Dr. Marcelo
Valadares, neurocirurgião funcional e pesquisador da Unicamp, destaca que
avanços podem trazer novas perspectivas para os pacientes
A incorporação de novas tecnologias na prática
médica e o avanço na compreensão dos mecanismos da doença têm reestruturado o
cuidado e manejo clínico da doença de Parkinson. Um dos principais avanços
nesse sentido é o ultrassom focalizado, uma terapia que possibilita
intervenções menos invasivas e mais adaptadas às necessidades individuais do
paciente.
Esta, que é a abordagem terapêutica mais recente
para a doença de Parkinson, consiste em um procedimento cirúrgico, porém sem
incisões, ou seja, sem cortes. Por meio de um transdutor, ondas sonoras de alta
intensidade são direcionadas a uma área milimétrica do cérebro, elevando a
temperatura até ‘destruir’ com precisão um núcleo, que nada mais é do que um
aglomerado de neurônios relacionado aos tremores.
“É uma alternativa avançada, que exige um
mapeamento complexo e teste de procedimento, pois é uma lesão permanente e que
pode trazer benefícios por alguns anos”, explica o Dr. Marcelo Valadares,
neurocirurgião funcional e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia na
Unicamp.
Chamado de ultrassom focalizado (FUS), o tratamento
é indicado especialmente para pacientes com tremor essencial predominante em um
dos lados do corpo, mas também pode ser recomendado para alguns casos de doença
de Parkinson, nos quais esse sintoma é o mais evidente e igualmente mais
intenso em um dos hemisférios. Nesses casos, a técnica tem se mostrado eficaz,
proporcionando alívio quase imediato dos tremores, podendo melhorar a qualidade
de vida de forma significativa. Além disto, os riscos associados ao
procedimento são mínimos.
Para o Dr. Valadares, a redução do tremor —
especialmente quando afeta o lado dominante do corpo — proporciona uma melhora
substancial na coordenação motora, restaurando a autonomia dos pacientes e
elevando sua qualidade de vida. “É uma nova alternativa, ainda destinada a um
grupo restrito de pessoas que não desejam ou não apresentam condições clínicas
para se submeter a uma cirurgia de neuromodulação”, reflete o médico.
“Um dos principais benefícios do ultrassom
focalizado é a redução imediata do tremor, já perceptível logo após o
procedimento. A recuperação costuma ser rápida. Estudos indicam uma taxa média
de sucesso em torno de 60%, especialmente entre os pacientes que se enquadram
nos critérios para a técnica”, complementa.
DBS e produodopa: tratamentos continuam a evoluir
Inovações como a estimulação cerebral profunda
(DBS), a administração de produodopa e o ultrassom focalizado aprimoram os
métodos já consolidados e abrem caminho para terapias mais precisas e
personalizadas. Essas abordagens atuam diretamente sobre um ou mais sintomas
motores, minimizam os efeitos da progressão da doença e promovem maior
qualidade de vida e autonomia aos pacientes.
Com submissão prevista à Anvisa em 2025, a
produodopa é uma nova formulação da levodopa – principal medicamento usado no
tratamento da doença de Parkinson – administrada por meio de uma bomba
subcutânea, ou seja, aplicada sob a pele, o que dispensa a necessidade de
procedimentos mais invasivos como a gastrostomia (abertura no estômago para
introdução de sonda).
A infusão contínua ao longo de 24 horas ajuda a
manter níveis mais estáveis do medicamento na corrente sanguínea, o que reduz
as oscilações motoras comuns nas fases avançadas da doença.
Segundo o neurocirurgião, a produodopa é
especialmente promissora por prolongar a chamada “janela terapêutica” – período
em que o paciente responde bem à medicação – e por reduzir sintomas como
flutuações motoras, em especial por permitir o fornecimento da medicação de
forma mais linear. “Desta forma, o tratamento tende a proporcionar mais
estabilidade motora e maior independência aos pacientes”, afirma o Dr.
Valadares.
Abordagem consolidada no manejo dos tremores da
doença de Parkinson, a estimulação cerebral profunda (DBS), tem passado por um
processo contínuo de aprimoramento técnico. Com a seleção do paciente ideal, os
resultados dessa terapia neuromodulatória aliviam os estágios mais avançados da
doença.
A aplicação desse tratamento é especialmente útil
para pacientes que sofrem, no Parkinson com flutuações motoras ou intolerâncias
aos efeitos colaterais das medicações. “Muitos pacientes passam a maior parte
do seu tempo em casa por medo de travar no meio do caminho e por ter o risco de
queda aumentado. Reduzir esse sintoma é um modo de reinserir essa pessoa na
vida social, aumentando sua qualidade de vida”, analisa o médico.
"Se compararmos todas as terapias avançadas, a
DBS ainda é o principal tratamento para a doença de Parkinson em estágio avançado.
Embora se trate de um procedimento cirúrgico e envolva o implante de um sistema
de estimulação, sua capacidade de controlar diversos sintomas motores como
rigidez, tremores e lentificação generalizada, além da possibilidade de ajustes
nas configurações ao longo dos anos, permanece imbatível a médio e longo
prazo", complementa o especialista.
Segundo o Dr. Valadares, os tratamentos mais
recentes são boas alternativas, mas com papéis específicos. "O ultrassom
focado é menos invasivo e tem efeito rápido, porém se restringe a pacientes
cujo único sintoma debilitante é o tremor, sendo indicado apenas para um dos
lados do corpo. Já a produodopa, que deve chegar ao país ainda este ano, apesar
de também exigir um dispositivo implantável, é mais simples e pode ser
utilizada por pessoas sem condições clínicas de suportar uma cirurgia,
permitindo o controle de manifestações motoras além do tremor, embora possa
apresentar um custo elevado no médio e longo prazo", finaliza.
A ampliação do acesso a esses tratamentos é fundamental para atender um número maior de pacientes e oferecer novas possibilidades terapêuticas para a recuperação da autonomia e qualidade de vida. “É crescente a expectativa de que o acesso a essas inovações sejam incorporadas de maneira mais ampla na prática clínica. Medidas que acelerem o acesso a esses tratamentos são sempre bem-vindas”, conclui o doutor.
Dr. Marcelo Valadares - médico neurocirurgião funcional e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A Neurocirurgia Funcional é a sua principal área de atuação. Seu enfoque de trabalho é voltado às cirurgias de neuromodulação cerebral em distúrbios do movimento, cirurgias menos invasivas de coluna (cirurgia endoscópica da coluna), além de procedimentos que envolvem dor na coluna, dor neurológica cerebral e outros tipos de dor. O especialista também é fundador e diretor do Grupo de Tratamento de Dor de Campinas, que possui uma equipe multidisciplinar formada por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e educadores físicos. No setor público, recriou a divisão de Neurocirurgia Funcional da Unicamp, dando início à esperada cirurgia DBS (Deep Brain Stimulation – Estimulação Cerebral Profunda) naquela instituição. Estabeleceu linhas de pesquisa e abriu o Ambulatório de Atenção à Dor afiliado à Neurologia.
www.marcelovaladares.com.br
Instagram: @drmarcelovaladares
Facebook: facebook.com/drmarcelovaladares
Nenhum comentário:
Postar um comentário