Opinião
O poeta brasileiro Fabrício Carpinejar expressou a
ideia de que "na infância bastava... o Sol lá fora e tudo se
resolveu", frase que ganhou atribuição a ele nas redes sociais. No
entanto, para muitas crianças brasileiras, um dia ensolarado no quintal está
longe de resolver seus desafios.
A infância é frequentemente considerada como uma
fase inicial do desenvolvimento humano, mas insistir nessa perspectiva de
limitar a uma condição passageira é desrazão. Na verdade, a infância é um
período crucial para aprendermos sobre nós mesmos como assuntos sociais e sobre
o mundo ao nosso redor.
O título deste artigo questiona a desrazão que a
sociedade submete a existência infantil a um contexto complexo, enfatizando a
importância de mudanças efetivas e do comprometimento com políticas que
garantem o cuidado e o respeito à infância brasileira.
Ao examinar o Cenário da Infância e Adolescência no
Brasil/2023, da Fundação Abrinq, percebe-se que a infância brasileira enfrenta
desafios significativos. O documento visa organizar indicadores em relação aos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável propostos pela ONU na Agenda 2030. O
cenário do documento revela que o Brasil possui uma grande população infantil,
estimada em 68,6 milhões de crianças de 0 a 19 anos em 2022, a maioria
residindo em áreas urbanas.
Apesar de o Brasil oferecer educação básica gratuita
e obrigatória, o acesso à educação de qualidade é limitado, e desigualdades na
distribuição de recursos educacionais persistem. O número de estabelecimentos
educacionais não atende à meta estabelecida pelo Plano Nacional de Educação.
Além disso, os desafios relacionados à saúde, ao acesso à água e ao saneamento,
e as implicações do trabalho infantil prejudicam sobremaneira a qualidade de
vida das crianças brasileiras.
Uma realidade trágica é evidenciada nas
estatísticas: milhões de pessoas vivem com renda domiciliar mensal de até meio
salário-mínimo, e a maioria das crianças entre 0 e 14 anos vive em famílias com
renda de ½ salário ou mínimo. A violência, a exploração sexual, a falta de
acesso à água e ao saneamento, e o trabalho infantil persistem como sérios
problemas.
Apesar das leis e regulamentações destinadas a
proteger os direitos das crianças, como o Estatuto da Criança e do Adolescente,
a infância brasileira enfrenta condições complexas e muitas vezes violentas. A
invisibilidade dessas questões prejudica a existência infantil, impactando seu
desenvolvimento emocional, educacional e físico.
A linguagem lúdica das crianças, singular e
expressiva, permite que ela enfrente as adversidades com criatividade e
imaginação. No entanto, é crucial promover discussões construtivas sobre os
problemas que afetam a infância no Brasil, buscando compreender e atender às
necessidades específicas das crianças.
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