Representantes do Ministério da Justiça e Segurança Pública discutiram a inclusão do país na Convenção de Budapeste, que reúne mais de 60 nações no combate a crimes digitais
O
isolamento social provocado pela pandemia de Covid-19 aumentou o número de
crimes digitais, o que reforça a necessidade de uma cooperação internacional,
uma vez que estes criminosos geralmente ficam baseados em países distantes de
suas vítimas. O diagnóstico é do delegado Alesandro Barreto, coordenador do
Laboratório de Operações Cibernéticas do Ministério da Justiça e Segurança
Pública.
“Estamos
numa pandemia de criminalidade digital. Somente no Brasil, temos mais de 400
milhões de dispositivos conectados, entre celulares, computadores, tablets etc.
A cooperação internacional é chave na luta contra a criminalidade cibernética.
Nenhum país sozinho consegue ter efetividade, porque este é um crime
transnacional. Necessita de repressão uniforme e cooperação entre as polícias e
a iniciativa privada”, disse Barreto, lembrando que o cibercrime envolve
diversos tipos de delitos, desde ataques a sistemas
bancários
até exploração sexual infantil.
Barreto
participou, na última sexta-feira (25), de webinar sobre a adesão do Brasil à
Convenção de Budapeste, um tratado internacional de combate ao cibercrime, que
reúne mais de 60 países, e ao qual o governo brasileiro deve aderir.
Embora
a Convenção de Budapeste esteja em vigor desde 2004, somente em 2019 o Brasil
foi convidado a fazer parte do acordo.
A
atual chefe da Assessoria Internacional do Ministério da Justiça e Segurança
Pública, Georgia Sanchez Diogo, acompanha o assunto desde 2006, quando o
Ministério Público Federal solicitou ao Ministério de Relações Exterior a
adesão do Brasil à Convenção.
“Naquela
ocasião e nos anos seguintes, o Itamaraty avaliava que não seria bom o Brasil
aderir a um acordo elaborado pelo Conselho Europeu e do qual não havia
participado da criação. Algumas autoridades, de diversos países, entendiam que
a Convenção não tinha um caráter universal”, lembra Georgia Diogo.
Em
2019, o então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, enviou novo
ofício ao Itamaraty, solicitando a adesão ao acordo, “com a maior rapidez
possível”. Ainda no passado, o país foi convidado a fazer parte da Convenção e,
em julho de 2020, o presidente Jair Bolsonaro encaminhou ao Congresso Nacional
o processo de adesão.
“Houve
uma mudança de mentalidade das autoridades no mundo todo sobre o cibercrime”,
aponta Georgia Diogo.
16
anos de atraso
Alesandro
Barreto reconhece que o Brasil já evoluiu no combate ao cibercrime, com o Marco
Civil da Intenet e agora com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Entretanto, somente a Convenção de Budapeste garante a cooperação entre os
países nas investigações destes delitos.
“A
Convenção torna possível a busca e apreensão remota de evidências e provas
digitais e deixa mais rápida e efetiva a troca de informações entre polícias”,
salienta.
Ele alerta que a adesão do Brasil ao acordo deve ser tratada com urgência. “Estamos 16 atrasados (a Convenção é de 2004). Os prejuízos são enormes. É necessário ser mais efetivo e demonstrar alinhamento global contra criminalidade cibernética”, diz o delegado.
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