Triglicérides em excesso e taxas de colesterol muito altas podem não ser um sinal de má alimentação, mas indicar doenças como síndrome de quilomicronemia familiar (SQF) e hipercolesterolemia familiar (HF)
Nos exames de
rotina, ao se deparar com altos níveis de colesterol ou de triglicérides, é
muito comum que instantaneamente os hábitos alimentares ou até mesmo o aumento
da intensidade das atividades físicas sejam repensados. Entretanto, existem
doenças, como a síndrome da quilomicronemia familiar (SQF) e a
hipercolesterolemia familiar (HF), que apresentam como principal sinal o alto
nível dessas gorduras, mesmo que o indivíduo tenha hábitos totalmente
saudáveis.
Para melhor
compreender essas doenças relacionadas à gordura, é preciso entender o que são
os triglicerídeos (TGs) e o colesterol. Ambos são conhecidos como os dois
principais tipos de gordura que circulam pelo sangue. O triglicerídeo é um tipo
de gordura presente no organismo e serve como uma reserva de energia[1].
Enquanto o colesterol é um composto gorduroso utilizado na produção das
membranas celulares e de alguns hormônios[2].
Os triglicérides
provêm de alimentos ricos em carboidratos e gordura. Esses alimentos, quando em
excesso, podem elevar os níveis de triglicerídeos no sangue, causando
diferentes problemas cardiovasculares[3]. Em alguns casos é necessário realizar
ajustes na alimentação e, eventualmente, o uso de medicamentos entram no
tratamento para reduzir os índices. Quando a condição está relacionada aos
hábitos do indivíduo, em geral, os sinais clínicos podem estar presentes, no
entanto se tornam mais exuberantes quando estão relacionados a outras doenças
como a SQF.
A síndrome da
quilomicronemia familiar (SQF), considerada uma doença hereditária rara, é
responsável por apresentar altas taxas de triglicerídeos no sangue, podendo
chegar a concentrações de até 10.000 mg/dL, em geral acima de 1.000 mg/dL,
quando os níveis normais não deveriam passar de 150 mg/dL[1]. Estima-se que
entre uma e duas em cada um milhão de pessoas no mundo seja afetada pela
doença[1].
Segundo a médica
especialista Maria Cristina Izar, ‘’nesses casos, o sangue fica bastante
viscoso. Quando colhido, apresenta a aparência e consistência de um creme de
leite, assim, além do risco de entupimento da agulha da seringa, é possível que
os vasos capilares do pâncreas também fiquem obstruídos, impedindo que o sangue
passe para as células, o que resulta na falta de circulação e em complicações
que podem levar à morte’’.
A doença se
caracteriza por uma falha no gene responsável pela produção da enzima
lipoproteína lipase (LPL), ou por falhas em outros genes associados à função da
LPL[1]. A LPL tem o papel de digerir os triglicérides presentes nos
quilomícrons, que correspondem à primeira partícula de lipoproteína formada a
partir da ingestão de alimentos. Os quilomícrons, quando sofrem a ação da LPL,
transformam-se numa partícula que é removida pelo fígado[1,4].
A deficiência ou
ausência da LPL provoca um acúmulo de quilomícrons, que são partículas de
gordura que transportam os triglicérides pelo sistema sanguíneo. O excesso de
quilomícrons eleva muito as taxas de triglicérides o que pode desencadear dores
abdominais, pancreatites, alterações nos vasos da retina, chamadas de lipemia
retinalis e lesões cutâneas, chamadas xantomas eruptivos, por deposição de
gorduras nesses tecidos[1].
Embora a SQF seja
uma doença crônica, a idade em que os pacientes apresentam sintomas pela
primeira vez e os tipos de manifestações variam. O diagnóstico pode ser feito
através do exame clínico ou laboratorial. Inicialmente, o médico pode
identificar sinais, como hepatomegalia, que caracteriza o aumento anormal do
tamanho do fígado, depósito de gorduras na pele e, em alguns casos, na retina.
Entre as avaliações laboratoriais que podem ser feitas, está a da ausência ou
baixa atividade da enzima LPL por meio de uma amostra de sangue. Além disso,
também é possível realizar um exame genético[5].
No caso do
colesterol, existem dois tipos: o LDL (colesterol ruim), isto é, aquele que se
acumula nas artérias, estreitando-as, ocasionando acidente vascular ou doenças
cardíacas, e o HDL (colesterol bom), responsável por retirar o colesterol ruim
das artérias. Além disso, 70% dele é produzido pelo nosso corpo e somente o
restante através da alimentação, ou seja, é de suma importância considerar a
herança de alguma doença genética como uma possível causa de colesterol alto,
principalmente se o indivíduo leva uma vida saudável e ainda assim apresenta
alterações nos exames[6]. Ainda segundo a dra. Maria Cristina, o colesterol é
fundamental para a produção de vitaminas no organismo, como a vitamina D, além
de ser importante para a síntese de hormônios sexuais nas glândulas.
Por outro lado,
quando há um nível extremamente elevado de colesterol, é preciso investigar a hipercolesterolemia
familiar (HF), é uma doença genética do metabolismo das lipoproteínas cujo
modo de herança é autossômico codominante e que se caracteriza por níveis muito
elevados do colesterol da lipoproteína de baixa densidade (LDL-c), e pela
presença de sinais clínicos característicos, como xantomas tendinosos e risco
aumentado de doença arterial coronariana prematura[2].
A especialista
explica que a primeira indicação para o diagnóstico é a dosagem do colesterol
LDL. "Outro dado que completa o diagnóstico é a presença de muitos membros
da uma mesma família com níveis elevados de colesterol LDL ou total. Além de
ocorrências precoces de eventos cardiovasculares", completa.
Pacientes
heterozigotos, herdam de um dos pais um gene defeituoso para o receptor de LDL
e um gene normal, do outro. Entretanto a ausência de um de um gene funcional
resulta em um aumento no nível de LDL para aproximadamente duas vezes o normal
já na infância. Já os pacientes homozigotos herdam dois genes defeituosos, o
que faz com que os receptores de LDL não tenham funcionalidade o que leva os
pacientes a apresentarem uma hipercolesterolemia grave (650 a 1.000mg/dL)[2].
A médica reforça
que, em caso de evolução da doença, sintomas como nódulos benignos, que são
depósitos de colesterol nos macrófagos em células inflamatórias tendem a
aparecer ao longo dos tendões, de Aquiles, joelhos e cotovelos.
Referencias
[1]Falko JM.
Familial chylomicronemia syndrome: a clinical guide for endocrinologists.
Endocr Pract. 2018;24(8):756-763.progra/
[2]https://https://www.scielo.br/j/abc/a/YCTd7bFnndPZRyB9VRQzBqS/?lang=pt&format=pdf
[3]https://https://www.scielo.br/j/abem/a/vX8p8HfT5tPkrCngs7BQRCG/?lang=pt#
[4]Baass A, Paquee
M, Bernard S, Hegele RA. Familial chylomicronemia syndrome: an under recognized
cause of severe hypertriglyceridaemia [published online ahead of print, 2019
Dec 16]. J Intern Med. 2019;10.1111/joim.13016.
[5]Sugandhan S,
Khandpur S, Sharma VK. Familial chylomicronemia syndrome. Pediatr Dermatol.
2007;24(3):323-325
[6]SOUSA, Maria Karoline Silva de et al. O LADO
BOM E O RUIM NA BIOQUIMICA DO COLESTEROL. Mostra Científica da Farmácia,
[S.l.], v. 4, n. 2, aug. 2018. ISSN 2358-9124.
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