Os impactos das alterações climáticas já são uma realidade, e são sentidos por diversos segmentos da indústria. Um grande exemplo disso pôde ser visto, recentemente, com as enchentes no RS, as quais, segundo um levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), afetaram 94,3% de toda atividade econômica do estado, sendo que três das maiores regiões que foram afetadas contribuem com R$ 220 bilhões para a economia brasileira.
Dentre os setores impactados com essa tragédia
climática, está a indústria de alimentos, que, diferentemente de outros
segmentos, mais do que produzir, também tem a responsabilidade de executar toda
a logística de distribuição. Não à toa, nos últimos meses, presenciamos uma
ampla preocupação de uma eventual falta de abastecimento do arroz, tendo em
vista que o RS responde por 70% da produção nacional.
A tragédia do Rio Grande Sul nos chama atenção,
principalmente, para o seguinte o fato: o quão preparados estamos para o que
vem pela frente? A tendência, infelizmente, é que, cada vez mais, as mudanças
climáticas façam parte da rotina empresarial, o que exigirá das organizações a
adoção de medidas eficazes que ajudem a minimizar os impactos na produção e
distribuição de produtos.
Não podemos negar que, atualmente, existe uma gama de
recursos tecnológicos que pode ajudar nesse preparo. O agronegócio, como
exemplo, sendo um setor que só em 2023, segundo o Centro de Estudos Avançados
em Economia Aplicada, da Esalq/USP, correspondeu a 23,8% do PIB do país, já
utiliza a tecnologia em campo, desde análises preditivas, controle do solo e,
até mesmo, monitoramento do clima.
Porém, um grande ponto de atenção é que essas
tecnologias ainda ficam restritas à linha de produção em campo. Como
consequência, a catástrofe que assolou as terras gaúchas, por exemplo,
impossibilitou o transporte aéreo, visto que inundou o aeroporto com previsão
de abertura apenas no fim do ano – e fechou as estradas com as principais vias
de acesso, bloqueando as passagens.
Do ponto de vista logístico, tal cenário mostra o
quão são sensíveis e expostos estes meios de transportes, tão utilizados e de
alto orçamento, podem ser. Não à toa, hoje, no hemisfério norte, já existem
países que realizam entregas via drones, bem como se mostram bem-preparados
frente a eventuais tragédias climáticas.
Considerando que o Brasil é um país de tamanho
continental, o que agrega no grande desafio de logística, é necessário que as
indústrias expandam o seu leque de opções. Isso é, mais do que utilizar o
transporte rodoviário e aéreo, por que não utilizar outros acessos como o
fluvial e ferroviário?
A solução até pode parecer simples, mas,
obviamente, para isso, é necessário que haja um investimento governamental
nesses acessos, com o intuito de viabilizar sua utilização. Com isso, voltamos
ao ponto central dessa questão: a necessidade de haver um alinhamento entre
inciativas privadas e públicas frente a atual realidade, visando não apenas
atravessá-la, mas também a evitá-la.
O que devemos aprender com as enchentes do Rio
Grande do Sul é a importância de um melhor preparo. E, em se tratando da
indústria de alimentos, que corresponde a 10,8% do PIB do país e é responsável
por exportar produtos para 190 países, de acordo com dados da Associação
Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA), essa ação torna-se ainda mais
necessária e importante.
Precisamos enfatizar que inovar não se trata apenas
de criar algo do zero, mas também de aperfeiçoar e melhorar processos já
existentes. Deste modo, esse segmento da indústria, que é extremamente vital para
nossa economia, tem a missão de, mais do que produzir, também abrir o leque de
opções que garantam sua fluidez e acesso, mesmo diante de situações adversas.
Hoje, sem dúvidas, a tecnologia se torna a maior
aliada, pois auxilia tanto do ponto de vista logístico quanto operacional,
fornecendo análises que orientam desde a identificação das melhores áreas para
plantio até o monitoramento da distribuição. Portanto, implementar esses
recursos fora do ambiente interno é uma alternativa eficaz para garantir que a
distribuição não seja afetada, mesmo em meio a eventuais crises.
Os danos climáticos tendem a serem cada vez mais
recorrentes, com impactos inimagináveis. Desta forma, não há mais espaço para
despreparo da indústria, a qual precisa estar atenta em investir tanto em
melhorias de processos, quanto em abordagens eficientes. Afinal, o que irá
garantir o desempenho de amanhã são ações tomadas desde hoje.
Amauri Garroux - sócio e diretor de alianças estratégicas da SPS Group. S
Nenhum comentário:
Postar um comentário