No mês de conscientização sobre leucemias, celebra-se os avanços que ocorreram nas últimas duas décadas, sobretudo para pacientes com mais de 60 anos;
Fevereiro marca o mês de conscientização da
Leucemia, um tipo de câncer que surge nas células-tronco da medula óssea,
comumente chamado de câncer no sangue. De acordo com estimativas do Instituto
Nacional de Câncer (INCA), espera-se que mais de 11 mil novos casos sejam
diagnosticados até 2025.
Dentre os diversos tipos, as leucemias crônicas - Leucemia mieloide crônica
(LMC) e Leucemia linfoide crônica (LLC) – são mais comuns em indivíduos com
mais de 60 anos. Historicamente, as opções de tratamento eram limitadas, com a
quimioterapia sendo a principal abordagem, acarretando efeitos colaterais
significativos. Atualmente, no entanto, testemunhamos avanços notáveis em
medicamentos que não apenas prolongam a vida dos pacientes, mas também melhoram
sua qualidade de vida.
“Novas gerações de medicamentos em comprimidos tomam espaço da quimioterapia,
como os inibidores de BTK para a LLC, cuja ação faz as células doentes pararem
de se proliferar, e têm muito menos efeitos colaterais”, conta Phillip
Scheinberg, coordenador de Hematologia do Centro de Oncologia e Hematologia da
BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, um dos maiores hubs de saúde de
excelência do país.
No Brasil, existem duas drogas desse tipo indicadas para o tratamento da LLC, o
ibrutinibe (de primeira geração) e o acalabrutinibe (de segunda geração). Uma
outra classe importante no combate a LLC são os inibidores de Bcl-2, como o
venetoclax. Essa classe tem uma ação diferente dos inibidores de BTK, onde o
venetoclax bloqueia os mecanismos que previnem a célula leucemia de morrer,
tornando-a mais vulnerável.
A função desses inibidores é bloquear a capacidade
das células doentes de se replicar intensamente e propiciar a sua morte, além
de proporcionarem menos toxicidade em relação aos quimioterápicos. Na classe
dos inibidores do BTK há ainda mais avanços, com outros agentes de segunda
geração como o zanubrutinibe e as drogas de terceira geração, como o
pirtobrutinibe. Essas últimas são mais especificas para a proteína BTK (que e
necessária para a célula leucemia sobreviver) e apresentam menos efeitos
colaterais que as drogas de gerações mais iniciais. Tanto o zanubrutinibe como
o pirtobrutinibe estão aprovados no Brasil para o Linfoma das Células do Manto,
porém, espera-se que no futuro recebam aprovação também para a LLC.
“Apesar desses medicamentos ainda proporcionarem alguns efeitos adversos, são
muito pequenos, quando levamos em consideração a capacidade de aumentarem a
sobrevida dos pacientes ao trazer o controle da LLC, uma vez que a doença não
tem cura, mas pode entrar em remissão ou serem controlados por períodos
prolongados”, afirma Phillip.
De acordo com o especialista, o transplante de medula óssea permanece como a
única cura conhecida, sendo uma opção para casos muito específicos,
especialmente em pacientes mais velhos.
Pacientes com LMC ganham reforço importante
No caso das leucemias mieloide crônicas (LMC) - câncer nas células mieloides,
formadoras de sangue, que provoca aumento de glóbulos brancos responsáveis por
combater infecções - alguns avanços também podem ser destacados, como é o caso
dos inibidores de tirosina quinase (TKIs), sendo o imatinibe de primeira
geração, e o dasatinibe e o nilotinibe de segunda geração. Aprovado no Brasil
em 2019, o ponatinibe (de terceira geração) e em 2023 o TKI, asciminibe, são
indicados para o tratamento de LMC em pacientes que apresentam resistência a
duas ou mais drogas da classe tirosina quinase.
“As opções de tratamento para esses pacientes eram limitadas”, lembra Phillip
ao ressaltar a relevância dos inibidores de TKIs há mais de 30 anos. “É
necessário explicar que o prognóstico de pacientes com LMC tem mudado desde a
chegada dos TKIs no final dos anos 1990, ou seja, alguns pacientes ainda
progridem com os inibidores de primeira e segunda gerações e requerem drogas
mais especificas e potentes que vençam a resistências dos tratamentos
iniciais”.
Até essa revolução da introdução dos inibidores de TKIs, o transplante de
medula óssea era a terapia padrão e, por isso, a taxa de sobrevida era inferior
devido a complicações inerentes ao transplante em curto e ao longo prazo.
O ponatinibe e o asciminibe representam um enorme avanço dentro dos casos de
polirefratariedade, que é quando pacientes com LMC apresentam resistências aos
demais inibidores da tirosina quinase. Por isso, a necessidade de outros
inibidores que combatam esse cenário e ampliem as opções de tratamento.
“Em breve é interessante observar as combinações dos TKIs que in vitro têm
mostrado alta efetividade e podem ser ainda mais promissores”, finaliza
Scheinberg.
BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo
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