Dia 4 de março é o Dia Mundial da
Obesidade
“A relação entre
uma maior incidência de câncer de mama nas mulheres menopausadas com peso
excessivo já é conhecida há algum tempo, e existem pelo menos três mecanismos
suspeitos para este fenômeno”, diz Dr. Felipe Henning Gaia Duarte, endocrinologista
da diretoria da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP).
Segundo o médico,
um dos principais motivos para o aumento na frequência de câncer de mama neste
grupo de mulheres seria o estrogênio (principal hormônio
feminino) produzido pelo tecido gorduroso. O tecido adiposo, a gordura no caso,
não é somente um depósito de energia da alimentação, ele também é considerado
um órgão endócrino pois também produz hormônios, e o estrogênio é um deles.
Somando a predisposição genética para desenvolver um câncer, se uma mulher
está acima do peso, ela tem uma carga maior de estrogênio do que uma mulher
magra, o que pode estimular o desenvolvimento e a doença pode aflorar mais
rapidamente.
O excesso de peso
raramente ocorre sem um desarranjo metabólico, a conhecida
síndrome metabólica da obesidade. Neste cenário, várias pacientes podem exibir
uma inflamação orgânica assintomática, com produção
excessiva de hormônios pró-inflamatórios (citocinas, TNF-alfa, etc). “Esse
quadro inflamatório parece atuar no DNA, alterando genes que suprimem o
surgimento de câncer, levando a um desarranjo no mecanismo de controle da
multiplicação celular de modo que a célula perde a capacidade de se
autorregular e facilitando o desenvolvimento do câncer”, explica o
endocrinologista.
As pacientes com
peso excessivo frequentemente apresentam níveis de insulina mais elevado. Uma
das consequências disto é a possível elevação de um outro hormônio chamado IGF-1.
Este hormônio é principal mediador das ações do Hormônio do Crescimento, aquele
que as crianças produzem para crescer, mas que os adultos também produzem para
ajudar a manter o metabolismo funcionando. “Esse hormônio estimula o
crescimento de células, então numa célula mais propensa a crescer sem controle,
como é a célula tumoral, isso é um estímulo a mais para o seu desenvolvimento”,
comenta Dr. Felipe.
Segundo ele,
existem trabalhos (referências abaixo) documentando que as pacientes acima do
peso têm uma taxa maior de insucesso no tratamento da doença, isso porque o
tecido adiposo, que é grande fonte de hormônio feminino, ‘compete’ com os
medicamentos usados para diminuir esses hormônios.
O endocrinologista
ressalta ainda que a ansiedade causada pelo diagnóstico pode levar essas
pacientes a ‘compensar’ esse transtorno psicológico por meio dos alimentos: é a
comida usada como compensação de prazer, algo como uma válvula de escape para a
tristeza que surge naturalmente com diagnóstico desta doença. Além disso,
muitas acreditam que nessa fase a dieta seria prejudicial ao tratamento e
acabam comendo mais que o necessário “para ficar mais forte”, o que acaba
prejudicando a saúde. “Por isso que o tratamento requer um controle
multidisciplinar, pois a questão psicológica é bem determinante para o sucesso
do tratamento”, finaliza Dr. Felipe.
Segundo dados de
2021 do Instituto Nacional do Câncer (INCA), estimam-se cerca de 66 mil
novos casos de câncer, o que equivale a uma taxa de incidência de 43 casos por
100 mil mulheres. Quanto mais cedo a doença for detectada, mais fácil será
curá-la.
Sugestão de literatura:
Toshiaki Iwase et al. Body composition and breast cancer risk and treatment: mechanisms and impact. Breast Cancer Res Treat. 2021
Kyuwan Lee et al. The Impact of Obesity on Breast Cancer Diagnosis and Treatment, Curr Oncol Rep. 2019
Atilla Engin. Obesity-associated Breast Cancer: Analysis of risk factors
Adv Exp Med Biol. 2017
SBEM-SP Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Estado de São Paulo
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