Que uma noite de sono bem dormida pode trazer inúmeros benefícios não é nenhuma novidade. Dormir bem pode, entre outras coisas, regular os sistemas do corpo, os hormônios, recuperar desgastes físicos e mentais, e evitar que efeitos contrários, oriundos da falta de sono, como pré-diabetes, depressão, fadiga e dificuldade em manter o foco, por exemplo, surjam e prejudiquem o indivíduo.
Estudos mostram que uma boa noite de sono, para a maior parte das pessoas, tem
entre 6 e 9 horas, podendo variar de pessoa para pessoa. Dormir menos ou mais
do que essa variação recomendada pode aumentar o risco de problemas
cardiovasculares e de outras doenças como o diabetes, a demência,
aterosclerose, ansiedade, depressão, entre outras.
Ter sono regular é essencial para todos os indivíduos, contudo, pensemos em
atletas, em especial os de alto rendimento, aqueles que praticam esportes para
os quais a aptidão física é essencial e demanda uma otimização dos recursos
corporais e técnicos. Nomes como LeBron James, um dos maiores jogadores de
basquetebol de todos os tempos, Roger Federer, ex-tenista suíço que já foi
recordista de títulos, assim como os atletas de futebol, que estão competindo
pela Copa do Mundo, o torneio esportivo mais importante da atualidade, já
falaram abertamente sobre suas rotinas de preparação física, que incluem
jornadas de sono que podem chegar a 12 horas diárias, bem acima da média
mencionada acima. Por que?
Atletas de alto nível ou de esportes que exigem muito do físico (e também da
mente), estão suscetíveis a uma série de problemas. Uma partida de futebol de
noventa minutos, uma luta de boxe com vários rounds de combate físico que pode
afetar a integridade do atleta, um ciclista percorrendo as gigantescas
corridas, entre vários outros. Todos eles elevam o próprio limite.
O neurocientista inglês Matthew Walker diz que o sono pode ser “a melhor droga
de aprimoramento de desempenho”. E concordo com ele, uma boa noite de sono para
esses esportistas, pode trazer inúmeros benefícios. Dormir bem pode reduzir
drasticamente o risco de lesões, por exemplo, pois é nesse momento que o corpo
se recupera de todo o estresse acumulado durante o dia, das rotinas muitas
vezes diárias de treinos e competições. Boas noites de sono também garantem
melhores reflexos e maior velocidade, atributos necessários para jogadores de
futebol e basquete, por exemplo.
De acordo com um estudo publicado na Fatigue Science, uma simples noite
mal-dormida pode diminuir o poder de reação em 300%, enquanto a recuperação
pode levar dias. Para termos uma ideia, o tempo entre uma partida e outra do
campeonato brasileiro é menos de uma semana. A Copa do Mundo de 2022 acontecerá
entre 20 de novembro e 18 de dezembro, menos de um mês de muito desgaste. Para
competições como essa, o ideal é que os atletas aumentem consideravelmente seu
tempo de sono pelo menos algumas semanas antes, mantendo uma rotina, acordando
e dormindo nos mesmo horários.
Como costumo enfatizar, os efeitos deletérios da falta de sono não são
exatamente reversíveis, isto é, os anticorpos que não foram produzidos, por
exemplo, já não foram, e isso deixa o organismo mais suscetível a infecções e
inflamações. A atividade física opera milagres e tem sim o potencial de nos
ajudar a aprofundar mais o sono e, em parte, recuperar a sensação de
restauração, mas a busca do sono perdido é um mito!
Michael Phelps, maior medalhista da natação, dormia em uma câmara de sono que
simulava uma altitude de mais de 2.000km, para forçar o corpo a ter maior
circulação durante as provas; Usain Bolt, também, atribui seu sucesso ao
investimento nas boas horas de descanso. Não é por acaso: mais motivação,
recuperação muscular, melhor foco e reflexo, redução do estresse e da chance de
lesões, mais velocidade, sem contar os aspectos mentais, como a regulação emocional
que depende de um sono que passe por todas as fases, e que sabemos ser tão
importantes quanto os fatores físicos. Se posso assim dizer, para que atletas
tenham alto rendimento, precisam de um verdadeiro sono dos deuses do Olimpo.
Laura Castro - sócia-fundadora e diretora de psicologia na Vigilantes
do Sono. Psicóloga da saúde e psicanalista (CRP:
06/83226). Formada em psicologia pela Universidade Estadual de Londrina (2005)
e com especialização em Curso Fundamental de Freud à Lacan (2007). Tem mestrado
com ênfase em Medicina e Biologia do Sono (2011) e doutorado em Cardiologia
(2022), ambos pela Universidade Federal de São Paulo, com período sanduíche no
Dana-Farber Cancer Institute, da Universidade de Harvard (2019-20). Atuou como
pesquisadora, estatística e gerente administrativa e de operações no Instituto
do Sono em São Paulo e é psicóloga do sono pela Associação Brasileira do Sono e
Sociedade Brasileira de Psicologia (2017), com mais de 15 anos de experiência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário