No Dia Nacional de Combate ao Fumo, a Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) alerta sobre o risco do consumo de cigarros; neste mês, a sociedade médica se posicionou contra o Projeto de Lei do cigarro eletrônico.
Em 29 de agosto é lembrado o Dia Nacional de Combate ao Fumo.
Instituída em 1986, a data foi criada com o intuito de conscientizar a
população sobre os perigos do tabaco e promover ações para reduzir o seu
consumo. No Brasil, dados da pesquisa Vigitel 2023 mostram que cerca de 9,3%
dos adultos brasileiros são tabagistas.
A Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), entidade que
representa os médicos especialistas em diagnóstico do câncer e outras doenças,
alerta que o hábito do uso do cigarro está relacionado a pelo menos 12 tipos de
cânceres. Este grupo é responsável por em torno de 20% de todos os casos da
doença no País.
“Dados mostram que fumantes têm até 10 vezes mais chances de
desenvolver câncer de boca, também o risco é 2 a 4 vezes maior de um fumante
ter câncer de esôfago. No câncer de laringe, a situação é ainda mais crítica,
pois cerca de 90% dos casos estão associados ao tabagismo.”, informa o Dr.
Gerônimo Jr., médico patologista e secretário adjunto da SBP.
O especialista que faz cotidianamente diagnósticos de
cânceres decorrentes do uso do cigarro também explica que próximo de 50% dos
casos de câncer de bexiga em homens e 30% em mulheres estão ligados ao tabaco.
Isso porque produtos com tabaco possuem nicotina, que causa
dependência do fumo, e mais de 4 mil substâncias, sendo a maioria tóxicas e com
potenciais cancerígenos. De acordo com o Dr. Gerônimo Jr., o impacto do tabaco
na saúde é devastador, sendo ainda o principal fator de risco para cânceres
como o de pulmão: “Este tipo de tumor está diretamente relacionado ao tabagismo
em cerca de 85% dos casos”.
Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) indicam que são
estimados 18.740 novos casos
de câncer de pulmão por ano entre os
homens e 12.530 entre as mulheres no Brasil. A doença é o terceiro tipo mais
comum de câncer entre os homens e o quarto entre as mulheres, excetuando o
câncer de pele não melanoma.
Além do câncer de pulmão e os outros já citados, o tabagismo
é relacionado a cânceres de cabeça e pescoço, de rim, colo de útero, fígado,
bexiga, pâncreas, estômago, colorretal e as leucemias mieloides agudas.
Os não fumantes também sofrem com os efeitos nocivos do
tabagismo. O fumo passivo é uma causa importante de doenças respiratórias e
cardiovasculares, além de aumentar o risco de câncer de pulmão em não fumantes.
Crianças expostas ao fumo passivo são particularmente vulneráveis, estando em
maior risco de desenvolver infecções respiratórias, asma e outras complicações
graves.
Políticas de controle do tabagismo - Este mês, diante
da pauta e possibilidade de aprovação do Projeto de Lei (PL) nº 5.008/2023, que
dispõe sobre a produção, importação, exportação, comercialização, controle,
fiscalização e propaganda dos cigarros eletrônicos, no Senado Federal, a SBP
foi signatária de nota oficial contrária à proposta de
mudança na atual regulamentação desse tipo de cigarros no Brasil. O documento
foi encabeçado pela Associação Médica Brasileira (AMB) e assinaram outras 79
entidades científicas.
Atualmente, os chamados “vapes” ou “pods” têm sua venda
proibida no País e, em abril deste ano, a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) ratificou o impedimento. Ainda segundo a Vigitel 2023, em 2023 cerca de 6%
dos adultos brasileiros faziam uso de cigarros eletrônicos, com prevalência na
faixa etária dos 18 aos 24 anos. No entanto, a pesquisa não traz dados sobre o
uso por menores de 18 anos anos, entre os quais especialistas observam o
aumento na utilização.
De acordo com o médico patologista e presidente da SBP, Dr.
Clóvis Klock, um único cigarro eletrônico tem mais nicotina que em torno de 400
cigarros comuns. Além disso, possui produtos químicos que podem causar a
fibrose do pulmão em um ou dois anos, ocasionando a Lesão Pulmonar Associada ao
Uso de Cigarro Eletrônico, doença conhecida pela sigla Evali, havendo até a
necessidade de transplante. “A indústria tem utilizado falácias para estimular
o uso do cigarro eletrônico, inclusive, entre crianças e jovens”, diz.
As sociedades científicas signatárias do documento também condenam
veemente a liberação do uso do cigarro eletrônico com a justificativa de que
haveria o aumento da arrecadação de impostos. “O que temos é a previsão de
arrecadar aproximadamente R$2 a 3 bilhões com possíveis tarifas da
comercialização do cigarro eletrônico. Porém, hoje temos gastos sociais e na
saúde devido ao uso de cigarro de quase R$200 bilhões”, detalha Klock.
Para o especialista, a Lei nº 9.294 de 1996, que proíbe o
consumo de tabaco em locais coletivos e restringe a venda e a propaganda de produtos
fumígeros, é uma das melhores leis anti-tabaco no mundo. No entanto, a proposta
do Senado pode colocar a perder os ganhos que a sociedade brasileira teve com a
Lei.
“Desde a década de 1990, reduzimos o número de fumantes de
cerca de 40% para 10% da população. No entanto, o que vemos é que com o uso do
cigarro eletrônico, houve um aumento no número de fumantes em diversas faixas
etárias. Nosso objetivo é pautar o combate ao contrabando, ao uso e a venda
deste produto”, pontua o presidente da SBP.
Nesse sentido, a sociedade médica também integra a Aliança contra o Câncer de Pulmão,
criada em 2023 a partir da parceria com o Colégio Brasileiro de Radiologia
(CBR), a Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT), a Sociedade
Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), a Sociedade Brasileira de Pneumologia e
Tisiologia (SBPT) e a Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), todas
signatárias da nota oficial encabeçada pela AMB. O objetivo da Aliança é trazer
ao público a cultura da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de pulmão,
na qual o combate ao fumo é fundamental.
“A luta está longe de ser vencida. No Dia Nacional de Combate
ao Fumo, é essencial reforçar a mensagem de que o tabagismo é uma batalha que
podemos vencer. Parar de fumar é a decisão mais importante que uma pessoa pode
tomar para melhorar sua saúde e qualidade de vida”, conclui o Dr. Gerônimo Jr.
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