O
Brasil é um dos líderes na classificação dos países do G20 que menos emitem
gases de efeito estufa per capita, tanto quanto às emissões atuais quanto à
tendência de redução destas, e, também, em relação ao benchmark “bem abaixo de
2°C”. Apesar de se classificar entre os países que têm um consumo médio de
energia per capita, sua quota de energia renovável é, de longe, a mais alta do
G20 (38%).
A
atratividade do investimento em energias renováveis no país se classifica como
média no G20. É certo que a recessão econômica e a instabilidade política
levaram a um declínio acentuado na demanda de energia, o que causou o
cancelamento do leilão de energia A-3 e do leilão solar de dezembro de 2016.
Mas o fim do financiamento de termelétricas a óleo e a carvão anunciado pelo
BNDES afetará os investimentos futuros nestas tecnologias sujas.
Estas
são algumas das conclusões do relatório Brown
to Green elaborado pela parceria internacional Climate Transparency e lançado hoje. O relatório oferece a mais
abrangente e concisa análise da performance de transição para uma economia de
baixas emissões dos países do G20. Ele classifica as performances dos países do
G20 quanto às suas reduções de emissão, políticas públicas climáticas,
financiamento e descarbonização.
Especialistas
brasileiros reconhecem a boa evolução das políticas brasileiras para o setor
energético, mas apontam que a eficiência energética precisa de metas mais
ambiciosas. Ainda falta um plano para eliminar os subsídios aos combustíveis
fósseis e um sinal efetivo para o preço do carbono. Os subsídios aos
combustíveis fósseis dados pelo país em 2014 totalizaram US$ 27 bilhões, um dos
níveis mais altos dentro do G20. O financiamento de projetos de combustíveis
fósseis feitos por meio de instituições públicas foi, em média, de US$ 3
bilhões por ano em 2013 e em 2014.
William
Wills, do CentroClima da COPPE/UFRJ , diz que “o Brasil é um dos poucos países em
desenvolvimento que estabeleceu um limite absoluto de emissões e mostrou um
forte compromisso de combate à mudança climática. Nosso desafio agora é parar o
desmatamento e reduzir ainda mais as emissões. Precisamos, no entanto, de um
compromisso dos países industrializados quanto a intensificar o financiamento à
ação climática e quanto a fortalecer seus próprios compromissos”.
“As
economias do G20 estão ficando mais eficientes - estão começando a se
descarbonizar, mais ainda não o suficiente para alcançar os objetivos do Acordo
de Paris”, diz Alvaro Umaña, Co-Chair da Climate
Transparency e ex-ministro de meio ambiente da Costa Rica.
O
relatório e os perfis dos países estão disponíveis aqui.
Destaques de descarbonização
• Os
padrões de descarbonização dos países do G20 apresentam grandes diferenças: a
UE e seus estados membros que participam do G20 têm, em geral, boa
classificação, enquanto a classificação da Rússia é baixa e a da Austrália
muito baixa.
• A
energia renovável está em ascensão. Os países do G20 possuem 98% da capacidade
instalada global de energia eólica, 97% da energia solar e 93% dos veículos
elétricos. Na maioria dos países do G20, as participações das energias
renováveis no fornecimento de energia elétrica estão crescendo, exceto na
Rússia, onde o consumo absoluto de energia renovável diminuiu 20% desde 2009. A
China, a República da Coréia e o Reino Unido experimentam um forte crescimento.
• As
emissões de gases de efeito de estufa dos países do G20 cresceram 34% entre
1990 e 2014. No entanto, no mesmo período, suas economias cresceram mais, cerca
de 117%, demonstrando que estas estão usando recursos energéticos de forma mais
eficiente do que no passado.
• A
intensidade de carbono do fornecimento total de energia primária do G20 ainda
está aumentando. Isto se deve, em grande parte, aos países do grupo que atendem
às suas crescentes necessidades de energia com carvão. Embora as intensidades
de energia e de carbono das economias do G20 tenham diminuído, estes fatores
não foram suficientes para levar a uma redução geral das emissões de gases de
efeito estufa.
• Em
metade dos países do G20, as emissões de gases de efeito estufa per capita não
estão mais crescendo. Uma exceção notável é o Japão. O Canadá tem o maior
consumo de energia per capita, seguido da Arábia Saudita, da Austrália e dos
EUA.
