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quinta-feira, 4 de julho de 2024

Resultados de nova vacina contra a tuberculose são apresentados na FAPESP Week China

À esquerda, pulmão de camundongo não imunizado e infectado
 com 
M. tuberculosis; à direita, pulmão dos animais imunizado
com a vacina BCG recombinante e posteriormente infectados
(
crédito: Instituto Butantan)

Pesquisadores do Instituto Butantan e colaboradores desvendam por que a BCG recombinante induz uma resposta mais intensa e duradoura que a vacina convencional 

 Pesquisadores do Instituto Butantan e colaboradores estão desenvolvendo uma versão mais potente da vacina BCG, que protege contra a tuberculose. Enquanto o imunizante convencional reduziu em 90% a infecção nos experimentos com camundongos, com a chamada BCG recombinante o índice de proteção subiu para 99%. Além disso, a nova formulação protegeu os animais por um período significativamente mais longo.

“A BCG é a primeira vacina que recebemos ao nascer e ela de fato é efetiva na proteção de crianças. Mas a imunidade contra a doença tende a cair na vida adulta e, como as bactérias estão se tornando resistentes aos antibióticos, ninguém está seguro. Tem sido feito um esforço mundial para tentar melhorar a prevenção da tuberculose pulmonar adulta. Hoje são registrados cerca de 10 milhões de novos casos e 1,5 milhão de mortes por ano no mundo”, diz à Agência FAPESP Luciana Cezar de Cerqueira Leite, pesquisadora do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Butantan apoiada pela FAPESP.

Para entender por que a BCG recombinante leva a uma resposta imune mais intensa e duradoura, o grupo do Butantan e colaboradores de diversos países têm adotado uma abordagem conhecida como biologia de sistemas – que resumidamente consiste em observar no modelo animal o comportamento de milhares de genes, em diferentes tecidos (principalmente pulmão e linfonodos), ao longo de toda a montagem da resposta imune. Tal empreitada envolve o sequenciamento de centenas de amostras, seguido por um intenso trabalho de bioinformática e mineração de dados.

O tema foi abordado por Cerqueira Leite no dia 29 de junho, durante palestra apresentada na FAPESP Week China. O painel, dedicado a temas de saúde e biomedicina, também contou com a participação de Zhang Zhiyong, da Universidade de Medicina de Guangzhou; Pedro Moraes-Vieira, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); Xin Jin, cientista-chefe de Pesquisa da empresa chinesa BGI; e Dan Zhang, cofundador da empresa Hillgene BioPharma, também da China. Os mediadores foram Xin Jin (BGI) e Simone Appenzeller (Unicamp).

“A gente sequenciou todo o RNA que foi expresso e está presente em amostras coletadas em vários momentos: antes de o animal ser imunizado, sete e 90 dias após a imunização – quando é feito o desafio [a bactéria é inoculada no nariz dos roedores] – e sete e 90 dias após o desafio”, conta Cerqueira Leite.

Foram comparadas amostras de três grupos de camundongos: um não imunizado, outro que recebeu a BCG convencional e um terceiro vacinado com a BCG recombinante. Em cada momento de análise, foram comparados quais genes estavam com a expressão aumentada ou diminuída nos diferentes grupos.

“Já com sete dias de imunização foi possível ver uma mudança bem grande no grupo que recebeu a versão recombinante: cerca de 200 genes já estão sendo ativados, enquanto no grupo da BCG convencional ainda não estava acontecendo quase nada. Depois de 90 dias, a resposta à BCG convencional já começa a cair, enquanto no grupo recombinante ela se mantém. Mas a grande novidade é que as duas vacinas atuam por caminhos metabólicos bem diferentes e nós conseguimos mapeá-los. Os dados serão publicados em breve”, revela a pesquisadora.


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