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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Entenda seu padrão alimentar e não caia nas armadilhas das dietas da moda que comprometem a saúde

 Dra. Paula Pires, endocrinologista e metabologista pela USP, detalha que encontrar o equilíbrio alimentar é o ideal para perca de peso. Não há alimento vilão, mas padrões alimentares podem levar à obesidade e suas consequências metabólicas. 

 

O comportamento de dois participantes do BBB chamou à atenção de endocrinologistas, nutrólogos e nutricionistas. É valido restringir os carboidratos por um tempo e depois atacá-los ferozmente? E estar todo o tempo preocupado com o que se come, jejuando constantemente e enxergando um simples macarrão como um arqui-inimigo? 

“Não existe alimento vilão. Não existe alimento bonzinho. Nenhum alimento faz mal, nenhum alimento engorda, nenhum alimento emagrece. Tudo depende da frequência, da quantidade, das escolhas ao longo dos dias, meses e anos e, também, de cada indivíduo” explica a Dra. Paula Pires, endocrinologista e metabologista pela USP.


Para emagrecer, chegar ao peso ideal, são necessários quatro itens essenciais:

1 - Comer menos calorias;

2 - Exercitar-se;

3 - Comer com mais qualidade nutricional;

4 - Ter uma mente saudável.


Sabe-se que a base de todas as dietas conta com muitas fibras, muitos vegetais e legumes, fontes de gordura boa, prato colorido, controle de calorias, ausência de excesso de açúcar, de fast food, de comidas muito processadas e pouco nutritivas. Ou seja, comida de verdade, como se diz.

Sabendo disso, a melhor escolha é a dieta que mais se adapte à sua rotina, ao seu paladar e a cultura da sua família. “’Cada panela tem a sua tampa’ e você também terá a alimentação saudável que mais se adapte às suas preferências e que vá conseguir seguir a longo prazo. Se não conseguir escolher sozinho, procure ajuda especializada e de confiança”, aconselha a médica.


Não é proibido comer algo não saudável. Mas, entender do que se trata aquele algo não saudável, e escolher comer em determinados momentos, como pequenas exceções, não vai prejudicar sua saúde. “Muitas vezes vejo que quando entendemos que biscoito recheado não passa de gordura hidrogenada + excesso de açúcar e xarope de frutose + gordura trans e zero fibras e nutrientes, fica mais fácil trocar por um biscoito caseiro mais saudável e tão gostoso quanto. Exceção é exceção. Não fazer da exceção a regra é um ótimo começo rumo a um estilo de vida saudável”, alerta.


Dra. Paula, posso comer carboidratos?


A médica relata que escuta muito essa pergunta em seu consultório. O problema não é o consumo de carboidratos, e sim dos carboidratos errados e em excesso: farinhas brancas, açúcar, xarope, maltodextrina, tapioca, refrigerantes, sucos adoçados, doces em geral, sucos ricos em frutose e pobres em fibras como uva e laranja quando em grande quantidade, iogurtes adoçados, balinhas, biscoitos.

“Devemos dar prioridade aos carboidratos certos como vegetais, frutas com casca, leguminosas como feijão, grão de bico, lentilha, pois como também são fontes de fibras, atenuam o efeito do açúcar no seu corpo. Não é que não pode, mas o ideal seria nesses casos reduzir a porção e associar a alimentos de maior qualidade. Lembre-se: açúcar é açúcar!”, ensina Dra. Paula.


Qual seu padrão alimentar: hiperfágico prandial; beliscador, caótico, sofisticado, alcóolico ou emocional?


Para ajudar alguém a perder peso, é necessário levar em conta sua história pessoal, que é única e deve ser individualizada. Exames clínicos e laboratoriais se somam ao conjunto de informações ajuda a criar estratégias para o melhor tratamento.
“O padrão alimentar é um dos itens que mais importam na história pessoal de cada um e, detalhadamente, é importante avaliar em quais momentos estão os excessos e qual o tipo de alimento está sendo consumido exageradamente. Traçar esse perfil ajuda a direcionar qual será o melhor plano alimentar e qual será o melhor tratamento medicamentoso, se ele for necessário”, detalha a médica.


1- Hiperfágico prandial: é aquela pessoa que geralmente não come fora de horário, mas que na hora da refeição come uma quantidade calórica muito importante. Os pratos são grandes e são ingeridas grandes quantidades e grandes volumes de uma só vez.


2- Beliscador: é a pessoa que come pequenas porções ao longo do dia, várias vezes ao dia. O tamanho das refeições não é tão grande, o que muitas vezes leva a pessoa a achar que não come tanto e que também não sente muita fome, mas, muitas vezes, ela não tem consciência de quantas calorias ingere ao longo do dia. Geralmente, guardam alimentos na bolsa, gavetas, carro. Beliscam enquanto estão cozinhando ou passam o dia todo mastigando alguma coisa.
3- De padrão alimentar caótico: são aquelas pessoas que não têm nenhum tipo específico de padrão alimentar. Ora alimentam-se de forma hiperfágica, ora de forma beliscadora e, às vezes, ficam longos períodos em jejum. Não se preocupam com os horários das refeições. Não têm nenhum tipo de organização ou de preocupação com a sua forma de alimentação e, muitas vezes, nem recordam o que comeram no dia anterior, demonstrando o quanto não se atentam aos seus próprios hábitos alimentares.


4- Comportamento alimentar sofisticado: são pessoas que comem em horários regrados e alimentos muitas vezes até saudáveis, mas exageram nas calorias por elaborarem demasiadamente seu prato, com excesso de alimentos como azeite, castanhas/nozes/uva passas, molhos feitos com óleos ou a base de queijo ou creme de leite. “Por exemplo, aquela salada gourmet, com molhos, castanhas e queijos. As sobremesas também são superelaboradas, além dos vinhos, licor, entradas antes da refeição principal e etc. Geralmente são pessoas que gostam de cozinhar e apreciam um bom restaurante. Exageram, no entanto, nas calorias por rebuscarem demais o prato”, adverte a endócrino.


5- Alcoolismo: muitos ingerem muito mais calorias na forma de álcool do que na forma de alimentos e, nestes casos, deve-se também prestar atenção ao risco de deficiências nutricionais mesmo que o paciente esteja acima do peso.


6- Padrão emocional: são aqueles que comem apenas para aliviar certas emoções do dia a dia. E esses fatores emocionais servem de gatilho para comer mesmo estando sem fome ou sem vontade, como, por exemplo: uma ansiedade repentina por comida diante de alguma situação difícil, com sensação de alívio no momento de comer.


Atenção: você pode ter um padrão diferente em cada fase da vida


Dependendo do estado emocional, nosso nível de estresse e, no caso de muitas mulheres, até mesmo uma variação mensal relacionada à famosa TPM (tensão pré-menstrual) podem fazer o seu padrão alimentar oscilar. Na TPM, muitas mulheres ficam hiperfágicas e beliscadoras, ou seja, com fome, gula e ansiedade.
“O maior desafio do profissional de saúde é ajudar o paciente atingir a sintonia entre comida, m
ente e corpo. E lembre-se sempre: o primeiro passo é ter a consciência dos comportamentos alimentares que fazemos de forma automática, sem pensar”, finaliza Dra. Paula.


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