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quarta-feira, 21 de julho de 2021

Os benefícios da estratégia alimentar low carb no tratamento da gota

Doença inflamatória na articulação está associada à síndrome metabólica, condição que é combatida de maneira eficaz com a restrição do consumo de carboidratos

 

De acordo com análise publicada na revista científica “Arthritis & Rheumatology”, os casos de gota tiveram um aumento alarmante nas últimas três décadas em todo mundo. O estudo publicado em 2020 mostra que, entre 1990 e 2017, o número de pessoas que sofrem com a doença aumentou 5,5%, chegando a 41 milhões. A gota é uma doença inflamatória aguda e dolorosa, que ocorre frequentemente em uma articulação de cada vez apenas, sendo o dedão do pé um dos locais mais afetados. 

O médico e diretor-presidente da Associação Brasileira Low Carb (ABLC), José Carlos Souto, destaca os benefícios da estratégia alimentar low carb no tratamento da gota, especialmente pela reversão da síndrome metabólica. Além disso, um estudo apresentado em um congresso da American College of Rheumatology mostrou que 74 pacientes com sobrepeso ou obesos que foram submetidos durante seis meses à dieta Atkins (com alta quantidade de proteína e com pouco carboidrato) apresentaram diminuição dos níveis de ácido úrico, substância que é fator de risco e condição necessária para o aparecimento da gota.

Para entender como a estratégia low carb pode auxiliar no tratamento da gota, é preciso compreender os diversos fatores envolvidos no seu surgimento. O ácido úrico está intrinsecamente relacionado com a gota. Como explica Souto, a doença inflamatória ocorre quando há uma precipitação de cristais de ácido úrico dentro da articulação. "Por esse motivo as pessoas com gota quase sempre tem ácido úrico elevado", afirma. 

O ácido úrico, por sua vez, é um subproduto do metabolismo das purinas, compostos cuja origem são bases nitrogenadas presentes no DNA de seres humanos, animais e vegetais. O diretor-presidente da ABLC explica que por estarem presentes em grande quantidade nos alimentos que nós consumimos tradicionalmente (como carnes e frutos do mar) tem-se empregado uma dieta pobre em purinas a pacientes que tenham gota ou ácido úrico elevado. 

Contudo, conforme Souto, os ensaios clínicos randomizados já realizados sobre esse tipo de dieta indicam sua ineficácia clínica no combate à gota. " Isso acontece porque já foi demostrado que na atualidade que cerca de 80% do ácido úrico que os seres humanos produzem resulta de purinas endógenas (produzidas pelo próprio corpo) e não de purinas oriundas da alimentação", esclarece. 

Além disso, uma dieta pobre em purina, ou seja, que restrinja carnes e frutos do mar, acaba sendo uma estratégia alimentar rica em alimentos refinados, como carboidratos, que são metabolizados em glicose (açúcar) no organismo. A situação se complica, conforme o diretor-presidente da ABLC, quando é sabido, de acordo com estudos, que o consumo de açúcar produz elevações agudas nos níveis de ácido úrico. Assim, uma dieta pobre em proteínas não é apenas ineficaz no tratamento da gota, como pode favorecer o seu aparecimento. 

Souto afirma que a relação entre o açúcar e o ácido úrico é explicada pela maneira como a frutose (que corresponde a 50% da molécula de açúcar) é metabolizada no fígado. "São necessárias grandes quantidades de ATP para metabolizá-la e adenosina, presente no ATP, é uma purina, contribuindo para o aumento agudo dos níveis de ácido úrico no sangue", diz. 

Deve-se ressaltar que, apesar de estar associada à gota, o ácido úrico não é a única causa da doença inflamatória. Aliás, conforme o diretor-presidente da ABLC, apenas 10% das pessoas com ácido úrico elevado desenvolverão gota. "Não se sabe porque isso acontece, mas há indícios de que pessoas que têm inflamação crônica apresentam uma tendência a desenvolver doenças de natureza inflamatórias, ficando mais suscetíveis a apresentar gota quando têm o ácido úrico elevado", explica. 

Levando-se em conta que o quadro de inflamação crônica do organismo, decorrente do acúmulo de gordura visceral, é característico da síndrome metabólica, pode-se afirmar que essa condição favorece o desenvolvimento da gota em pessoas que tem propensão genética a apresentar o ácido úrico elevado. De acordo com Souto, a síndrome metabólica relaciona-se com a gota também pela capacidade de aumentar a quantidade de ácido úrico no organismo. "Quem sofre de síndrome metabólica costuma apresentar insulina elevada. Este hormônio atua sobre os rins diminuindo a excreção do ácido úrico, aumentando seus níveis no sangue", conta. 

Um dos fatores responsáveis pelo aumento de gordura visceral, que vai gerar a obesidade, responsável pela inflamação crônica e a síndrome metabólica, é o excesso de glicose (açúcar) no sangue. Dessa maneira, segundo o diretor-presidente da ABLC, o açúcar contribui dobrado para o surgimento da gota: além de favorecer a produção de ácido úrico pela forma como a frutose é metabolizada no sangue, é responsável pelo acúmulo de gordura visceral que leva à síndrome metabólica. 

Depreende-se daí a importância da dieta low carb no auxílio ao tratamento da gota. Mesmo sendo uma prática alimentar na qual as proteínas estão até mais presentes, ela favorece a melhora da síndrome metabólica e da resistência à insulina por meio do emagrecimento. "Assim, com o passar do tempo, os níveis de ácido úrico tendem a se reduzir e a gota tende a desaparecer", afirma Souto, ressaltando que há indivíduos que tem níveis geneticamente elevados. “Para estas pessoas, caso apresentem crises repetidas de gosta, o tratamento farmacológico medicamentoso se fará necessário em muitas ocasiões”, conclui.


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