As empresas devem dar primordial atenção e cuidado no oferecimento de um ambiente de trabalho saudável para os seus empregados, sob pena de serem responsabilizadas pelos eventuais danos causados pela doença
Desde o início de 2022, com a nova classificação da
Síndrome de Burnout como doença ocupacional pelo Ministério da Saúde, a
síndrome deixou de ser tratada apenas como um distúrbio psíquico, passando a
ser definido como “estresse crônico de trabalho que não foi administrado com
sucesso”. Por isso, as empresas deverão ficar mais atentas à saúde mental de
seus empregados, sob pena de serem responsabilizadas pelos eventuais danos físicos,
morais e patrimoniais causados pela doença, também denominada de Síndrome do
Esgotamento Profissional.
Para o advogado do escritório VC Advogados, Sérgio
Gonçalves, com a inclusão da Síndrome de Burnout como uma doença ocupacional em
que o trabalho é o fator de risco, as empresas devem ter atenção e cuidado no
oferecimento de um ambiente de trabalho saudável e seguro para os seus
empregados. “As empresas devem estabelecer um programa de prevenção de riscos
adequado, oferecendo um ambiente de trabalho limpo, organizado, bem ventilado e
iluminado, com móveis em formato ergonômico”.
Outro ponto importante destacado por Sérgio, é estimular
canais de comunicação interna entre gestores e empregados como forma de
aproximar a empresa de seus empregados, criando um ambiente de trabalho leve,
respeitoso, transparente e mais agradável.
Segundo Gonçalves, as empresas também devem adotar em
seus programas de compliance meios de prevenção ao assédio e à fadiga física ou
mental de seus empregados, evitando cobranças exageradas, jornadas de trabalho
excessivas, remunerando corretamente as eventuais horas-extras ou concedendo
compensações com folgas e atrasos, respeitando os intervalos legais e os
descansos semanais e anuais de seus empregados.
De acordo com a reitora da Faculdade Instituto Rio de
Janeiro - FIURJ, Carla Dolezel, as metas e cobranças de cumprimento de tarefas
precisam construir objetivos que sejam desafiadores, porém que possam ser
executados, para que não se tornarem cobranças excessivas que desaguam em
situações de esgotamento da saúde mental do colaborador.
“É importante destacar que a responsabilização das
empresas no Judiciário deverá se basear em laudo médico que comprove que o
colaborador sofre com o estresse crônico de trabalho, além do histórico e da
avaliação do ambiente laboral, incluindo relatos de testemunhas”, afirma Carla.
O advogado Sérgio Gonçalves, alerta que com o diagnóstico
do Burnout é direito do trabalhador a emissão de CAT (Comunicação de Acidente
de Trabalho) pela empresa e o encaminhamento desse empregado para realização de
perícia ao INSS, onde será verificado a necessidade ou não de afastamento do
trabalho por tempo superior a 15 dias.
“Caso o afastamento seja superior a 15 dias com percepção
de auxílio doença acidentário pelo INSS, após o retorno ao trabalho do
empregado doente, este terá direito à estabilidade provisória no emprego pelo
período de 12 meses subsequentes, não podendo ser dispensado sem justa causa,
sob pena de a empresa ser obrigada a pagar indenização relativa aos salários
desse”, assegura Gonçalves.
Uma pesquisa da Kenoby com profissionais de recursos
humanos, mostrou que 93% deles disseram que as empresas ainda ignoram as
questões de saúde mental. Entre os entrevistados, 53,4% não sabiam dizer se a
empresa pretende investir em saúde mental. Outros 35% responderam que o
investimento virá em menos de um ano.
Os especialistas alertam que as empresas devem promover
campanhas educacionais internas sobre saúde, estimulando e até proporcionando
aos seus empregados condições para a prática de atividades que evitem o
desenvolvimento da Síndrome de Burnout, como por exemplo, terapia, a prática de
meditação, yoga, tai chi chuan, entre outros, como forma de evitar lesões por
esforço repetitivo e minimizar o estresse físico e mental decorrente do
trabalho. Tendo em vista que em quase dois anos de pandemia, o home office
cruzou os limites entre casa e trabalho, fazendo com que a vida pessoal e a
profissional se misturassem, mas nem sempre de maneira saudável.
O terapeuta e filósofo clínico, Beto Colombo, comenta que
o dia a dia no mundo corporativo é exigente ao extremo e a pressão por
performance e comportamento pode levar a esse desgaste emocional no trabalho.
“Muitas pessoas são exímias profissionais, já conheci
doutores em planejamento estratégico, mas que não sabem planejar suas questões
pessoais e existenciais”.
Colombo aconselha que quando notarmos que estamos misturando o papel de empresário ou colaborador com o papel de pai, filho, marido, falando sempre de trabalho em todos os lugares, é um sinal que essa pessoa não está sabendo dividir os papéis existenciais e precisa de um suporte clínico.
Todas essas iniciativas da empresa na busca de um melhor ambiente de trabalho e
de prevenção dos riscos devem estar devidamente documentadas para afastar
eventual alegação de culpa in vigilando do empregador.
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