Ata do Banco
Central sobre a Selic deve definir para onde vão os investidores brasileiros
nos próximos meses
Nos últimos comunicados, o Banco Central ressaltou
sua preocupação com as expectativas do IPCA para períodos mais longos. Essa
primeira queda foi um bom sinal. Mas é importante que essa tendência continue
para que a autoridade monetária se sinta confortável para iniciar o ciclo de
cortes na taxa de juros.
Além da preocupação com a inflação futura, a
questão fiscal é mais um ponto que pode motivar o corte mais lento. Uma espera
mais longa para começar a flexibilização não pode ser descartada, devido às
perspectivas de política fiscal e parafiscal instáveis.
Nesta semana, o arcabouço fiscal, substituto do
teto de gastos, deve ser votado no Senado Federal. Caso haja alterações, o
texto volta para a Câmara. Por conta desse cenário instável, não vejo espaço
para cortes nesta reunião, mas espero um ajuste na comunicação da decisão dos
juros. Os vértices mais longos da curva, mais sensíveis ao noticiário
fiscal, tem apresentado um recuo menos intenso.
Caso a leitura do mercado seja que o BC sinalizou início
do ciclo de flexibilização monetária em agosto, pode haver recuo mais intenso
das taxas, especialmente na ponta mais curta da curva a termo.
É importante ressaltar que há um sinal de
suavização em recentes falas do presidente do Banco Central, Roberto Campos
Neto, que vem falando sobre a melhora do cenário. A Selic está em 13,75% há
sete reuniões, e o tom duro dos comunicados, em especial das reuniões de
fevereiro e março, foram pontos de tensão entre a autoridade monetária e o
Banco Central.
Um cenário mais otimista seria a retirada do trecho
“não hesite em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não
transcorra como o esperado". Além de retirar essa parte, colocar o termo
“neste momento” na parte que diz que “O Copom enfatiza que, apesar de ser um
cenário menos provável, não hesite em retomar o ciclo de ajuste caso o processo
de desinflação não transcorra como esperado”. Por fim, uma decisão apenas em um
cenário muito otimista, reforçaria a ideia de que os juros seriam reduzidos em
agosto e diria que os fatores de risco agora tendem para a direção de menos
inflação.
Os indicadores financeiros trazem bons sinais para
basear uma mudança de direção na política monetária. Os motivos para pensar na
possibilidade de um espaço para uma redução agora vão desde os dados de
atividade que mostram uma demanda muito fraca, como fica comprovado pela
contribuição negativa da absorção interna para o PIB do 1º trimestre, até os
números da inflação corrente e das expectativas de inflação em clara tendência
de desaceleração.
Todavia, uma espera mais longa para começar a flexibilização
não pode ser descartada, principalmente devido às perspectivas de política
fiscal e parafiscal instáveis
Existe espaço para reduzir a
taxa na próxima reunião?
No curto prazo, esperava-se que o IPCA fechasse
2023 próximo de 6%, ou seja, já é possível ver dentro do intervalo da meta de
inflação neste ano, por esse motivo, a queda da Selic pode ser dada como
bastante provável. O “quando”, no entanto, ainda depende fundamentalmente do
balanço a ser feito pelos integrantes do Copom quanto ao cenário fiscal deste e
dos próximos anos, o que está em definição política neste momento.
Chegou o momento de baixar os
juros da taxa Selic?
No início de janeiro, antes mesmo do caso Americanas,
as projeções da Federação já indicavam uma queda na expansão da carteira de
crédito em 2023, tanto para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas.
As premissas dessas projeções estavam ancoradas nas
incertezas quanto à política fiscal do novo governo, levando a acreditar que a
flexibilização da política monetária pudesse ser adiada para fazer frente ao
controle da inflação.
Entretanto, a instabilidade no mercado de crédito
causada pelo evento Americanas e por outros grandes nomes do mercado trouxe um
elemento extra à cena. Essa instabilidade levou os bancos a aumentar sua
provisão para inadimplência, retomando uma postura mais conservadora na
concessão de crédito.
É exatamente esse o fator que pode antecipar o
início do ciclo de queda da Taxa Selic, dada a importância estrutural do
mercado de crédito para o desenvolvimento econômico do país.
Quais setores se beneficiam
com isso?
Historicamente, o setor bancário é um dos que se
beneficiam com a manutenção da taxa Selic. Isso acontece porque os bancos
conseguem aumentar o “spread bancário” nas transações de crédito, obtido com a
diferença entre os juros que os bancos pagam quando os clientes investem em
algum produto oferecido por eles e os juros cobrados nos empréstimos ou
financiamentos. Com isso, eles conseguem elevar as margens de lucro.
Por isso, tem se tornado cada vez mais comum
investidores alocarem recursos em grandes bancos visando ao pagamento de
dividendos.
Os bancos de grande capitalização aqui no Brasil
também são historicamente resilientes, conseguem se adaptar a diferentes
cenários e podem ser boas escolhas para o investidor.
