Marcelo Mattoso, especialista em Direito Digital, analisa o impacto da nova legislação e suas conexões com a cultura digital dos jovens diante de séries como ‘Adolescência’, da Netflix
A recente implementação do Marco Legal dos Jogos Eletrônicos
traz à tona um dos maiores desafios da era digital: a proteção de adolescentes
no ambiente virtual dos games. Embora o universo dos jogos online seja amplamente
visto como uma forma de lazer, ele também se torna uma arena onde questões
jurídicas e de segurança digital se entrelaçam de maneira complexa.
Recentemente,
o caso de um jogador do popular jogo Free Fire foi levado ao
Superior Tribunal de Justiça (STJ), após sua conta ser suspensa permanentemente
por usar software não autorizado para obter vantagens no jogo.
O STJ manteve a decisão das instâncias inferiores, reforçando que as regras do
jogo, aceitas pelo usuário ao criar a conta, são válidas juridicamente. Para Marcelo
Mattoso, sócio do Barcellos Tucunduva Advogados,
essa decisão é um reflexo do que está por vir com a implementação do Marco
Legal.
“Embora o Marco Legal traga melhorias significativas, especialmente na
proteção dos adolescentes, ele precisa ser equilibrado. A suspensão de contas
como no caso do Free Fire mostra que as regras devem ser claras e
transparentes para garantir que os jogadores compreendam os limites das
plataformas. A proteção dos menores não pode ser confundida com limitações
exageradas. As empresas precisam seguir critérios bem definidos e
transparentes”, comenta Mattoso.
A
discussão sobre segurança digital e proteção dos adolescentes ganha força,
especialmente quando se leva em conta dados que demonstram o aumento da participação
de jovens na indústria dos jogos. Em 2025, o mercado global de jogos eletrônicos é
projetado para movimentar mais de US$ 227 bilhões, com o mobile gaming
representando 52% desse total. Além disso, uma pesquisa da National
Institutes of Health revelou que cerca de 70% dos adolescentes entre 13 e
17 anos jogam online, dedicando uma média de 5 a 7 horas semanais a essa
atividade.
O
crescente envolvimento de jovens no universo digital traz questões sobre
privacidade de dados e monetização agressiva nos jogos. Estima-se
que cerca de 60% dos jogadores se sintam desconfortáveis com a quantidade de
dados coletados pelas plataformas de jogos, sem consentimento explícito.
A série Adolescência, da Netflix, expõe de forma impactante como muitos
jovens lidam com o vício digital e os desafios da interação online. A trama de Adolescência
aborda o comportamento dos adolescentes em plataformas digitais, evidenciando
como a exposição constante a jogos e redes sociais pode influenciar sua saúde
mental e bem-estar.
Neste
cenário, o Marco Legal surge como uma tentativa de estabelecer regulamentações
mais rígidas para a segurança digital de menores. Isso pode incluir limitações
de tempo e um controle mais rigoroso sobre a monetização de itens virtuais. As
plataformas poderão ser obrigadas a tornar mais claras as políticas de
reembolso de saldo de moeda virtual e as penalidades aplicadas aos jogadores,
impactando a forma como empresas como Garena, responsável pelo Free Fire,
lidam com a comunidade de gamers.
Além
da segurança, o Marco Legal também aborda questões de transparência nas
penalidades e proteção contra conteúdo prejudicial. Mattoso
destaca a importância de uma regulamentação que não só proteja os menores, mas
que também preserve a liberdade de desenvolvedores e a experiência dos jogadores.
"O aumento da popularidade dos jogos cria uma pressão crescente para que
os desenvolvedores implementem sistemas mais seguros, sem comprometer a
experiência de jogo. As regras precisam ser claras e a proteção contra comportamentos
predatórios deve ser uma prioridade", afirma Mattoso.
O
recente aumento da popularidade de jogos como Fortnite, League of
Legends e Call of Duty só reforça a importância de medidas que
garantam a segurança dos jogadores, especialmente os mais jovens, que
frequentemente interagem com estranhos em plataformas online. O perigo de
vírus, phishing e fraudes digitais também aumenta à medida que os jogos se
tornam mais sofisticados.
O que esperar do Marco Legal dos Jogos Eletrônicos
para o futuro?
✔ Controle
mais rigoroso sobre a monetização de itens virtuais, com foco
na proteção dos menores de idade que realizam compras dentro dos jogos.
✔ Regulação
de dados e segurança, com maior atenção à privacidade dos
jogadores, especialmente os adolescentes.
✔ Transparência
nas penalidades, com regras mais claras sobre o que constitui
infrações nos jogos online.
✔ Proteção
contra conteúdo prejudicial, com fiscalização reforçada sobre o
tipo de material acessado pelos jogadores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário