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terça-feira, 6 de novembro de 2018

ENEM: Não foi bem no primeiro dia? Por que o candidato não deve desistir do segundo dia de prova


Professor e um dos fundadores do Programa Semente, Eduardo Calbucci, explica a importância de comparecer ao segundo dia de prova mesmo que o resultado do primeiro dia tenha sido aparentemente ruim


Em 2017, a taxa de abstenção no segundo dia do Enem foi de 32% do total de 6.731.344 inscritos. Os dados foram divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e mostraram que o número de desistência aumentou na segunda etapa da prova (no primeiro dia a porcentagem era de 29,8).

Para Eduardo Calbucci, professor e um dos fundadores do Programa Semente, um dos motivos que podem levar à abstenção no segundo dia são os pensamentos que aparecem na semana posterior à aplicação do primeiro caderno. “Muitas vezes as emoções preponderantes na primeira prova são ansiedade e preocupação. Já na segunda, os candidatos podem apresentar sentimentos negativos como frustração e desânimo”.

Com o término da prova, os vestibulandos ficam mais expostos a comentários sobre as questões e precisam ter maturidade e resiliência para a segunda parte do exame. “De repente ele escuta algo de um aluno que acha que foi muito bem. O candidato pode dar um peso tão grande a isso, que essa percepção pode acabar afetando o seu resultado no segundo dia.”

No ano passado, o exame foi aplicado em dois domingos consecutivos pela primeira vez. A mudança fez com que os alunos ganhassem distância de uma semana entre as provas. Para Calbucci, “por um lado, a alteração pode aumentar a ansiedade, mas por outro dá a chance do vestibulando tomar decisões de maneiras mais sensatas”. O professor aconselha a gastar energia com o que ainda pode ser mudado. “Isso está muito ligado a uma algo que nós chamamos de flexibilização cognitiva. O que significa? É você desafiar os pensamentos que estão atrapalhando o seu bom resultado”, explica.

“O candidato precisa focar no futuro, porque ele não pode mudar o passado. Quando pensamos nesse aumento da abstenção, vemos que muitas pessoas não conseguem esse resultado porque falta resiliência e determinação. E, às vezes, esse candidato descobre que, no fim das contas, não tinha ido tão mal no primeiro dia. Independente do que aconteceu na primeira prova, se alguma coisa não deu certo, é preciso transformar aquele erro em aprendizado e fazer com que aquilo não se repita.”, atenta o professor.


Correção do gabarito

Outro ponto que Calbucci chama atenção é a correção do gabarito do primeiro caderno da prova. Muitos alunos têm dúvidas sobre o momento mais adequado para descobrir quantas questões acertou. Para decidir a melhor opção é preciso autoconhecimento. “É uma decisão muito pessoal e ninguém além do próprio aluno sabe se ele seria bem ou mal influenciado por um resultado aparentemente ruim.”

O professor completa: “Lembrando que o Enem não divulga um gabarito depois do primeiro dia e, se o candidato contar quantas acertou, ele vai usar um gabarito extraoficial, ou seja, não há uma garantia. Outra coisa que precisa ser considerada é que a prova é corrigida por um modelo chamado TRI, onde não importa muito o número de questões acertadas, mas sim a coerência das respostas dadas. Isso significa dizer que, às vezes, um resultado pode ser mal interpretado pelo aluno.”






Programa Semente


Enem: Tema de redação é amplo, mas não surpreende


Professor de redação explana as possibilidades de ter ido bem ou mal na prova


O Enem 2018 trouxe como tema da redação a “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”, assunto bastante debatido por acontecimentos no cenário nacional e internacional, como o caso do vazamento de dados por meio do Facebook, no início do ano. Os textos motivadores apresentaram como abordagens a influência dos algoritmos no comportamento de consumo, o controle da informação do ponto de vista comunicacional, um infográfico com dados sobre o uso da internet e as mudanças de comportamento das pessoas por conta do recebimento pré-selecionado da informação. 

Segundo o professor de redação do Sistema Positivo de Ensino, Caio Castro, as palavras-chave do tema eram “manipulação” e “controle”, que fizeram com que o vestibulando tivesse que discutir as consequências do uso de dados na internet e se posicionar a respeito do fato. “A prova acabou mostrando que a crença de que a internet é um universo isento ou neutro, na verdade não é real, e exigiu que o estudante se posicionasse a respeito dessa verdade”, expõe. Castro também reforça que, apesar dos textos motivadores serem de grande utilidade, o aluno deve sempre inserir seus próprios conhecimentos, contextualizando-os com o que é oferecido pela prova. 

“Fugir do tema, ignorar as contextualizações do textos motivadores e acabar abordando assuntos que apenas circundassem o tema proposto poderiam ser ações que prejudicassem o estudante”, alerta o professor. No último ano, foram mais de 300 mil redações nota zero registradas pelo Enem. Castro lembra que o tema deste ano foi muito debatido, principalmente no período de elaboração da prova, em meados de abril, quando o presidente do Facebook foi indiciado no caso em que 2 milhões de usuários foram afetados por dados vazados e que, para uma contextualização da dissertação, esses fatos poderiam ser lembrados. 

Um ponto de preocupação dos estudantes costuma ser o receio em emitir opinião contrária à do avaliador. Sobre isso, o professor tranquiliza: “O avaliador não está preocupado se sua opinião converge com a dele, ele vai ver se a sua argumentação faz sentido, é pertinente, independente do seu ponto de vista”. Porém, apesar da emissão de opinião ser incentivada, o aluno deve tomar cuidado com o uso da primeira pessoa do singular. “Na cartilha do Enem não diz nada contra o uso da primeira pessoa, porém, nas redações que são colocadas como exemplo, que foram nota mil, nenhuma usava a primeira pessoa. Todas estavam em terceira pessoa. E então, inferimos que o uso da primeira pessoa do singular não é aconselhável”, indica. 

A menção ao papel da imprensa, a criação de bolhas de opinião, a preocupação com a privacidade e a influência da internet nas eleições presidenciais brasileiras foram abordagens também citadas por Castro, que comentou o tema da redação durante a transmissão ao vivo de correção da prova, na sede da Editora Positivo, em Curitiba. Ao todo, a transmissão alcançou 1 milhão e 600 mil espectadores, 177 mil visualizações, 500 compartilhamentos e 2.200 comentários e contou com um gabarito extraoficial da prova, elaborado pelos professores do Sistema Positivo de Ensino. No próximo domingo, 11, serão aplicadas as provas de Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. Os professores do Sistema Positivo de Ensino, novamente, farão as provas e entrarão ao vivo, na página da Editora Positivo no Facebook, para comentar as questões e apresentar o gabarito.



As universidades e o direito sagrado de ser mãe

Por que, mesmo com uma lei que ampara algumas necessidades das estudantes gestantes, as instituições de ensino superior têm dificuldades em atender suas necessidades?


Cada vez mais se é discutido na sociedade a questão da inclusão de diferentes grupos de pessoas, tanto nas escolas quanto nas universidades. Os pontos são muitos, desde como receber quem tem dificuldade de aprendizado, ou sobre o fator de diferença socioeconômica, as cotas raciais, entre outros assuntos. Mas algo que é negligenciado e pouco pensado, em especifico pelas universidades, é sobre como as estudantes grávidas enfrentam dilemas e situações que são pouco noticiadas e tratadas sobre o ponto de vista dos aparelhos legais, em termos de lei.

A importante fala dos direitos e igualdade das mulheres deve expandir e alcançar muitos outros pontos como o da questão da mulher gestante dentro da universidade. Existe a maternidade e existe o desejo de ingressar no mercado de trabalho, no envolvimento do saber e da ciência e de futuramente exercer uma carreira, não só pela autoestima, mas para colaborar com os custos familiares, da vida social e de contribuir com a sociedade.

É relevante destacar que existe a lei 6.202, datada de 1975, que oferece certa proteção às estudantes grávidas, curiosamente sancionada no regime militar. Na ocasião, o ex-presidente Ernesto Geisel decretou que a partir do oitavo mês de gestação a estudante ficará assistida pelos exercícios domiciliares, sem a obrigatoriedade de frequentar as aulas e sendo abonada das faltas. Mas, desde então, nunca, em nenhum momento, veio do congresso qualquer reavaliação sobre as questões que envolvem esse nicho da sociedade.

