Conceitos
da psicologia positiva podem ajudar a equilibrar a saúde mental
De acordo
com a pesquisa realizada pelo Instituto de Psicologia da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (Uerj), durante a pandemia, o número de casos de depressão
praticamente dobrou no país e os sintomas relativos à ansiedade e ao estresse
aumentaram 80%.
De fato,
2020 não tem sido fácil sob diversos aspectos, econômicos, sociais e
psicológicos, mas há formas de evitar o estresse e a ansiedade gerados pelo
momento. O bem-estar pode ser conquistado a partir do cultivo de virtudes e
potencialidades pessoais, focos do trabalho da psicologia
positiva. Confira abaixo 5 pensamentos que irão auxiliar a
tirar o melhor deste momento:
“Devo ter
mais autocompaixão”
Um dos
males modernos mais frequentes é uma profunda cobrança por sucesso e realização
pessoal, comumente, por meio do trabalho, que não raro é exagerado e impacta no
bem-estar do indivíduo, privando-o de prazeres como a companhia e amigos e
familiares e podendo gerar distúrbios, como a Síndrome de Burnout, ou seja, o
esgotamento emocional por exaustão extrema.
“Mesmo com
a paralização temporária de algumas atividades e a restrição de circulação,
muitos continuaram a se cobrar produtividade, muitas vezes, em nível até maior,
uma vez que a possibilidade de home office os eximiu do tempo gasto com o
trânsito, mas os levou a não limitar seu tempo de atividade profissional
diária”, analisa Flora Victoria, mestre em Psicologia Positiva Aplicada pela
Universidade da Pensilvânia.
Ela explica
que esta cobrança exagerada consigo próprio impacta diretamente na convivência
com o mundo exterior. O indivíduo percebe-se ansioso, sem paciência, e quando
se dá conta não se permite mais o prazer do convívio e pode até mesmo
apresentar sintomas físicos preocupantes.
“A
autocompaixão é o ato de carinho que alguém pode ter por si mesmo”, comenta
Flora. “O ideal é parar por um instante e se distanciar da própria situação
para um maior entendimento que leve a conexões mentais que possam estimular a
estabelecer limites para as tarefas cotidianas”, posiciona.
“Busco a
empatia e me aproximo do outro”
“O inferno
são os outros” já diria Jean-Paul Sartre, mas o convívio com os demais é uma
premissa da vida em sociedade. Sendo assim, mesmo que por vias
tecnológicas ou com os rostos tampados por máscaras, a conexão com o próximo é
inevitável, ou melhor, fundamental de acordo com a psicologia positiva.
“Há
evidências científicas de que o convívio com o próximo faz bem”, diz Flora --
“a sociabilidade começa a ser construída na barriga da mãe e se expande nas
fases de evolução do ser humano. Isolado, o indivíduo perde a identidade porque
ela é constituída a partir do encontro com o outro”.
Por isso,
embora qualquer um possa encontrar arestas em qualquer que seja a relação --
familiar, amorosa, profissional -- é importante lembrar que são elas que dão
sentido à vida. A especialista aconselha a treinar a resiliência, a paciência,
o entendimento e, em casos mais difíceis, até mesmo o distanciamento: “boas
relações são fundamentais para o bem-estar”.
“Eu presto
mais atenção às minhas emoções positivas”
Há uma
teoria na Psicologia Positiva chamada´broaden and build´que entende que as
emoções positivas aprimoram o repertório de ação do pensamento de um indivíduo.
“A
positividade, inclusive, ativa diferentes áreas do cérebro. Enquanto
sentimentos como satisfação, esperança, otimismo, entusiasmo, atingem o
neocortex, a negatividade de sentimentos, como medo, impotência, impaciência e
frustração ativam a amígdala”, explica.
Além do
ganho pessoal, a positividade tem efeito quase de “contágio”, ou seja, um
efeito cascata de melhora do ambiente, quase que imediato.
“Eu evito
focar no medo”
Medo é uma
das emoções negativas geradas na amígdala, como visto acima, e gera a
necessidade de correr ou lutar, o que envolve sensações físicas de stress, como
tensão, e outras descompensações.
Flora
explica que o medo foi fundamental para a sobrevivência do ser humano em tempos
remotos, quando era ele que alertava sobre os perigos, mas viver sob esta
influência constante gera malefícios imediatos e a longo prazo.
Por isso,
mesmo num contexto de pandemia, é necessário tomar cuidas, mas não se permitir
dominar pelo sentimento.
“Demonstro
gratidão pelo que já tenho”
Do outro
lado do espectro, a gratidão é uma das emoções positivas mais poderosas para
deixar fluir no dia a dia. E não se trata de apenas reconhecer o bem que o
outro faz em eventos específicos, mas de enxergar o lado positivo da vida
em ações cotidianas, como simplesmente acordar, ou até em algo que à primeira
vista seja negativo, mas que pode sempre levar ao aprendizado.
“Uma visão apreciativa do mundo leva a um estilo de vida que preza o ser grato pelo que ocorre ao redor. Implica em menos julgamento de valor e mais emoções positivas, opostas ao sentimento de depreciação por si próprio e pelo mundo, que pode levar à depressão”, explica a mestre em Psicologia Positiva.
E gratidão
é prática, enfatiza Flora -- “sabe-se que o conhecimento é produzido por
repetição, assim quanto maior a prática, menores são as distâncias entre os
neurônios e mais fáceis as sinapses entre eles. Portanto,
a gratidão pode ser absorvida pela prática e levar a melhores níveis
de serotonina e à sensação de bem-estar”.
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