Quando insuficiência cardíaca causa prejuízos irreversíveis nos rins, transplante renal permite que a vida continue
O transplante de rim é a única opção quando o órgão
não funciona nem se recupera com tratamentos convencionais. Causada
principalmente pela pressão arterial alta e diabetes, a doença renal crônica
afeta a capacidade dos rins de filtrar os resíduos metabólicos do sangue e
implica na necessidade de hemodiálise para realizar essa função. Muitas vezes,
esse comprometimento ocorre à medida que o coração está debilitado e apresenta
redução do fluxo sanguíneo. Quando o prejuízo é irreversível e grave, a saída é
o transplante: um procedimento de alta complexidade, que exige muita
competência médica, estrutura hospitalar e solidariedade humana.
O Brasil desponta como um dos líderes mundiais em
transplante e, no último ano, alcançou o melhor resultado da década. Segundo
dados divulgados pelo Ministério da Saúde, foram mais de 6,7 mil transplantes
realizados entre janeiro e setembro de 2023. Dentro desse panorama, o rim
desponta como o órgão mais transplantado, representando quase 67% dos
procedimentos. Em Curitiba (PR), o Hospital Universitário Cajuru, que atende
exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde, é referência e realizou mais de 50
transplantes renais apenas no ano passado. "A excelência da equipe de
transplante torna possível que, acima de 90% dos casos, haja sobrevida do
enxerto e do paciente ao longo do primeiro ano", declara o nefrologista e
coordenador do serviço de transplante renal, Alexandre Tortoza Bignelli
Interdependência entre órgãos
A dinâmica entre os rins e o coração se baseia na
colaboração constante entre ambos. O coração envia sangue para ser filtrado
pelos rins, que, por sua vez, desempenham funções cruciais, incluindo o
controle da pressão arterial. Mas quando há falhas nesse fluxo sanguíneo, os
rins acabam sendo prejudicados. É o que explica a cardiologista Lidia Zytynski
Moura, dos hospitais São Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru, já que a
insuficiência cardíaca pode provocar alterações renais significativas e vice-versa.
"A síndrome cardiorrenal se manifesta quando o coração está adoecido, o
rim tenta compensar e nesse processo de compensação ele mesmo adoece",
detalha.
Além dos pacientes com insuficiência cardíaca,
aqueles que passaram por uma cirurgia de transplante de órgão também podem
enfrentar comprometimento no funcionamento dos rins. "Sabemos que cerca de
20% dos pacientes que recebem transplante de algum órgão sólido podem
desenvolver insuficiência renal. E a principal razão disso está justamente no
uso de imunossupressores com potencial de toxicidade aos rins, necessários para
evitar a rejeição do órgão transplantado", explica o nefrologista
Alexandre Bignelli. De acordo com ele, essa situação torna-se ainda mais
delicada nos casos de transplante de coração, uma vez que esses pacientes já
costumam apresentar complicações renais devido aos problemas cardíacos.
Os rins também podem ser afetados pela covid-19,
especialmente em casos mais graves e em pacientes com comorbidades como
hipertensão. Embora seja uma doença de transmissão respiratória, os danos
causados pela infecção conseguem ter uma extensão maior do que apenas no
pulmão. Segundo pesquisadores da Unifesp, a explicação disso está na interação
do coronavírus com uma enzima que induz a um desequilíbrio no organismo,
influenciando nos processos de inflamação, controle da pressão arterial e
proliferação celular. A redução do fluxo sanguíneo compromete as funções renais
e a capacidade de filtração dos rins.
Bastidores do transplante
renal
Para que os transplantes deem certo, muitos
profissionais correm contra o tempo para que pacientes deixem a condição de
dependência de uma máquina para enfim serem reinseridos na sociedade. São parte
fundamentais equipes como a do laboratório de imunogenética do Hospital Universitário
Cajuru, referência da Central de Transplantes do Paraná ao atender um total de
vinte equipes transplantadoras de rim, pâncreas, coração, pulmão e medula
óssea. "Com a mais avançada tecnologia disponível no mercado, realizamos
exames de compatibilidade e fazemos a avaliação imunológica de pacientes nas
fases pré e pós-transplantes. É a partir do cruzamento desses dados e de
diversos critérios, como gravidade, compatibilidade e tipagem sanguínea, que a
lista de espera é definida", esclarece a imunogenicista e diretora do
laboratório, Cristina Von Glehn.
O debate pela doação de órgãos é sempre urgente,
principalmente ao se considerar que a cada milhão de pessoas, menos de 20 são
doadoras de órgãos, de acordo com a Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e
Tecidos (ADOTE). Contudo, uma única conversa declarando-se doador pode mudar
esse cenário.
Hospital Universitário Cajuru
Hospital São Marcelino
Champagnat
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