É preciso ter
cuidado especialmente em áreas com vegetação e a beira de rios e lagos, além de
outras formas de prevenção
A febre maculosa tem sido muito debatida pela mídia
desde que três pessoas que estiveram em uma festa em Campinas, no interior de
São Paulo, foram acometidos pela doença e, infelizmente, vieram a óbito dias
depois. Posteriormente, mais uma adolescente também faleceu em decorrência da
febre maculosa. Embora os casos tenham acendido um sinal de alerta na população
e nas autoridades de Saúde, a médica infectologista do Hospital Edmundo
Vasconcelos, Stefânia Bazanelli Prebianchi explica que existem cuidados a serem
tomados e tratamentos disponíveis para evitar que a doença acometa mais pessoas
e cause novas vítimas.
Em primeiro lugar, a médica explica que a doença é
causada por bactérias do gênero Rickettsia, principalmente a Rickettsia
rickettsii , sendo transmitida aos humanos através da picada de
carrapatos, também conhecidos como carrapato-estrela, micuim e
carrapato-do-cavalo, que podem ser encontrados especialmente em áreas de parques,
fazendas, pastos, pesqueiros, vegetações na beira de rios, lagoas e córregos.
Quando o carrapato precisa se alimentar ele sai em busca de algum hospedeiro.
Nem todo carrapato, porém, transmite a doença, apenas aqueles contaminados pela
bactéria.
“Esse é um carrapato que não é normalmente
encontrado em cachorros. Porém, cães e gatos podem ser parasitados pelo
carrapato se estiverem em áreas frequentadas por eles. As capivaras e os
cavalos são seus hospedeiros mais comuns (são fontes alimentares em quase todos
os estágios da vida do carrapato), mas esses carrapatos também podem ser
encontrados em hospedeiros secundários como bovinos, cabras, porcos, coelhos,
cotias e roedores diversos”, explica ela.
Stefânia esclarece que o carrapato adquire a bactéria
que causa a doença ao picar um animal infectado. “O carrapato infectado pode
transmitir a bactéria por transmissão vertical e assim, novos carrapatos
poderão já nascer infectados. Além disso, eles permanecem infectados durante
toda a vida (que varia de 18 a 36 meses) e podem transmitir a doença em
qualquer etapa do seu desenvolvimento”, detalha. Uma vez infectado com a
bactéria, ao picar o ser humano, o carrapato transmite a febre maculosa, o que
geralmente acontece quando fica aderido ao corpo do hospedeiro por mais de
quatro horas.
Após sermos infectados, os sintomas podem aparecer
entre 2 e 14 dias após a picada do carrapato (uma média de 7 dias) e são
considerados inespecíficos. Estão incluídos febre alta súbita, dor de garganta,
dor de cabeça, dor no corpo e nas articulações, diarreia, vômitos e mal-estar,
além da presença de manchas avermelhadas pelo corpo entre o 3º e o 5º dia da
doença, podendo acometer qualquer parte do corpo incluindo palmas das mãos e
plantas dos pés. “Por serem sintomas comuns, a doença pode ser confundida com
outras arboviroses como dengue, zica e chikungunya, e doenças como
leptospirose, enteroviroses, influenza e até a covid-19. Isso atrasa o
diagnóstico e o início do tratamento que, preferencialmente, deve ser iniciado
o mais rápido possível. Sem o tratamento correto poderá evoluir para formas
mais graves e ser fatal”, afirma a especialista.
As formas mais letais acontecem porque, segundo
ela, as bactérias envolvidas na doença têm a característica de infectar e
causar lesões em células de vasos sanguíneos, podendo levar à um quadro de
vasculite disseminada, com várias disfunções orgânicas, variando de lesões
cutâneas e até mesmo alterações cardíacas, pulmonares, renais e neurológicas.
A médica relata, porém, que há tratamento para a
doença. “O tratamento precoce e oportuno deve ser iniciado idealmente antes do
quinto dia da doença e deve ser feito com antibiótico específico para qualquer
caso suspeito. Essa é a principal medida de impacto para redução do risco de
progressão para formas graves e diminuição da letalidade da doença. Mas vale
lembrar que não é recomendado o uso desses antibióticos para pessoas com
histórico de exposição ou picada de carrapatos sem sintomas, ainda que em áreas
com possível transmissão da doença”, enaltece.
A especialista reforça que a principal maneira de
se prevenir é evitar áreas onde há transmissão da doença, verificar todo o
corpo durante e após frequentar áreas de risco, usar roupas de mangas
compridas, calças por dentro das meias e usar repelentes nessas áreas. “Se
encontrar carrapato no corpo, quanto mais depressa ele for retirado da pele,
menores os riscos de infecção já que quanto mais horas ele permanece aderido ao
nosso corpo, mais chance tem de transmitir a bactéria. Se possível, use uma pinça
para prender o carrapato próximo à pele e realizar uma leve torção. Também é
preciso ter cuidado para não apertar a pinça no meio do carrapato e não
esmagá-lo (para evitar a liberação de bactérias na saliva do carrapato). Também
não é recomendado queimar o carrapato ou usar qualquer tipo de álcool, vinagre
ou substância abrasiva”, explica. Por fim, outra dica é que os carrapatos podem
estar presentes nas roupas após a ida a áreas de infestação. Nesse caso,
recomenda-se ferver ou lavar a roupa utilizada em elevada temperatura por um
período mínimo de 10 minutos.
Por fim, a infectologista ainda esclarece que não
há transmissão de pessoa para pessoa e que o carrapato normalmente não está
presente em domicílios e edifícios, o que facilita o seu controle. Todo caso
suspeito também deverá ser levado para conhecimento das autoridades de saúde.
Segundo a médica, porém, já se sabe que essa é uma doença endêmica na região
Sudeste, então é previsto que surjam casos da doença em determinadas épocas do
ano. De qualquer forma, ela recomenda sempre procurar um médico caso haja
dúvidas e necessidade de mais orientações.
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