Apesar disso, os investidores devem encarar o
mercado de ações pensando no médio e longo prazos. Não quer dizer que não
existam oportunidades na bolsa ou que o investidor deva correr desse tipo de
ativo. Cenários de curto prazo, como aumentos de juros e políticas monetárias,
devem ser analisados com cuidado.
Qual deve ser a postura
adotada pelo investidor?
A Selic sinaliza ao mercado os juros que vai pagar
a dívida dos brasileiros. Uma das formas de captação de recursos para o
pagamento dessas dívidas é por meio de títulos públicos. A outra é pegar
dinheiro no mercado.
A queda da Selic significa que o caixa brasileiro
vai pagar menos em juros e, por consequência, vai remunerar menos seus
credores. Ou seja, o banco vai receber menos e vai pagar menos, o que significa
que todos os investimentos atrelados à Selic passarão a render menos.
Mas vale lembrar que, com a queda da Selic, caem os
juros em todo o mercado. Isso significa juros mais baixos para empréstimos e
investimentos produtivos, como maquinário, modernização e até mesmo consumo.
Afinal, a taxa básica de juros mais baixa sempre é um artifício diretamente relacionado
aos estímulos ao consumo.
Renda fixa e a renda váriavel
Na renda fixa, investimentos como o CDB, LCA (Letra
de Crédito Agrícola), LCI (Letra de Crédito Imobiliários), Fundos DI, remuneram
quem aplica pagando um percentual de algum indexador, sendo o principal o CDI.
Como o valor da chamada “taxa CDI” é sempre muito
próximo da Selic, costuma seguir suas oscilações. Isso significa que a Selic
mais baixa faz cair o CDI, o que torna seus investimentos de renda fixa menos
rentáveis.
Na renda variável, o impacto da Selic é um tanto
quanto imprevisível. A bolsa brasileira se comporta de um modo muito próprio,
por isso é preciso analisar a situação de cada empresa listada.
Uma saída, por exemplo, é sempre escolher um bom
fundo de ações para aproveitar a boa rentabilidade da Bolsa.
Pensando na queda da Selic, a poupança se torna um
investimento ainda mais impraticável devido à baixíssima rentabilidade. O
investidor que busca ganhar dinheiro e aumentar o patrimônio, precisa entender
que a Selic baixa significa se livrar ao máximo de taxas e tributos.
Aplicações de renda fixa e variável, em muitos
casos, não possuem nem taxas administrativas. Esse é o caminho para o
investidor com a queda da Selic.
Com a queda na taxa de juros, os títulos de renda
fixa, incluindo o Tesouro Direto, podem deixar de ser opções tão rentáveis,
embora isso não seja uma regra. É possível conseguir grandes lucros mesmo nesse
cenário.
Boas oportunidades no mercado podem ser
encontradas, como os títulos do Tesouro IPCA, por exemplo. Eles têm sua
rentabilidade composta por duas partes, uma prefixada e outra pós-fixada, que é
atrelada à inflação. Por isso, esses títulos garantem ganhos reais e,
dependendo da taxa prefixada, podem gerar boa rentabilidade.
No que diz respeito à taxa de câmbio, o aumento ou
queda da taxa básica de juros da economia também reflete no câmbio,
principalmente no que se refere ao dólar.
Quanto maior a taxa de juros, maior o grau de
investimentos estrangeiros no país e vice-versa. Ou seja, em alta, a Selic atrai
capital estrangeiro para dentro do Brasil e com uma maior oferta de moeda
estrangeira no País, especialmente o dólar, o real se valoriza frente a essas
moedas.
Com a desvalorização da moeda norte-americana, o
custo da importação diminui. Ou seja, os produtos importados ficam mais
baratos. Por causa disso, o Brasil aumenta o nível de importação, comprando
mais produtos de fora do país.
Isso faz com que haja uma maior concorrência entre
produtos nacionais e importados, acompanhada por uma diminuição dos preços e,
consequentemente, uma queda da taxa de inflação.
Como ficam as ações listadas
no Ibovespa?
Ações relacionadas a bens de consumo, como
farmacêuticas, indústria de alimentos e afins podem se valorizar com a queda da
Selic.
Nesse cenário de rendimento menor, as empresas
preferem investir em suas estruturas e na capacidade produtiva. Companhias
listadas que passarão por esse processo também devem valorizar seus papéis.
As ações podem apresentar maior rentabilidade e liquidez, mas com risco mais alto. Apesar dos sinais positivos da economia, elas são sempre investimentos de alta volatilidade.
Luiz Felipe Bazzo - CEO do transferbank, uma das 15 maiores operações de câmbio dentre as corretoras de câmbio do Brasil. O executivo também já trabalhou em multinacionais como Volvo Group e BHS. Além disso, criou startups de diferentes iniciativas e mercados tendo atuado no Founder Institute, incubadora de empresas americanas com sede no Vale do Silício. O executivo morou e estudou na Noruega e México e formou-se em administração de empresas pela FAE Centro Universitário, de Curitiba (PR), e pós-graduado em finanças empresariais pela Universidade Positivo.
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