Agenda do
Fórum LGPD 2025 destaca item como um dos pontos-chave para promover a segurança
jurídica e a inovação no ambiente de negócios
Uma maior harmonização regulatória é fundamental
para garantir a eficiência e a segurança do ambiente de negócios brasileiro.
Essa é a conclusão de entidades, autoridades e especialistas reunidos na última
terça-feira (11) pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do
Estado de São Paulo (FecomercioSP), na sede da Entidade, em São Paulo.
Todos concordam que é primordial trabalhar para que o conjunto de legislações
existentes seja mais convergente, evitando insegurança jurídica e entraves à
inovação.
Esse foi o teor do debate do evento LGPD, Cibersegurança e Governança de IA,
realizado pelo Conselho de Economia Digital e Inovação da FecomercioSP e pelo Fórum
Empresarial LGPD, com os apoios da Associação Brasileira das Empresas de
Software (Abes) e do Instituto Nacional de Combate ao Cibercrime (INCC).
A ocasião marcou o lançamento da Agenda Prioritária do Fórum para 2025,
documento assinado por 27 entidades, de diversos setores da economia,
refletindo as preocupações e sugestões do setor privado para a Agência Nacional
de Proteção de Dados (ANPD). O material reúne nove pontos que devem ser
tratados como prioritários pela Autoridade [confira a lista completa abaixo].
“A digitalização da economia já não é um fenômeno restrito às grandes
corporações”, apontou o presidente em exercício da FecomercioSP, Ivo Dall’Acqua
Júnior, na abertura do evento. “Esse processo afeta diretamente negócios de
todos os portes e segmentos. Frente a essa realidade, precisamos discutir os
seus impactos e buscar aprimoramentos que garantam um ambiente econômico
sustentável e competitivo”, completou.
Dentre as principais demandas apresentadas, destacam-se a necessidade de normas
convergentes, fundamentais para garantir a segurança jurídica e a
sustentabilidade do ambiente de negócios nacional. Um dos maiores desafios
enfrentados pelas empresas é a complexidade do atual cenário regulatório,
marcado por uma grande quantidade de estratégias, marcos legais e regulações
setoriais, que geram custos de conformidade, barreiras à inovação e falta de
clareza.
De acordo com Dall’Acqua Júnior, a complexidade regulatória afeta diretamente a
dinâmica dos setores do Comércio e dos Serviços, especialmente no que diz
respeito à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), à cibersegurança e à
Inteligência Artificial (IA). De acordo com ele, a regulação deve ser
proporcional ao risco, assegurando proteção sem sufocar a inovação. “O nível de
intervenção regulatória não pode sobrepor o exercício livre da atividade
econômica. Regulamentar não pode significar burocratizar ou impedir avanços
necessários ao desenvolvimento do País. O caminho para um Brasil mais inovador
passa por uma regulação inteligente”, disse.
Essa preocupação também é compartilhada por outros especialistas do setor. Para
Rony Vainzof, secretário-geral do Fórum e consultor de Proteção de Dados da
FecomercioSP, as normas já existentes — e as que ainda estão em debate —, como
as relacionadas à IA, precisam ser convergentes, eliminando redundâncias e
conflitos que dificultam a transformação digital eficaz. Já Andriei Gutierrez,
presidente do Conselho de Economia Digital e Inovação da Federação, enfatizou
que a ausência de uma organização institucional sólida para orientar o Brasil
nesse processo é um dos principais entraves para a harmonização das normas.
Segundo ele, diversos órgãos desenvolvem políticas públicas para a
transformação digital, mas não se comunicam entre si.
“O Congresso cria regulamentações sobre temas digitais, mas muitas vezes não há
diálogo com o Executivo. O Judiciário também interfere, legislando e julgando
de acordo com as próprias ordens, o que impacta a regulação do cenário digital.
No entanto, não há um debate sobre o futuro que queremos para o país.”
Gutierrez ainda ressaltou a importância de um engajamento mais amplo do Poder
Público, abrangendo os três poderes — Executivo, Legislativo e Judiciário —
nessas pautas. “Precisamos de um projeto coletivo de nação para avançar”,
destacou.
Essa falta de coordenação também se reflete na postura do Estado brasileiro
frente aos desafios regulatórios, como a proteção de dados pessoais. Marcelo
Malagutti, assessor especial do ministro do GSI, pontuou que o Brasil costuma
adotar uma abordagem reativa. Normalmente, é a mudança no comportamento da
sociedade ou nas tecnologias que faz o Estado reagir, o que gera lacunas e
contribui para a proliferação de regulações desarmônicas, criando um ciclo
contínuo de respostas improvisadas.
Malagutti também explicou que a proposta de criação de uma Agência Nacional de
Cibersegurança é um caminho para começar a unificar e melhorar esse cenário. “A
partir do momento que tivermos um agente regulador capaz de harmonizar e
integrar tudo isso, estabelecendo uma base comum, será mais fácil do que é
hoje. É claro que alguns setores terão regras específicas, em razão das suas
particularidades, mas, com um regulador que organize tudo e forneça uma base
sólida, a situação será mais clara, e não o contrário.”
A proteção de dados pessoais, a cibersegurança e a IA não são apenas desafios
pontuais, mas pilares essenciais para a sustentabilidade do ambiente digital.
