplica lentamente, levando a sintomas que podem
demorar até 20 anos para aparecer. Ela afeta principalmente os nervos
periféricos e está associada a lesões cutâneas características. Sem tratamento,
pode causar danos aos nervos, demonstrados por fraqueza nas mãos e pés e pela
presença de deformidade visível. Embora a doença seja completamente curável,
com uma terapia que é gratuita, a demora em iniciar o tratamento pode levar à
incapacidade permanente.
Atualmente, mais de 200 mil novos casos de
hanseníase são detectados no mundo a cada ano. Dessas ocorrências da doença,
80% são registradas em três países – Brasil, Índia e Indonésia. A patologia foi
eliminada como problema de saúde pública em 23 países das Américas — isso
significa que, nessas nações, há menos de um caso de hanseníase em cada 10 mil
habitantes registrados para tratamento. Em 2017, 29.101 novos episódios de
hanseníase foram registrados no continente americano — mais de 93% deles no
Brasil.
O
ginecologista e obstetra Dr. Alberto
Guimarães explica sobre a Hanseníase durante a gravidez:
Que
problemas a hanseníase durante a gestação pode trazer à mãe e ao bebê?
A hanseníase
começa de uma forma aparentemente inocente, com uma alteração na pele, e o
desfecho pode levar a grandes mutilações, por isso quando um infectado era
identificado ele era isolado, porque as pessoas começam a perder partes do
corpo devido ao processo de atrofiamento e deformação, o que acabava causando
uma segregação, sem o convívio com a sociedade.
Como é o
tratamento da doença quando a paciente está grávida?
Como é uma
doença que avança de uma maneira lenta e gradual, muitas pessoas que nem sabem
que tem hanseníase acabam engravidando. Caso o diagnóstico seja feito durante a
gestação, a principal questão é o tratamento que envolve vários medicamentos e
que podem ter alteração no bebê, mas isso depende da fase que foi feito esse
diagnóstico e do momento e que se inicia o tratamento. O tratamento da
hanseníase dentro e fora da gravidez é o mesmo, com polimendicação, ou seja, a
utilização de vários medicamentos.
Como a
gestante pode evitar a hanseníase?
A hanseníase
é transmitida principalmente por meios respiratórios, então é importante para a
mulher – e não só a gestante – evitar os grandes conglomerados, a convivência
em espaços com pouca ventilação, ou lugares aonde as pessoas não tem muita
higiene. Uma abordagem interessante seriam campanhas que pudessem lembrar as
pessoas que a hanseníase continua existindo, mesmo que a gente viva em um
momento onde o Zika Vírus exige muitos recursos para descobrir como lidar com
esse vírus, no Brasil ainda existem mais de 30 mil casos de hanseníase novos por
ano e que passam despercebidos. É necessário que as pessoas estejam atentas ao
seu próprio corpo e principalmente lembrar que manchas na pele e diminuição de
sensibilidade (térmica, dolorosa e tátil) são situações que precisam ser
investigadas. Se for feito o diagnóstico, a pessoa tem que entender a
importância de ser tratado, geralmente o tratamento é longo, dependendo da fase
da doença, e não é algo que termina em uma semana ou um ano, é um
acompanhamento. É interessante ficar claro essa importância do tratamento e ser
indicado, caso a mulher saiba que contraiu essa doença, a esperar a cura para
se engravidar.
O
pré-natal de uma gestante com hanseníase deve ser diferenciado?
O pré-natal
de uma mulher que tem hanseníase será sim diferenciado, já que dependendo da
gravidade da doença podem existir sequelas na criança. Na hanseníase a questão
começa pela pele, mas o bacilo causador da doença tem preferência por atacar os
nervos periféricos e a partir disso começam as outras complicações, inclusive a
doença pode comprometer a visão por conta da alteração do nervo ótico, atrofiar
músculos, alteração da movimentação. Além da pessoa também perder a autoestima
e acabar se isolando, devido à essas situações. Durante o pré-natal, são
tomados cuidados gerais para diminuir estas complicações referentes ao ataque
dos bacilos nos nervos periféricos da mãe.
O
recomendado é que a mulher que tenha hanseníase espere estar curada para
engravidar, porém, muitas mulheres engravidam nesse período, e o Brasil tem
mais de 30 mil casos de hanseníase por ano, segundo a OMS. O que contribui para
esse cenário, na sua opinião?
São
vários os fatores que contribuem para que a hanseníase não seja erradicada no
Brasil. A hanseníase é o que chamamos de “doença silenciosa”, então ela começa
na pele, de forma pouco perceptível, e em embora seja uma patologia de fácil
identificação médica, muitas vezes as mulheres que estão infectadas engravidam
porque nem sabem que estão doentes.
Outro
fator é que a doença tem um tratamento longo e muitas vezes as pessoas
abandonam os remédios por não verem o resultado imediato. O que agrava ainda
mais a situação é que no Brasil não há políticas públicas que incentivem o
planejamento familiar, então se a mulher engravida por acidente as chances de o
bebê ter como consequência doenças graves é ainda maior. A hanseníase é uma
questão de saúde pública, ainda mais por se tratar de uma doença que se
prolifera com mais incidência em classes sociais menos favorecidas, que vivem
em espaços menores, com mais pessoas e com poucas condições de higienização.
Alberto Guimarães
- Formado
pela Faculdade de Medicina de Teresópolis (RJ) e mestre pela Escola Paulista de
Medicina (UNIFESP), o médico atualmente encabeça a difusão do “Parto Sem Medo”,
novo modelo de assistência à parturiente que realça o parto natural como um
evento de máxima feminilidade, onde a mulher e o bebê devem ser os
protagonistas. Atuou no cargo de gerente médico
para humanização do parto e nascimento do Centro de Estudos e Pesquisas Dr.
João Amorim, CEJAM, em maternidades municipais de São Paulo e na
Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
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