Após mais de dois anos de conflitos internos, a
Convenção Nacional do Partido Democrata dos Estados Unidos, realizada na última
semana, foi um evento que, embora pareça meramente formal, desempenha um papel
crucial na política americana. Tradicionalmente, as convenções partidárias eram
o momento em que o partido escolhia oficialmente seu candidato presidencial. No
entanto, com a evolução do processo eleitoral e a primazia das primárias, essa
escolha é, na prática, feita com meses de antecedência. Assim, a relevância da
convenção não está mais na escolha do candidato, mas em outros aspectos.
Entre as razões que destacam a importância de
eventos como o que vimos na semana passada está a unificação dos partidos
políticos. Mesmo que o candidato já seja conhecido, é essencial reunir todas as
alas do partido em torno de uma mensagem comum e criar uma frente unida contra
o candidato adversário. Foi exatamente isso que vimos com os discursos do casal
Obama, do casal Clinton e do próprio presidente Joe Biden em apoio a Kamala
Harris.
Mais do que isso, as convenções são momentos de
alta visibilidade na mídia, sendo transmitidas em rede nacional e amplamente
cobertas pela imprensa. Esse alcance massivo é utilizado para mobilizar o
eleitorado, não apenas os membros do partido, mas também os eleitores
independentes e os indecisos. Discursos emocionantes, como os de figuras de
destaque e da própria candidata, são cuidadosamente elaborados para inspirar e
motivar os eleitores a se engajarem na campanha e a comparecerem às urnas.
A convenção também é um momento para o partido
reafirmar sua identidade e os valores que defende. Em um cenário político
polarizado, como o dos EUA, a convenção serve para cristalizar a oposição entre
as visões de mundo dos dois principais partidos, o que é essencial para a
dinâmica eleitoral.
Enquanto isso, em outro ponto do continente
americano, a recente decisão da Suprema Corte da Venezuela de proibir a
divulgação das atas da eleição que supostamente deu vitória a Nicolás Maduro
reflete as complexidades políticas e institucionais do país, onde a democracia
se deteriorou a ponto de não mais existir.
De acordo com o Democracy Index da Economist
Intelligence Unit (EIU), a Venezuela está classificada como um
regime autoritário. O índice, que avalia a democracia em várias dimensões,
incluindo processos eleitorais, liberdades civis e funcionamento do governo,
coloca a Venezuela na posição mais baixa da América Latina. Esse declínio
acentuado está ligado a eleições contestadas, repressão à oposição e controle
estatal sobre o judiciário e a mídia.
A decisão da Suprema Corte deve ser vista à luz do
controle que o Executivo exerce sobre o Judiciário na Venezuela. Instituições
que deveriam ser independentes são frequentemente usadas para legitimar decisões
do governo, minando a confiança pública. A proibição de divulgar as atas
eleitorais, documentos fundamentais para a transparência do processo, reforça a
percepção de que as eleições não foram livres nem justas.
Enquanto países como Uruguai e Costa Rica são
consideradas democracias plenas, com alta transparência e processos eleitorais
confiáveis, a Venezuela se assemelha mais a regimes autoritários que manipulam
as eleições para manter o poder. Essa situação também é refletida no índice da Freedom House
Index,
que classifica a Venezuela como "Não Livre", indicando severas
restrições às liberdades políticas e civis.
A não divulgação das atas serve como um indicador
de um estado que se distancia cada vez mais das práticas democráticas
reconhecidas internacionalmente. A longo prazo, essa falta de transparência
pode consolidar um regime autoritário e dificultar qualquer tentativa de
transição pacífica pós-Maduro.
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