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quarta-feira, 26 de julho de 2023

Osteoporose na infância: sinais de alerta e tratamentos

Médico endocrinologista pediátrico e membro da ABRASSO, Dr. Guido de Paula Colares Neto comenta sobre os principais sinais que podem levar ao diagnostico

 

Durante a faixa pediátrica nós ganhamos uma média de 60% a 80% da nossa massa óssea. Por isso é importante identificar os elementos que estão associados a formação de massa óssea durante a infância. Nesse sentido, o médico declara que a osteoporose é uma doença da criança que muitas vezes pode se manifestar durante a infância e na vida adulta.

 

Segundo Dr. Guido de Paula Colares Neto, endocrinologista da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (ABRASSO), as causas da osteoporose podem ser divididas em dois grupos: primárias e secundárias. As causas primárias incluem a osteogênese imperfeita, uma doença genética que resulta em fragilidade óssea devido a mutações nos genes do colágeno tipo 1, que compõe a matriz óssea. Isso leva a uma estrutura óssea semelhante a uma parede construída sem cimento, tornando-a facilmente quebrável. Outra causa primária é a osteoporose idiopática juvenil, que também está relacionada a fatores genéticos. Nesse caso, a criança tende a ter fraturas antes da puberdade, mas o quadro melhora quando a puberdade se inicia. No entanto, podem ocorrer deformidades decorrentes das fraturas anteriores, resultando em déficits motores.

 

“A osteogenesis imperfecta pode se manifestar de várias formas durante a infância, desde fraturas múltiplas até formas mais leves na adolescência ou mais tarde. Além das fraturas, a criança pode apresentar características como esclera azulada, dentes acinzentados, deformidades ósseas e hipermobilidade articular’, pontua o Dr. Guido de Paula Colares Neto.

 

Já as causas secundárias estão relacionadas principalmente ao uso de medicamentos, como glicocorticoides, em crianças. O uso prolongado e em doses elevadas desses medicamentos pode levar a uma maior reabsorção óssea e, consequentemente, aumentar o risco de osteoporose.

 

O endocrinologista pediátrico salienta que quando falamos de osteoporose infantil, o diagnóstico é baseado em fraturas, que são graves e desproporcionais ao mecanismo de trauma. Por exemplo, uma criança pode fraturar o fêmur ao se virar para falar com os pais ou quebrar a tíbia e a fíbula ao cair da própria altura. Fraturas vertebrais também são um sinal a ser observado, geralmente acompanhadas de dor nas costas e limitação de atividades, resultando em déficits motores posteriores.

 

“O diagnóstico de osteoporose na infância é feito quando há uma fratura vertebral, ou duas fraturas em ossos longos, como úmero, rádio, fêmur, tíbia e fíbula, antes dos 10 anos ou três fraturas em ossos longos antes dos 19 anos”, menciona o especialista.

 

Além disso, existem fatores de risco que aumentam a probabilidade de osteoporose em crianças. Isso inclui baixa ingestão de cálcio ou vitamina D, desnutrição, uso de anticonvulsivantes que afetam o metabolismo da vitamina D, uso de glicocorticoide que prejudica a absorção intestinal de cálcio, presença de doenças crônicas que afetam a absorção de cálcio e fósforo, e limitação de locomoção, como em casos de doenças neurológicas que resultam em baixa atividade física.

 

“A densitometria é um exame importante para avaliar a massa óssea na infância, podendo ser realizado desde lactantes até a adolescência. Priorizamos a coluna lombar e o corpo inteiro da criança, excluindo a cabeça,para evitar influência da mineralização craniana. A densitometria é um exame de baixa radiação, rápido e fornece informações precisas sobre a quantidade de massa óssea. Não usamos o termo "osteopenia" na infância, preferindo descrever como baixa densidade mineral óssea para a idade e o sexo. A densitometria tem limitações, como influência da altura da criança e presença de artefatos. O raio-x de coluna toracolombar em perfil é útil para avaliar fraturas vertebrais e monitorar a osteoporose infantil. A densitometria é uma ferramenta importante na avaliação do metabolismo ósseo”, explica o médico da ABRASSO.

 

De acordo com o endocrinologista, o tratamento da osteoporose na infância e adolescência envolve uma equipe multidisciplinar de especialistas, como endocrinologistas, reumatologistas, ortopedistas, nefrologistas, fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes sociais e educadores físicos.

 

“Pontos importantes do tratamento incluem ajustes nos medicamentos que podem afetar a saúde óssea, como glicocorticoides e anticonvulsivantes, em conjunto com os médicos responsáveis. Garantir uma ingestão adequada de cálcio e vitamina D é essencial, especialmente durante os primeiros anos de vida, a adolescência e o estirão puberal. Estimular uma dieta rica nesses nutrientes e utilizar suplementos, se necessário, ajuda a atender às necessidades específicas de cada faixa etária’’, ressalta o médico.

 

Em relação a atividade física, ela é altamente recomendada para crianças, pois estimula a remodelação óssea. Ela testa e fortalece os ossos ao longo do tempo, ajudando a evitar fragilidades. O mínimo recomendado é de 150 minutos por semana. Para crianças com fragilidade óssea, devem ser evitados esportes de contato e pode ser indicado atividades aquáticas, como hidroterapia ou fisioterapia, para estimular a formação óssea e promover a saúde óssea no futuro.

 

Quando acrescentamos fármacos ao tratamento da osteoporose infantil, são utilizados bisfosfonatos para reduzir a reabsorção óssea e promover o ganho de massa óssea ao longo do tempo. Esses medicamentos são prescritos pelo médico, levando em consideração a condição da criança, a doença de base e o número de fraturas.

 

 “Os bisfosfonatos podem ser administrados oralmente ou por via intravenosa, e existem diferentes tipos com diferentes potências. É importante ressaltar que essas medicações devem ser indicadas pelo médico. Embora existam outras classes de medicamentos, os bisfosfonatos são os principais utilizados no tratamento da osteoporose infantil”, destaca o médico.

 

O especialista conclui salientando que não devemos subestimar o diagnóstico de osteoporose em crianças e lembrar que elas podem apresentar fatores de risco. Se houver algum sinal de alerta, como doenças de base ou fraturas com mecanismo incomum, é importante investigar. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado reduzem as futuras comorbidades e melhoram a qualidade de vida da criança.

 

“A densitometria e o raio-x de coluna são exames de imagem que podem auxiliar no diagnóstico, e os exames laboratoriais, como cálcio, fósforo, fosfatase alcalina, PTH, vitamina D, calciúria e creatinúria em amostra isolada, fornecem informações sobre o estado ósseo. É fundamental conscientizar que a osteoporose também pode afetar crianças e que o diagnóstico precoce é essencial”, pontua o endocrinologista pediatra.

 

ABRASSO - Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo
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