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sexta-feira, 7 de outubro de 2016

O que se deve seguir às eleições municipais





Entretanto, não será a repercussão desejada pelo povo brasileiro. Basta verificar o número de brancos e nulos: a atual forma de representação democrática está longe de atender às necessidades dos representados. 

Resulta que as mudanças do atual governo não podem se limitar à salvação econômica do País, até porque a governança da coisa pública envolve um complexo de aspectos interdependentes que, se não devidamente abordados, provocam apenas transformações "meia-sola", cujos resultados efetivos não podem ser contabilizados para o bem da nação. A reforma política é imprescindível, se desejamos melhores ventos em 2018. 

A única reforma que impactou as últimas eleições refere-se ao financiamento  das campanhas.  É preciso, ainda, algum tempo para uma análise responsável do fenômeno. Sabemos que, além do já citado grande número de votos inválidos, muitas reeleições pretendidas se frustraram e foi baixo o número de renovação das Câmaras Municipais. Frutos bons e maus, a examinar. 

O primeiro ponto antes das eleições de 2018 seria a implementação do parlamentarismo. Não mais o presidencialismo e, sobretudo, o presidencialismo de coalizão. O parlamentarismo foi demonizado por já desaparecidos líderes carismáticos, ou pseudo-carismáticos nacionais, que pretendiam investir-se em fortes poderes da presidência - e cujos resultados nefastos foram demonstrados por nossos dramas republicanos. 

A utilização do golpe do parlamentarismo por forças militares, para impedir a posse  plena de Jango Goulart, que se encontrava na República Popular da China, quando da renúncia de Jânio Quadros, tem servido, no Brasil, a críticas contundentes contra o Parlamentarismo; ainda aqueles que o defendem o fazem quase sem nenhum empenho. Pouco nos dá, na maioria dos Países do mundo, é o sistema adotado, sem a mínima inclinação desses povos pelo Presidencialismo irracional. 

A velocidade dos fatos sociais e políticos contemporâneos é incompatível com a lenta movimentação do sistema presidencial; suas crises cíclicas e inevitáveis reclamam medidas de solução urgentes, nada parecidas com o doentio modelo de impeachment de que  acabamos de sair. Dissolve-se o Gabinete de governo e corrige-se o rumo da caminhada pública; se mais aprofundada a crise, o Chefe de Estado dissolve o Parlamento e convoca novas eleições gerais. Nada mais consentâneo com a vida complexa e cambiante do século XXI. Há modos típicos de parlamentarismo, que poderiam, se houvesse boa fé, ser estudados pela "intelligentsia" brasileira e por representantes da classe política e de corporações públicas idôneas. 

Necessariamente o parlamentarismo há de ser complementado pelo voto distrital misto. Um voto no candidato do distrito e outro na lista. Esta talvez não lograsse ser composta por partidos nanicos ou de aluguel, segundo as condições, rito e prazos legais e, nessa hipótese, o partido não poderia concorrer. Há fórmulas que podem ser concebidas para tirar da cúpula partidária o poder discricionário de escolher os componentes da lista e abrir à sociedade possibilidades de indicação. Se partidos inexpressivos fenecem, os mais representativos e autênticos recebem legitimação prévia das forças sociais mais expressivas. Com certeza caminharemos para um número muito menor de partidos e que não sejam grupelhos patrimonialistas. 

Por fim, o "recall". Exatamente a providência que se adota em automóveis, com a remoção e substituição da peça. Os integrantes de quaisquer dos três poderes poderiam ser afastados pela vontade popular, titular da mais incontrastável soberania, por um número considerado expressivo e realista. O representante do povo que tenha chafurdado nos pantanais que circundam a ética política seriam prontamente afastados. Nada de novo. 

Encontramos penalidades dessa natureza no Código de Hamurabi e nas leis romanas. Parece que o conhecimento humano criou notáveis fórmulas de conforto, mas, concomitantemente, sistemas jurídicos grotescos. 




Amadeu Roberto Garrido de Paula - advogado e poeta. Autor do livro Universo Invisível e membro da Academia Latino-Americana de Ciências Humanas.  






O eleitor das capitais nas eleições de 2016



As pesquisas eleitorais de intenção de voto sobre as eleições municipais mostravam o que se confirmou nas urnas: o segundo turno em Curitiba. A dúvida maior na reta final estava em quem disputaria o segundo turno com o candidato Rafael Greca: Fruet ou Leprevost? É fato que a reeleição do atual prefeito Gustavo Fruet se mostrava comprometida desde julho de 2015, quando sua gestão foi desaprovada por 62% dos curitibanos, segundo a pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas. De lá para cá ele não conseguiu reverter esse quadro de insatisfação e, pior, se colocou como o candidato de maior rejeição eleitoral entre os eleitores da capital.

Podemos presumir que o atual prefeito e outros que tentavam a reeleição estão provando daquilo que Nicolau Maquiavel, filósofo italiano do século XV, alerta no livro O Príncipe: “conquistar o poder é fácil, difícil é conservá-lo”. Sobretudo nos dias de hoje em que a reeleição para os prefeitos está se tornando cada vez mais difícil. É o que mostrou em 2013 o levantamento feito pelo Valor Data, a partir do cruzamento de dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Naquele levantamento o índice de reeleição dos prefeitos no país desabou consideravelmente, entre 2004 a 2012, nos 100 municípios que mais evoluíram no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Em 2004 o índice de reeleição foi de 82%; em 2008, caiu para 68% e em 2012, para 48%.

Portanto, nas eleições de 2 de outubro se consumou algo já esperado. Entre as 26 capitais, 18 terão o segundo turno, entre as quais estão Curitiba, Goiânia, Vitoria, Belo Horizonte, Porto Alegre, Campo Grande, Aracaju, Rio de Janeiro e Florianópolis. Aliás, estas são as dez capitais que lideram o ranking de bem-estar urbano no Brasil, publicado dia 27 de setembro, de acordo com o levantamento do Observatório das Metrópoles e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dentre os indicadores de qualidade analisados neste levantamento estavam mobilidade urbana, condições ambientais, condições habitacionais, serviços coletivos urbanos e infraestrutura.         

Ou seja, esses dados confrontados aos resultados das urnas nas disputas para prefeitos em 2016 mostra a boa tendência do eleitor nas capitais em exigir cada vez mais dos governantes que tentam a reeleição ou que indicam possíveis sucessores no governo. E que sirva de lição para os prefeitos vencedores deste ano.



Doacir Gonçalves de Quadros -  professor de Ciência Política e do mestrado acadêmico em Direito do Centro Universitário Internacional Uninter.


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