O Dia do Estudante, celebrado em 11 de agosto, é uma oportunidade para refletir sobre inclusão de estudantes com altas habilidades/superdotação no ambiente escolar. Renata Trefiglio, da Camino School, mostra caminhos possíveis.
Por volta dos 2
anos de idade, Filippo de Castro Morgado já sabia ler placas de carro. Um pouco
antes, começou a se interessar pelas formas, cores, letras e números, tanto em
português, como em inglês, apenas vendo desenhos na televisão. Aos 3, tornou-se
uma criança bilíngue autodidata. “Ele sempre teve uma diferenciação de
desenvolvimento, não só emocional, mas também do ponto de vista pedagógico com
raciocínio lógico muito rápido e eficiente, além de uma memória
extraordinária”, explica Roberta Castro, mãe de Filippo, diagnosticado com
superdotação aos 4 anos.
Alguns dos sinais
que podem indicar a presença de altas habilidades/superdotação em crianças e
jovens incluem o aprendizado acelerado, grande capacidade de memorização,
interesse por tópicos avançados para sua idade, criatividade, facilidade em
resolver problemas complexos e questionamento constante. Além disso, é comum a
presença de um vocabulário mais avançado para a faixa etária e a demonstração
de uma alta capacidade de concentração em seus interesses específicos.
Segundo o mais
recente Censo Escolar no Brasil, realizado pelo Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2022, 26.815
estudantes brasileiros estavam enquadrados no perfil de superdotação e de altas
habilidades/superdotação. Em relação ao Censo anterior, esse número representa um aumento de mais
de 3 mil estudantes superdotados.
“Esse
crescimento reflete uma maior conscientização e esforços para identificar e
atender adequadamente as necessidades educacionais desses alunos”, avalia a
neuropsicopedagoga Renata Trefiglio, da Camino School. “Com mais escolas e
educadores se capacitando para compreender e lidar com as particularidades dos
alunos com altas habilidades/superdotação, a inclusão tem se tornado uma
realidade mais presente nas instituições de ensino”, afirma Renata.
Apesar dos
avanços, a inclusão de alunos superdotados no ambiente escolar precisa
continuar sendo assunto de discussões. Afinal, é neste espaço que eles vivem a
maior parte do dia, trilhando seu caminho de aprendizagem, desenvolvimento e
formação. Nesse sentido, ocasiões como Dia do Estudante, celebrado em 11 de
agosto, podem impulsionar reflexões importantes acerca do tema.
Alunos
superdotados e a vivência escolar
“A escola é, de
longe, o maior problema dos alunos superdotados”, afirma Roberta Castro, mãe de
Filippo. Essa afirmação é corroborada por Renata Trefiglio. Ela explica que os
desafios enfrentados por crianças e jovens com altas habilidades/superdotação
no ambiente escolar são diversos. “Muitas vezes, eles podem se sentir
deslocados e desafiados por não encontrarem na escola um ambiente que estimule
e atenda suas especificidades intelectuais”, explica Renata.
Uma das
características de pessoas superdotadas é a sensibilidade nos ouvidos, algo que
foi ponto de atenção para Roberta Castro, ao saber das dificuldades que o filho
enfrentava em sala de aula. “Antes da pandemia, ele estudou por dois meses em
uma escola onde vivia tampando os ouvidos porque a sala era muito pequena e
tinha bastante gritaria”, explica Roberta.
Hoje, Filippo
estuda na Camino School, escola trilíngue da zona oeste de São Paulo com
proposta pedagógica que valoriza a inclusão de alunos com altas
habilidades/superdotação. A escola oferece um currículo enriquecido, com
atividades que estimulam o pensamento crítico, a criatividade e a resolução de
problemas complexos.
Necessidades
específicas
A inclusão de
alunos com superdotação precisa ir além de simplesmente matriculá-los em uma
turma regular. Para a neuropsicopedagoga Renata Trefiglio, é fundamental que as
escolas ofereçam projetos de pesquisa e atividades extracurriculares que
permitam aos alunos com altas habilidades/superdotação explorarem seus
interesses de forma aprofundada. “A escola precisa buscar atender as
necessidades individuais de cada aluno e promover um ambiente que estimule o
desenvolvimento pleno de suas potencialidades”, ressalta Renata.
A jornada rumo à
construção de uma escola realmente inclusiva envolve a capacitação de
professores para identificar e compreender as características de alunos
superdotados, criando um ambiente acolhedor e estimulante para seu
desenvolvimento. A mãe de Filippo, Roberta, comenta que a falta de programas
educacionais diferenciados pode levar a um desinteresse pelas atividades
escolares e até mesmo ao subaproveitamento de seu potencial. “O 2+2 o Filippo
já sabe desde os dois anos de idade”, ressalta. “Ele precisa de um acompanhamento
pedagógico feito de perto, para que ele não se sinta cansado das atividades”,
explica a mãe do estudante.
Socioemocional
e superdotação
É comum que alunos
superdotados tenham dificuldades em se relacionar com os colegas devido às
diferenças de interesses e habilidades, o que pode gerar problemas emocionais e
de adaptação social. Roberta Castro conta que, para ela, é importante que seu
filho estude em um colégio que leve isso em consideração. “As escolas acham que
só o pedagógico importa e que o socioemocional não faz sentido, mas se não
houver os dois, não haverá planejamento adequado para uma criança superdotada”,
afirma.
Roberta salienta
que crianças superdotadas costumam se cobrar demais e se frustrar quando não
atingem a perfeição em uma atividade. “A abordagem socioemocional tem ensinado
para o meu filho ‘o plano b’, ‘que as vezes perder é ganhar’”,
explica. “Aprender de uma forma bastante lúdica e empoderada também ajudou
muito”, acrescenta.
Perspectivas
para o futuro da inclusão de alunos superdotados
A escola pode
desempenhar um papel importante no processo de diagnóstico de alunos com altas
habilidades/superdotação. Segundo Renata Trefiglio, os professores e a equipe
escolar devem estar atentos aos sinais e características dos estudantes que se
destacam em suas áreas de interesse e que buscam desafios adicionais. “É
essencial estabelecer uma comunicação aberta e constante com as famílias, que
podem fornecer informações relevantes sobre o desenvolvimento da criança em
casa”, afirma Renata. “Ao identificar os sinais precocemente, a escola pode
oferecer o suporte adequado e criar um ambiente que favoreça o pleno
desenvolvimento desses alunos”, recomenda a neuropsicopedagoga.
Para ela, as
perspectivas para os próximos anos são promissoras. “Com o crescente interesse
e conscientização sobre a importância de promover a inclusão de alunos com
altas habilidades/superdotação, a tendência é que mais escolas e instituições
educacionais desenvolvam práticas e programas específicos para atender esse
público”, afirma. “A valorização da diversidade e a compreensão de que cada
aluno possui habilidades e interesses únicos são elementos que contribuem para
o aumento da inclusão de estudantes com altas habilidades/superdotação nas
escolas”, conclui Renata Trefiglio.
10 de
agosto - Dia Internacional dos Superdotados
Para apoiar e dar
visibilidade à realidade de estudantes superdotados no mundo, o Conselho
Mundial das Crianças Superdotadas e Talentosas criou, em 2011, O Dia
Internacional dos Superdotados. A data foi criada durante um encontro realizado
em Prata, na República Tcheca, e é mais uma oportunidade para que as escolas
reflitam sobre esse assunto para promover cada vez mais inclusão, de forma
efetiva e humanizada.
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