Vencedora de mais
de 30 prêmios literários, escritora Jenny Rugeroni reflete em novo livro dramas
familiares e problemas sociaisDivulgação
Filha de pai alcoólatra e histórico de
relacionamentos abusivos, Jenny Rugeroni teve que lidar com a
codependência por décadas. Na obra ficcional O ano em que não choveu,
ela mostra que há caminhos para buscar ajuda, resgatar a autoestima e construir
relacionamentos mais saudáveis.
O olhar humanizado da autora refletido nos livros é
um convite para reflexão sobre problemas sociais: desemprego, alcoolismo,
gravidez na adolescência e machismo estrutural. Ela retrata a empregada
doméstica, o trabalhador rural e a balconista da padaria de forma lírica e
realista ao mesmo tempo. Na entrevista abaixo Jenny detalha o que transferiu
das vivências pessoais para a narrativa. Confira:
- 1.
Quando e como surgiu sua paixão pela escrita?
Jenny Rugeroni: Minha mãe
era bibliotecária e me incentivou a ler desde muito cedo. Sempre fui fascinada
pelo mundo dos livros. Assim que comecei a juntar as letras, criava pequenas
histórias que falavam de amizade e aventuras. Na adolescência, escrevia uns
poemas bem dramáticos, porque tudo que eu sentia era muito intenso e eu
precisava extravasar de alguma maneira.
Tive que fazer uma pausa quando me tornei mãe.
Assim que meus filhos cresceram um pouco, escrevi meu primeiro livro “A
Herdeira do Silêncio”, sobre uma mulher brasileira que luta para sobreviver em
meio à pobreza e aos obstáculos. Hoje, tanto nos romances como nos contos, meu
foco são os dramas familiares e os problemas sociais.
- Como
surgiu a oportunidade e motivação de escrever “O ano em que não choveu”? O
livro é também inspirado nas suas vivências pessoais?
Jenny Rugeroni: Costumo
dizer que a gente só consegue escrever bem sobre aquilo que conhece. Por mais
fictício que seja, ao descrever uma situação de medo, por exemplo, o autor se
baseia em sua própria experiência com o medo. Então boa parte do livro é
inspirada nas minhas vivências, mas não chega a ser autobiográfico. Eu diria
que se enquadra melhor no gênero “autoficção”. A motivação foi a vontade de
compartilhar o que aprendi com outras mulheres que vivenciam situações
semelhantes.
- Qual
é a principal mensagem que o seu livro traz ao leitor?
Jenny Rugeroni: Antes de
mais nada, procuro mostrar um pouco do que é a codependência, uma situação
muito comum entre familiares de dependentes químicos, mas desconhecida pela a
maioria das pessoas. E que na vida real, as histórias de amor não são
perfeitas, porque as pessoas também não são. Mas mesmo assim é possível
encontrar uma maneira de viver bem.
- De
que forma você acredita que a sua obra pode ajudar mulheres e familiares
codependentes?
Jenny Rugeroni: Eu lidei
com a codependência durante décadas, sem compreender do que se tratava. Por
desconhecimento, existe um certo preconceito, e muitas mulheres são julgadas
como “mulher de malandro” ou aquela que “gosta de apanhar”, sendo que, na
maioria das vezes, estão só recriando aquilo que tiveram na infância, e no
fundo não se sentem merecedoras de algo melhor. Por outro lado, existe o
conceito de que é bonito se sacrificar pelo outro, que esse é o dever das
esposas e mães.
Basicamente, é preciso aprender a cuidar de si
mesma, estar bem psicologicamente, para ter condições de construir
relacionamentos mais saudáveis. Na teoria parece simples, mas é muito difícil
para uma mulher codependente conseguir fazer isso sozinha. Então, o meu
propósito com o livro é mostrar alguns caminhos possíveis para obter a ajuda
necessária.
- Você
é autora de outros dois romances, publicou diversos contos e lançou
recentemente este belíssimo drama contemporâneo; você tem outros projetos
literários em mente para o futuro?
Jenny Rugeroni: Estou
finalizando a continuação do romance “Um Céu de Estrelas Curiosas”, que aborda
a desigualdade social através de uma história de amor ao longo de várias
décadas. Nesta sequência, o foco é na história dos filhos e netos da
protagonista.
Durante a pandemia, mantive um registro dos
acontecimentos e sensações que vivenciei, e que servirá de subsídio para um
romance sobre a forma como o isolamento e as incertezas em relação ao futuro
afetaram as relações familiares.
Também estou iniciando pesquisas sobre mulheres na
política, porque tenho planos de escrever sobre o assunto. E, ocasionalmente,
escrevo contos ou crônicas sobre assuntos diversos, de acordo com a inspiração
ou com as demandas do momento.
Jenny Rugeroni - bancária, formada em Comércio
Exterior e mãe de dois filhos. É autora dos romances “A Herdeira do Silêncio” e
“Um Céu de Estrelas Curiosas”, além de diversos contos e crônicas de sucesso,
entre eles os premiados “Identidade”, “Um passo no escuro”, “O crucifixo” e “A
idade do exagero”. Publicou em 2020 a versão digital do livro “O ano em que não
choveu”, que foi premiado pela União Brasileira de Escritores. Em 2021, o livro
ganhou uma versão impressa, através do edital 50/2020 do PROAC/SP.
Para
saber mais sobre o livro “O ano em que não choveu”, clique aqui!
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