Para quem conhece essa demanda nas universidades, essa é uma lei de extremo interesse para as mulheres. Fato que vemos é que as instituições de ensino superior não estão entendendo direito esse dilema das estudantes gestantes, como se a maternidade fosse um assunto que nem deveria acontecer no período acadêmico.

Mesmo com uma lei que de amparo, questões que deveriam ser simples, como o abono das faltas se tornam complicações nas universidades. É óbvio que essas estudantes levam atestados médicos, sendo difícil falsificar uma gravidez. Em um parágrafo único da lei de 1975, no artigo 2, temos que “Em qualquer caso, é assegurado às estudantes em estado de gravidez o direito à prestação dos exames finais”, dando o direito, não só de não ter que pagar pelas faltas, mas também de participar do exame final. Ficando facultativo a universidade e aos professores fazerem esse acerto diretamente com as estudantes gestantes.

Os exames finais se tornam outro problema na vida das mulheres grávidas, devido as universidades executarem essas provas desconectadas do período das atividades domiciliares e àss vezes, muito depois que a licença maternidade termina, o que atrapalha o desempenho da estudante.

Então o que está de fato ocorrendo? Hoje um dos temas mais instigantes que permeia essa pauta é a da justiça. E quando o ser humano se sente injustiçado, se sente também ferido e acabado. Aristóteles dizia em seu famoso tratado de ética a Nicômaco: o que é a justiça? Dar a cada um o que é seu, tratar os iguais igualmente e os desiguais desigualmente. Nesse sentido é preciso entender o que é justo. Não dá para responder com isonomia, “mas os outros alunos fazem assim. Tem que fazer a prova”, já que se trata de um caso específico de uma pessoa que não pode comparecer nas aulas por ser uma gestante. Da mesma forma que ela faz lições para cobrir as ausências involuntárias de aula, se deve pensar em uma forma de substituir a forma de avaliação final, uma apresentação de trabalho, por exemplo. Dessa forma seriamos justos na ótica aristotélica.

Exigir de uma gestante que falte as aulas por um tempo, faça exercícios domiciliares e depois de um tempo seja chamada para fazer uma prova, sem considerar que ela não assistiu às aulas como os outros assistiram é errado. Essa é uma forma muito triste de atender esse nicho.

Nenhuma mãe é negligente com a faculdade. Talvez a faculdade hoje está insensível com essas mães universitárias. É preciso que as instituições acadêmicas comecem a ser mais humanas e tratem o tema com o seu devido respeito, com a garantia que a lei deu para com a falta e com o mínimo de razoabilidade em seus regimentos internos. Porque ao se defenderem falam que o regimento interno diz que não podem fazer as avaliações de forma diferente. Mas o regimento interno, internamente se resolve e se retifica.

Soluções? Se pode começar com a manutenção do abono e as faltas serem substituídas por exercícios domiciliares, além de um ponto facultativo para cada professor na realização do exame final. Nessa situação circunstancial também é necessário deixar mais claro para as estudantes fazerem um trabalho que substitua as provas. E se cada faculdade quer fazer a prova, que cuidem para fazer uma prova especifica próxima do trabalho domiciliar que foi feito e entregue. E não deixar que o semestre dessas estudantes seja perdido, causando um desconforto e uma sensação de culpa pelo simples fato de ser mãe.






Rabino Samy Pinto é formado em Ciências Econômicas, se especializou em educação em Israel, na Universidade Bar-llan, mas foi no Brasil que concluiu seu mestrado e doutorado em Letras e Filosofia, pela Universidade de São Paulo (USP). Foi diretor do Colégio Iavne, por 22 anos. O Rav. Samy Pinto ainda é diplomado Rabino pelo Rabinato chefe de Israel, em Jerusalém, e hoje é o responsável pela sinagoga Ohel Yaacov, situada no Jardins também conhecida como sinagoga da Abolição.

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