Nesse contexto, o fortalecimento da ANPD é considerado crucial, pois uma
autoridade bem estruturada é a chave para a implementação eficaz das políticas
de proteção de dados, capaz de lidar com as complexidades do atual ambiente
regulatório.
“O fórum surgiu com o objetivo de promover a segurança jurídica da LGPD — e
temos reforçado, há muito tempo, a importância do fortalecimento da ANPD para
garantir essa segurança. O tratamento e a proteção de dados pessoais são cada
vez mais relevantes para a economia global. Se os dados são a moeda da economia
digital, a segurança jurídica é importante para gerar valor a partir dessas
informações. Em outras palavras, dependemos de uma atuação eficiente e do
fortalecimento da ANPD, pois, sem isso, não é possível assegurar essa segurança
jurídica”, disse Vainzof.
Quando se trata de crimes cibernéticos, o cenário é igualmente preocupante, com
impactos significativos para empresas e para a sociedade. De acordo com dados
do INCC, as violações de dados causam prejuízos econômicos de até R$ 2,3
trilhões, o equivalente a 18% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Além das
perdas financeiras, as consequências se estendem à renda e ao emprego, com
cerca de 2,5 milhões de postos de trabalho perdidos anualmente em decorrência
desses incidentes.
Se, por um lado, a proteção jurídica dos dados só é efetiva quando combinada
com medidas fortes e transversais de segurança digital e governança — capazes
de reduzir riscos e responder de forma ágil a incidentes cibernéticos —, por
outro, pontos centrais para evitar ataques cibernéticos continuam sendo
importantes. Ana Paula Bialer, da Associação das Empresas de Tecnologia da
Informação e Comunicação (TIC), destacou que, segundo estudos, 80% dos
incidentes de cibersegurança detectados em 2023 poderiam ter sido evitados com
medidas simples, como treinamento. “Capacitação e conscientização continuam
sendo as ferramentas mais efetivas para reduzir esses índices de incidentes de
segurança”, concluiu.
Agenda Prioritária do Fórum para 2025
- Fortalecimento
da ANPD para a segurança jurídica: celeridade na realização de concursos
públicos; autonomias institucionais, administrativas e financeiras; e
indicação e aprovação de um novo integrante do Conselho Diretor.
- Elaboração
de diretrizes para a Política Nacional de Proteção de Dados Pessoais e
Privacidade (PNPD): os dados pessoais são ativos estratégicos para os crescimentos
econômico e social, sendo necessário garantir o tratamento ético e
responsável sem gerar obstáculos à inovação.
- Harmonização
regulatória e políticas estruturantes para a transformação digital
brasileira:
políticas públicas e marcos regulatórios convergentes para evitar a
insegurança jurídica.
- Conclusão
da regulamentação de temas iniciados pela ANPD: finalização da discussão
sobre temas como direitos dos titulares, RIPD, definição de risco e larga
escala, garantindo previsibilidade aos agentes de tratamento e titulares
de dados.
- Redução
da burocracia na transferência internacional de dados e garantia da
segurança jurídica: implementação de mecanismos para facilitar o fluxo de dados
pessoais, intensificando a participação em fóruns internacionais e o
relacionamento com países alinhados ao GDPR ou com laços comerciais com o
Brasil.
- Evitar
sobreposição regulatória em Inteligência Artificial: até que o Congresso discuta
a possível coordenação no Sistema Nacional de Regulação e Governança de
Inteligência Artificial (SAI), a participação da ANPD na regulamentação
dos sistemas de IA deve se limitar aos dispositivos da Lei Geral de
Proteção de Dados (LGPD).
- Autorregulação
regulada:
embora alguns setores já tenham lançado ou estejam em fase de elaboração
de códigos de conduta, a ANPD precisa regulamentar o mecanismo de
autorregulação para otimizá-lo.
- Incentivo
à abertura e ao acesso a dados públicos: promoção da cultura de dados abertos e
interpretação harmoniosa da LGPD e da LAI, além de incentivo às
iniciativas de abertura de dados.
- Interpretação
da LGPD pelo Judiciário: estabelecimento de diálogo entre a ANPD, o
Poder Judiciário, o setor privado e a sociedade para consolidar a cultura
de proteção de dados pessoais no Brasil e garantir uma interpretação
harmoniosa da LGPD.
Criado em outubro de 2021 por um amplo grupo de entidades empresariais que se reúnem desde 2020, para ações de promoção de segurança jurídica na aplicação da LGPD e de avanço da cultura da proteção de dados e da privacidade no país. É uma coalizão empresarial multissetorial, apartidária e sem personalidade jurídica própria formada por entidades, associações e confederações empresariais. Desde o início, o Fórum LGPD foi protagonista de importantes iniciativas e políticas públicas para o aprimoramento da segurança jurídica e da cultura da privacidade no Brasil, entre elas, a criação da ANPD, a elevação de proteção de dados pessoais a um direito constitucional e atividade exclusiva da União e a independência da ANPD. O Fórum também tem sido um ativo ator nos temas de regulamentação da LGPD, assim como na promoção de eventos e documentos orientadores para aprimorar a segurança jurídica e a cultura da privacidade no Brasil.
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