A pandemia, além dos inúmeros impactos negativos, também fez o papel de justificativa perfeita para inúmeras falhas já existentes em algumas empresas, departamentos e instituições, seguido pela frase: Então, por causa da pandemia...
Na área educacional, as escolas se viram em apuros
para atender as demandas recorrentes e ainda responder a uma verdadeira
avalanche de ligações, e-mails e mensagens de pais que, inseguros, degustavam
um sentimento de vazio educacional, uma forte sensação de “tempo perdido” devido
à mudança no formato das aulas. Reclusos em seus lares e de mãos atadas, muitos
pais perceberam que "brincar” de ensinar e exercer o ofício de professor
não era algo tão simples como cobravam dos docentes, e assim, passaram a
valorizar muito mais o trabalho realizado por esses profissionais dentro e fora
da sala de aula. Assim como em Geni e o Zepelim, as escolas ouviram súplicas
favoráveis de retorno às aulas presenciais, e no exercício da empatia veio à
tona o reconhecimento da classe docente.
A rotina dentro dos lares mudou e a pressão
aumentou, agravada pela carga de trabalho ou ainda pela perda dele, muitos
foram obrigados a apontar os holofotes para a educação dos filhos e isso fez
pais presenciarem uma atividade estudantil pífia, evidenciando o abismo
existente entre as partes, algo que antes era terceirizado aos professores e às
instituições de ensino, agora era obrigação direta dos pais. O lado bom é que
muitos perceberam a necessidade iminente de estarem mais presentes.
Entre os menos envolvidos na vida escolar dos
filhos, iniciou-se uma tentativa de encontrar um “culpado”, alguém que pudesse
pagar essa conta, seguida do questionamento: Será que esse ensino remoto
funciona mesmo? Ou ainda: Devo trocar de escola, já que ele não está se
adaptando ao modelo on-line?
Essa reflexão está ligada ao grau de valorização da
educação dentro dos lares brasileiros, geralmente baixo, e agora, essas
famílias sentiram os efeitos negativos. Para um filho que cumpria, antes da
pandemia, uma rotina de estudos em um lugar adequado, tinha o respeito das
pessoas para exercer as atividades, estudava distante de distrações como
videogames, celulares e, principalmente, foi educado a valorizar o estudo
observando o exemplo de pais presentes, certamente obtiveram resultados excelentes.
Em contrapartida, pais que não estimulam uma rotina de estudos, cedem às
distrações, interrompem o estudo permutando tarefas cotidianas, veem as escolas
como “depósitos” de filhos e ainda não dão o exemplo dentro de casa, certamente
perderam muito tempo.
A palavra-chave para essa questão é a
terceirização. Essa “cultura”, aplicável em inúmeros casos, definitivamente não
se aplica quando se trata da educação de filhos. Isso ocorre porque muitos pais
não compreendem o verdadeiro papel da escola. Essa falta de compreensão faz com
que as instituições de ensino absorvam grande parte das demandas educacionais
exigidas pelos pais que, até o presente momento, sobrecarregam a escola com
exigências, cobranças e atividades que não são obrigações dos professores e
coordenadores.
Compreender que escola e pais devem andar juntos,
sem qualquer protecionismo exagerado, deixando a carga emocional para aplicar
em casa e visando o bem do aluno deve ser o objetivo final.
Parece que a pandemia veio realmente para nos tirar
da zona de conforto, e esperamos que o fim de Geni e o Zepelim não se repita em
relação aos professores e às instituições de ensino e, mesmo que antigo, a
pandemia fez valer o ditado: Lugar de educar criança é em casa.
Fabio Carneiro - professor de Física no Curso Positivo.
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