Agora com foco também nos riscos psicossociais, a nova redação da norma busca fortalecer a saúde mental no trabalho e começa a valer este ano de forma educativa
No ano de 2024, o Brasil registrou o maior número de afastamentos do trabalho por ansiedade e depressão em 10 anos, com mais de 470 mil trabalhadores impossibilitados de trabalhar. Os dados são do Ministério da Previdência Social e refletem uma realidade que pode estar próxima de ter uma mudança significativa. Isso porque, a partir de 26 maio, entra em vigor uma atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que estabelece diretrizes gerais sobre saúde e segurança no trabalho.
A inclusão dos fatores de risco
psicossociais no ambiente de trabalho, por meio do Gerenciamento de Riscos
Ocupacionais (GRO), entrará em vigor em 26 de maio apenas em caráter educativo
e orientativo. O objetivo é dar tempo para que as empresas se adaptem à nova
exigência antes do início da fiscalização oficial, prevista para maio de 2026.
A partir dessa data, o descumprimento poderá resultar em multas de até R$ 6
mil. A norma define como riscos psicossociais situações como metas abusivas,
assédio moral, jornadas exaustivas, falta de apoio da organização, conflitos
entre colegas e condições precárias de trabalho.
Por que a atualização
da NR-1 é importante para os trabalhadores
Segundo Rennan Vilar, diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional, para os trabalhadores, a atualização da norma significa uma conquista importante no que diz respeito à qualidade de vida profissional e à valorização do bem-estar emocional no dia a dia das empresas. “A nova NR-1 coloca a saúde mental no mesmo patamar da segurança física no ambiente de trabalho. Isso é um divisor de águas na forma como o mercado deve lidar com as pessoas”, afirma Vilar.
Para o especialista, ao reforçar a responsabilidade das empresas com a saúde mental, a NR-1 garantirá mais segurança, dignidade e respeito no ambiente de trabalho. Se levada a sério, a nova redação da norma pode gerar impactos positivos para os trabalhadores como:
·
Redução de riscos de burnout, estresse e ansiedade;
·
Ambientes mais acolhedores e empáticos;
·
Maior abertura para falar sobre saúde emocional;
·
Prevenção de práticas abusivas e adoecedoras;
· Mais equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
De acordo com
Vilar, a expectativa é que, com a implementação da nova NR-1, mesmo na fase
educativa, as empresas se tornem aliadas na construção de uma sociedade mais
saudável, justa e humanizada. “A partir de maio, as empresas terão de parar de
negligenciar a saúde mental do colaborador e se preparar para tratar o assunto
com mais prioridade”, endossa.
O que
muda com a nova NR-1 na prática
Neste ano, a norma
estabelecerá orientações para que todas as empresas, independentemente do porte
ou setor, passem a considerar os riscos psicossociais nas suas análises e
planos de prevenção. Isso impacta diretamente a forma como o RH atua dentro das
organizações. Segundo Rennan, entre os principais impactos da atualização,
destacam-se:
·
Inclusão de fatores psicossociais nas avaliações de risco
ocupacional;
·
Capacitação dos colaboradores com foco em saúde mental,
integrando esse tema aos treinamentos de segurança;
·
Promoção de uma cultura organizacional mais saudável e segura,
com práticas que previnam assédio, discriminação e sobrecarga.
· Em 2026: responsabilização mais clara das empresas em casos de adoecimento psicológico relacionado ao ambiente de trabalho;
Segundo Vilar,
essa nova abordagem exige que o setor de Recursos Humanos deixe de ser apenas
operacional e passe a ter papel mais ativo na construção de ambientes
emocionalmente seguros, mais alinhado às práticas de Pessoas e Cultura.
“Estamos falando de uma mudança estrutural, que exige escuta ativa, revisão de
processos e o engajamento da liderança em todos os níveis. O RH precisa atuar
como agente de transformação cultural”, defende.
Como
identificar e prevenir riscos à saúde mental no trabalho
Um dos maiores
desafios das empresas é identificar sinais de adoecimento mental antes que eles
evoluam para quadros mais graves. De acordo com Vilar, essa prevenção começa
com a criação de um ambiente de confiança e acolhimento. “Mapear riscos
psicossociais é muito mais do que aplicar uma pesquisa de clima. É preciso
observar comportamentos, mudanças de humor, queda de produtividade e sinais de
desconexão. E, principalmente, ter canais seguros para que as pessoas possam
relatar o que estão sentindo”, explica o diretor.
Para Vilar,
algumas ações no âmbito de sensibilização e conscientização sobre o assunto,
para além dos trâmites burocráticos, podem ser rodas de conversa com equipes
multidisciplinares, escuta ativa com profissionais de saúde mental, treinamentos
sobre inteligência emocional e empatia, acompanhamento próximo da jornada dos
colaboradores e avaliação contínua do clima organizacional.
Cultura
organizacional precisa se adaptar à nova realidade
Além de ações
pontuais, a atualização da NR-1 exige uma reavaliação profunda da cultura das
empresas. Práticas que antes eram normalizadas, como longas jornadas, metas
inatingíveis e ambientes de alta competitividade, agora são entendidas como
potenciais causadoras de danos à saúde mental. “É fundamental que as empresas
revejam suas políticas internas e entendam que produtividade não pode ser
conquistada à custa do adoecimento. Precisamos estimular relações de trabalho
baseadas em confiança, colaboração e respeito aos limites individuais”, destaca
Vilar. O especialista ressalta ainda que o papel das lideranças é central nesse
processo. “O exemplo vem de cima. Líderes precisam ser preparados para
identificar sinais de alerta e conduzir conversas difíceis com responsabilidade
emocional”, afirma.
Segundo o profissional, não é mais aceitável delegar o cuidado com a saúde mental como se fosse uma pauta exclusiva do RH ou tentar resolver questões profundas com soluções superficiais. “Com a nova NR-1, as empresas são chamadas a encarar de frente os fatores que contribuem para o adoecimento dos colaboradores. E, em muitos casos, esses fatores estão enraizados na própria cultura organizacional”. Para Vilar, é tempo de repensar:
- Estilos
de liderança que operam pelo medo e pela intimidação;
- Práticas
que exaltam a sobrecarga como se fosse sinônimo de comprometimento;
- Contextos
em que o silêncio diante do sofrimento é a regra;
- Posturas
autoritárias disfarçadas de gestão firme.
Mais
saúde, mais produtividade
Embora a nova NR-1 traga apenas orientações, ela também representa uma oportunidade estratégica para as empresas que desejam se destacar pela valorização de seus talentos. Colaboradores mais saudáveis, emocionalmente equilibrados e bem cuidados tendem a apresentar maior engajamento, menor rotatividade e melhores resultados.
“Essa mudança na NR-1 vem nos lembrar que cuidar das pessoas não é apenas uma questão ética, mas também inteligência do ponto de vista organizacional. Saúde mental é produtividade, é retenção de talentos, é diferencial competitivo”, conclui Vilar.

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