Especialistas
alertam sobre os riscos de IST e gravidez em jovens, cujas taxas crescem no
país
O Instituto Ipsos, a pedido da farmacêutica Organon Brasil,
realizou um estudo entre julho e agosto, envolvendo 600 entrevistadas
com idades de 18 a 45 anos das classes A, B e C, e constatou que 9 entre 10
mulheres têm consciência sobre os cuidados em relação à saúde sexual e
reprodutiva. Mas, enquanto 92% das entrevistadas já utilizaram contraceptivos,
apenas 58% fazem uso regular.
Gravidez precoce agrava o cenário
O Relatório de População da ONU 2023 mostrou que 1,8 milhão, ou 55,4%, de todos os nascimentos no Brasil não foram planejados. A taxa de gravidez precoce é de 68,4 nascimentos para cada mil adolescentes entre 15 e 19 anos. Estima-se que, por ano, mais de 400 mil adolescentes brasileiras se tornam mães: 50% a mais do que a média mundial
“A adolescente está em plena fase de formação fisiológica, e uma
gestação nesse período gera uma série de riscos, principalmente em menores de
16 anos ou quando a ocorrência da primeira menstruação foi há menos de dois
anos”, afirma Carlos Moraes, ginecologista obstetra pela Santa Casa/SP, membro
da FEBRASGO e especialista em Perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa
do Hospital Albert Einstein.
Um dos principais riscos está relacionado ao ingresso tardio do pré-natal e, consequentemente, ao seguimento incorreto do prognóstico materno e perinatal. “Os ciclos menstruais irregulares nos dois anos pós-menarca, a falta de conhecimento do próprio corpo e a não aceitação da gravidez são alguns dos motivos que atrasam o início do pré-natal”, pontua o ginecologista.
Além disso, há uma frequente exposição materna a medicamentos,
álcool, tabaco e outras drogas no início de uma gestação ainda não identificada
ou reconhecida pela adolescente.
Aumento de ISTs em jovens é mais um desafio
De acordo com o Boletim Epidemiológico de 2022, do Ministério da Saúde, o número de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) têm aumentado no Brasil, principalmente entre jovens de 15 a 24 anos. Só em 2021, a sífilis, por exemplo, passou de 59,1 casos (a cada 100 mil) para 78,5. Já entre 2011 e 2021, mais de 52 mil jovens com HIV, desta faixa etária, evoluíram para a síndrome da imunodeficiência adquirida (aids).
Segundo o ginecologista obstetra Carlos Moraes, os preservativos ainda são os métodos mais acessíveis e funcionais contra ISTs, mas não são os únicos (até porque o uso de preservativos entre jovens de 15 a 24 anos caiu de 47%, em 2017, para 22%, em 2019, segundo o boletim).
“A rede básica gratuita de saúde atende hoje meninas e meninos de 9 a 14 anos com a vacina quadrivalente (4V) contra os quatro subtipos de HPV: 16, 18, 6 e 11. Já para aqueles com risco de infecção pelo HIV devem fazer uso de antirretrovirais na Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e Pós-Exposição (PEP), também disponíveis pela rede pública”, orienta Carlos Moraes.
No entanto, o médico avisa que a PrEP não imuniza contra outras
ISTs. “Mais uma razão para usar o preservativo. Além de proteger contra as
ISTs, previne a gravidez”.
Conhecimento é a melhor prevenção
Para Dani Fontinele, terapeuta sexual e membro da ABRASEX, o cenário atual pode ser atribuído a fatores como mudanças comportamentais e falta de educação sexual adequada. “Nunca foi tão importante aplicar a ‘educação sexual abrangente’. “Ela agrega as complexidades dos relacionamentos íntimos, habilidades sobre relações saudáveis e as tomadas de decisões sexuais. Tudo o que os jovens de hoje precisam aprender”.
Bárbara Bastos, sexóloga clínica e educacional pela FASEX,
complementa. “O binômio informação e acesso aos centros de saúde é o que dita
as regras da contracepção, pois a maioria não sabe se prevenir de forma
adequada, não compreendendo o funcionamento de cada método, utilizando-o de
maneira errônea ou, simplesmente, abandonando seu uso por questões pessoais”.
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