Mulheres
representam 58% dos pesquisadores brasileiros, mas apenas 7% na Academia
Brasileira de Ciências
O número de mulheres na ciência brasileira é superior ao número de homens. O número de mulheres na mais alta instância da ciência brasileira é inversamente proporcional. Tal discrepância pode estar relacionada ao contexto social em que a sociedade privou, por muito tempo, as mulheres do acesso à educação e, ainda hoje, reflete em como a sociedade científica a enxerga.
O estudo de caso “Androcentrismo no Campo Científico: Sistemas Brasileiros de Pós-Graduação, Ciência e Tecnologia”, 2019, apontou que 58% dos bolsistas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) são mulheres. Contudo, elas são a minoria quando se fala em coordenação de grupos de pesquisa, somando apenas 38%; ou, ainda, 25% como bolsistas de pesquisa no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Já, no diz respeito ao número de cadeiras ocupadas na Academia Brasileira de Ciências (ABC) esse número cai drasticamente e corresponde a 7% apenas.
Para a cientista e professora do IBMR, Anna Léa Silva Barreto, apesar do acesso, as mulheres ainda enfrentam muitas barreiras invisíveis para conquistar seu espaço. “Muitas vezes, nós não temos crédito e precisamos provar nossa eficiência, o nosso conhecimento. Entendo que essa é uma questão social, em que as mulheres sempre foram subjugadas de alguma forma pelos homens em uma sociedade patriarcal. Para esse cenário mudar, é preciso mudança de mentalidade que precisa acontecer não só nos homens, mas nas próprias mulheres também”, afirma a professora.
Bióloga, atuante na área de microbiologia, Anna Léa vê na ciência uma alternativa de quebra de barreiras e paradigmas estabelecidas ao longo da história. “É contribuir como a gente pode com o nosso trabalho, com o nosso olhar para ciência no mundo de uma maneira geral”, analisa.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para
a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a cada 10 ocupações em ciência,
tecnologia, engenharia e matemática no Brasil, apenas três são ocupadas por
mulheres. No âmbito global, o relatório "Decifrar o código: educação de
meninas e mulheres em ciências, tecnologia, engenharia e matemática"
aponta que apenas 28% dos postos de pesquisadores de todo o mundo são ocupados
por mulheres. A complexidade desses dados faz com que Anna, que também é
pós-doutoranda na área de Microbiologia e Parasitologia se sinta uma vitoriosa
em sua trajetória acadêmica. “Eu me considero uma vitoriosa por chegar onde eu
cheguei. Quantas mulheres negras são doutoras nesse país? Eu fui a segunda
pessoa da minha família a me graduar, a primeira da família a ter doutorado.
Então eu me considero, sim, uma vitoriosa”, se emociona.
Barreiras além do gênero
Ser preta, de origem humilde e se tornar cientista.
A realidade da professora Anna Léa faz parte da minoria apontada por uma
pesquisa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep), que evidencia o baixo número de mulheres negras
doutoras: inferior a 3%. Número que motiva a cientista a encorajar outras
mulheres a persistirem pelos seus objetivos, especialmente, se forem
científicos. “Ser cientista é fascinante. É poder descobrir coisas novas,
enxergar as coisas de uma forma diferente. Então eu digo a todas as meninas, a
todas as mulheres que têm o desejo de um dia serem cientistas que sigam em
frente e quebrem as barreiras que forem impostas a elas. Mesmo que essas
barreiras sejam muitas vezes invisíveis. Estudem, sejam curiosas, conversem,
conheçam pessoas do nicho que vocês querem atuar e sejam cientistas. A gente
precisa de mais mulheres cientistas e só vamos agregar ao mundo como um todo
com o nosso conhecimento e com a nossa percepção. Sejam negras, trans,
indígenas, brancas, sejam cientistas. Vocês podem o que vocês quiserem”,
incentiva.
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