Os 45 anos de experiência de Fernando Medina o
fazem acreditar em grandes transformações nos próximos dez anos
Nove de julho, Dia do Oncologista Clínico,
celebra a especialidade da medicina criada para tratar uma doença cuja história
remonta séculos. O médico Hipócrates, por volta do ano de 400 a.C., viu
semelhanças entre tumores alimentados por vasos sanguíneos salientes e o
caranguejo. Foi então que teria surgido o termo “câncer”, segundo Siddhartha
Mukherjee, autor de “O Imperador de Todos os Males: Uma Biografia do Câncer”. O
livro relata os esforços contínuos atrás de tratamentos na expectativa da cura
definitiva da doença, possibilidade próxima, acredita Fernando Medina,
oncologista clínico do Centro de Oncologia Campinas.
Complexa, a oncologia clínica é conduzida pelas
especificidades de uma neoplasia que desafia a saúde física e envolve aspectos
psicológicos, como sentimentos ligados à finitude. Se dedica ao diagnóstico,
tratamento e acompanhamento de pacientes com câncer, ou seja, é parceira de caminhada.
No Brasil, a história da especialidade remonta ao início do século 20 e retrata
avanços significativos ao longo das décadas.
“A oncologia clínica no Brasil continua a
evoluir. Os profissionais da área buscam constantemente atualizações e novas
abordagens terapêuticas. Há um enfoque crescente na medicina de precisão, que
utiliza informações genômicas e moleculares para direcionar o tratamento do
câncer de forma mais personalizada”, cita.
O especialista do COC dedicou os últimos 45 anos
à oncologia clínica. Fundou a disciplina, a residência e a pós-graduação em
oncologia clínica na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi
presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia e da Sociedade Paulista,
professor universitário e liderou pesquisas na área.
“Eu particularmente sou um fanático pela
especialidade. Meu prazer não é exclusivamente atender um paciente com câncer.
É também toda a parte de ensino e pesquisa. Me sinto bem em desenvolver esse
tripé de assistência, ensino e pesquisa”, descreve Fernando Medina, também
presidente do Centro de Estudos e Pesquisa de Campinas (Cepoc).
Fernando Medina acompanhou a transformação da
oncologia clínica no Brasil e, com propriedade, atesta os avanços. “Quando
comecei, havia poucas opções de quimioterápicos em uso, a parte de educação
comunitária praticamente não existia. Naquela época, o câncer era uma doença
que praticamente significava o diagnóstico de morte”, recorda.
Defensor e ator da evolução do tratamento
oncológico, hoje vivencia a possibilidade de aplicar a seus pacientes a
medicina personalizada, que consiste no uso de biomarcadores capazes de
detectar traços genéticos e guiar as formas de abordagem, ou mesmo a
imunoterapia, que leva o próprio sistema imunológico a criar meios de
identificar e combater as células cancerígenas.
Diante de tudo que presenciou e empreendeu,
Medina compartilha da visão positiva que norteia todos os esforços desprendidos
pelos oncologistas nas últimas décadas. “Tenho certeza absoluta que nos
próximos dez anos vamos conseguir a cura definitiva dessa doença, em razão da
evolução que estamos tendo nos últimos anos”, acredita.
Evolução
Fernando Medina descreve que, no início do século
20, o câncer era tratado principalmente pela cirurgia, com poucas opções
terapêuticas disponíveis. “A radioterapia começou a ser utilizada na década de
1920, mas ainda de forma limitada. A quimioterapia, por sua vez, surgiu na
década de 1940, com o uso do gás mostarda para tratar o câncer de linfoma”,
detalha.
Nos anos 1950 e 1960, houve um crescimento no
interesse pela oncologia clínica no Brasil. “O Instituto Nacional do Câncer
(INCA), fundado em 1940, desempenhou um papel fundamental nessa época. Em 1953,
o INCA estabeleceu a primeira clínica de oncologia no país, proporcionando
atendimento especializado a pacientes com câncer”, informa.
Durante as décadas de 1970 e 1980, a oncologia
clínica começou a se desenvolver de forma mais ampla. Novas técnicas de
diagnóstico, como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética, foram
introduzidas e ajudaram a aprimorar o diagnóstico e o estadiamento do câncer.
Além disso, agentes quimioterápicos foram desenvolvidos, aumentando as opções
de tratamento disponíveis.
“A partir dos anos 1990, houve uma expansão
significativa da oncologia clínica no Brasil. O acesso a tratamentos mais
avançados, como terapia-alvo e imunoterapia, se tornou mais amplo. Centros de
excelência em oncologia foram estabelecidos em várias regiões do país,
oferecendo tratamento multidisciplinar e integrado a pacientes com câncer”, recorda
Medina.
O progresso na oncologia clínica brasileira continuou no século XXI. Houve avanços na compreensão dos mecanismos moleculares do câncer, o que levou ao desenvolvimento de tratamentos personalizados e direcionados. Além disso, o aumento do investimento em pesquisa clínica e a participação em estudos internacionais contribuíram para a introdução de novas terapias e protocolos de tratamento no país.
Desafios
Apesar dos avanços indicados pelo oncologista
clínico e da expectativa de cura, existem desafios a serem enfrentados na
atualidade, como a desigualdade no acesso aos serviços de oncologia e a
necessidade de aprimorar a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer. “A
história da oncologia clínica no Brasil é marcada por progressos significativos,
que refletem o empenho dos profissionais da área. Porém, é preciso
que todos possam usufruir do que foi conquistado”, assegura.
COC - Centro de Oncologia Campinas
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