Vivemos em uma época peculiar. Enquanto a tecnologia avança, as oportunidades se amplificam para as novas gerações. Em outro artigo, cite a geração atual como “floco de neve”, mas fiz questão de mostrar o quanto – em vários aspectos - são mais beneficiados do que fomos. “Hashtag Inveja”? Para muitas coisas, sim! Para outras, neutralizando o cinismo de maneira momentânea, me resta preocupações.
Acredito que
uma das preocupações mais pulsantes é sobre a intolerância à crítica e
necessidade quase patológica de validação. Alguns especialistas apontam o
dedo para a criação em ambientes superprotetores, o que afasta muitos jovens de
enfrentarem verdadeiras dificuldades. Enquanto Pai, confesso que há uma grande
dubiedade entre o que sei que devo fazer e o que quero fazer. Nós estamos
sempre nos esforçando para poupar do fracasso, da rejeição, da pressão, mas é
justamente em ambientes de criticidade que evoluímos. Ou não? Sem essas
experiências chegaríamos à vida adulta despreparados -mais ainda- para os
rigores do mercado de trabalho, dos relacionamentos e, consequentemente, a
equalização utópica dos coitadismos, nos afastaria completamente de qualquer
aptidão mínima de para os desafios da liderança.
Certo. Até
aqui, arroz com feijão. Eu sei, tu sabes, ele sabe, nós sabemos. No entanto, a
história nos ensina que é precisamente em tempos de crise e em estados de
exceção que os verdadeiros líderes emergem. Líderes são forjados no fogo das
adversidades, nas batalhas contra a incerteza e o medo. O líder não nasce no
parquinho do condomínio fechado, mas na necessidade de agir quando todos os
outros hesitam. Historicamente, o líder nasce quando a normalidade é interrompida
e há uma necessidade urgente de que alguém assuma a responsabilidade.
Puxa a
cadeira aí e vamos olhar pra trás. Historicamente, líderes emergem em momentos
de caos e incerteza. Winston Churchill, por exemplo, se destacou durante a
Segunda Guerra Mundial, quando a Grã-Bretanha enfrentava a ameaça existencial
do nazismo. Lincoln liderou os Estados Unidos durante a Guerra Civil em uma das
épocas mais divisivas da história do país. Pausa para explicação. Não importa o
que você aprendeu na escola, esses líderes não eram apenas políticos, eram
figuras que entenderam que seus papéis eram necessários naquele momento. Alguém
tinha que fazer.
O estoicismo
prega a resistência às paixões e a aceitação dos eventos como parte de um todo
maior. Isso não significa se tornar uma máquina de metal. O estoicismo é
praticamente a discussão da solução e não do problema. Pra frente que atrás vem
gente. Mas assim também não deve ser a vida? Crises são inevitáveis e as
pessoas estão sempre buscando com os olhos a quem seguir. Há uma ânsia tremenda
por egrégora, por participar de uma tribo, por pertencimento, isto é essência
da humanidade e em momentos de fragilidade de caráter e força como o que
vivemos, qualquer mediano com o tom de voz certo pode vir a se tornar um
espelho para muitos e é aqui que mora o temor maior, o qual pretendo
compartilhar.
Vivemos em
uma idiocracia embasbacada por uma cortina de fumaças onde as fragilidades se
sobrepuseram às necessidades de olhar para o futuro com os pés no presente.
Relacionamentos e ideais extremamente líquidos. A minha reflexão não tem a ver
com a geração z, y ou beta. Tem a ver com a obviedade de que nossas escolhas,
inclusive filosóficas, tem a ver com referências. Escolhemos sempre o caminho
menos pior. Nossa medição é sempre referencial e comparativa e, isso, meu
amigo, it’s a fucking problem. As habilidades de liderança estão sendo
medidas com réguas de notas que não passariam em uma prova do primário.
A minha
reflexão não vem como líder ou empresário, ela vem como pai, homem, pensador,
ser existente. Quem guiará e quem será guiado? Algumas vezes penso que estão
mais perdidos que Adão no dia das mães ou, se preferir, que político honesto no
Brasil ou, ainda, que cupim em metalúrgica. Se a matéria-prima principal da
liderança é, de fato, "gente", a equalização crowleyana foi um tiro
no pé. Todos podem tudo, mas ninguém parece se propor a nada. Tal crença foi
disseminada de tal maneira que chegou até aos púlpitos de igrejas, onde Deus é
servo e está ali para atender pedidos da Coitadolândia.
Mas, tudo
bem. Neutralizando o cinismo para encerrar um pouco mais otimista, o líder do
futuro tem muitas armas – positivas - em suas mãos. Ele pode emergir não apenas
em tempos e estados de exceção, mas para conduzir em tempos de paz. De todo modo,
a artificialidade tecnológica não pode sufocar a humanidade de tal ponto que
seres humanos continuem a sentir que o mundo lhes deve algo, assim como a
gestão holística deve entender que equilíbrio é tudo.
A celebração da individualidade não deve ser mascarada
por hipocrisia de bandeiras ideológicas falhas e líquidas e os novos líderes
devem compreender a complexidade dos seres humanos, incluindo sua repleta gama
de adjetivos bons e inacreditavelmente ruins. Despir-se para enxergar a nudez
do próximo, este é o caminho.
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