Destaques financeiros
• Os
países do G20 são atraentes para o investimento em energia renovável,
especialmente China, França, Alemanha e Reino Unido, embora este último tenha
abandonado seu apoio político às energias renováveis.
• Os
títulos verdes (green bonds)
constituem menos de 1% do mercado de dívidas dos países do G20, mas as taxas de
crescimento recentes são notáveis, particularmente na China.
• Em
2016, foi instalada mais capacidade de geração de eletricidade “verde” do que
“marrom” em todo o mundo. No entanto, ainda existe um importante investimento
público e privado nos países do G20 em infraestrutura de energia “marrom”.
•
Entre 2013 e 2014, as instituições de financiamento público dos países do G20,
como bancos de desenvolvimento nacionais e internacionais, bancos
majoritariamente estatais e agências de crédito à exportação, gastaram em média
quase US$ 88 bilhões por ano em carvão, petróleo e gás.
•
Apesar das repetidas promessas de eliminação progressiva dos subsídios aos
combustíveis fósseis, em 2014, os países do G20 forneceram mais de US$ 230
bilhões de subsídios ao carvão, ao petróleo e ao gás.
•
Entre os países do G20, os níveis mais altos de financiamento público para os
combustíveis fósseis são feitos pelo Japão e pela China, que forneceram US$ 19
e US$ 17 bilhões ao ano em 2013 e 2014, respectivamente.
•
Mais mecanismos de preços de carbono foram introduzidos nos últimos anos. Mas
os preços do carbono e as taxas efetivas de carbono, que levam em conta os
vários impostos sobre a energia, ainda permanecem muito baixos nos países do
G20 para encorajar uma mudança substancial em direção a uma economia de baixo
carbono.
Destaques da política climática
• A
maioria dos governos atua melhor no cenário internacional, mas ainda falta
progresso na política e implementação nacional. China, Brasil, França, Alemanha,
Índia, México e África do Sul têm as mais altas classificações quanto à ação
climática. Os países na lanterninha do ranking de desempenho quanto à políticas
climática são EUA, Austrália, Japão, Arábia Saudita e Turquia.
•
Nenhum dos países do G20 obtém uma classificação especial quanto aos seus
compromissos junto ao Acordo de Paris. Nenhum deles segue uma trajetória de
emissões adequada aos objetivos de 2˚C ou 1,5˚C.
• O
carvão está sendo eliminado gradualmente em alguns países. Canadá, França e Reino
Unido estabeleceram um plano para a eliminação do carvão (o que lhes dá uma
alta classificação no ranking). Outros países, como Alemanha, Itália e México,
estão atualmente considerando a eliminação progressiva do carvão, ou tomaram
medidas significativas para reduzir seu uso. Índia e China receberam
classificação média devido ao encerramento recente - ou cancelamento de planos
para - um bom número de plantas de carvão.
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A Climate Transparency é uma parceria
internacional que junta especialistas da Argentina (Fundación Ambiente y
Recursos Naturales), Brasil (CentroClima/COPPE UFRJ), China (Energy Research
Institute), França (The Institute for Sustainable Development and International
Relations), Alemanha (Germanwatch, HUMBOLDT-VIADRINA Governance Platform e
NewClimate Institute), Índia (The Energy and Resources Institute), Indonésia
(Institute for Essential Service Reform), México (Initiativa Climática de
México), África do Sul (Energy Research Center/University of Cape Town) e Reino
Unido (Overseas Development
Institute).
O
Centro Clima foi criado em 2000 por intermédio de um convênio firmado entre o
Ministério do Meio Ambiente e a COPPE/UFRJ. Tem participado ativamente no
desenvolvimento de políticas públicas e reforço da capacitação nacional e internacional
de atores sociais diversos quanto a ações de mitigação e adaptação às mudanças
climáticas, com foco na elaboração de inventários de gases de efeito estufa
municipais e estaduais, construção e análise de cenários de mitigação, projetos
inovadores de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e adaptação dos pequenos
produtores rurais ao aumento das secas devido a mudanças do clima.
O
relatório Brown to Green foi tornado
possível pelo apoio do Stiftung Mercator, do Banco Mundial e da European
Climate Foundation.