O início da adolescência coincide com o final do
Ensino Fundamental, fase em que desabrocham as paixões e, com elas, o convite:
"quer namorar comigo?" Se tudo o que é humano não é estranho à
escola, o assunto do namoro deve ser tratado com naturalidade. Há adultos que,
pelo discurso defendido, deixam a impressão de que já nasceram adultos. Ligam o
dispositivo de memória seletiva e apagam as vivências da travessia dos 13 aos
18 anos, em que se articulam medo, angústia e prazer no mesmo segundo de sua
vida.
Namorar é uma ação humana; portanto, faz parte do
dia a dia de todos os que se ocupam da educação de adolescentes e jovens e
trabalham em favor da grande conquista que é aprender a lidar com as emoções
que emanam das relações nos espaços de convivência. Quando ouço de gestores de
escolas de Ensino Médio que os alunos não namoram porque é proibido, logo me
vem à mente: ah, coitados, como são iludidos! A visão ingênua de que, por ser
proibido, não acontece, não ajuda no tratamento, nem acolhe a angústia que esse
tema suscita.
Yves de La Taille, psicólogo e referência na área
de desenvolvimento moral, defende a construção dos limites no espaço escolar
sob três dimensões:
a) Os limites a serem transpostos – encorajar os
estudantes a conhecer os próprios limites, a fim de transpô-los, pois, afinal,
foi rompendo os limites do seu tempo que, por exemplo, a luz elétrica, o avião
e tantos outros objetos foram criados.
b) Os limites a serem respeitados – criados para
organizar o mundo social, que qualifica a liberdade em sua relação direta com a
responsabilidade. O semáforo, por exemplo, não foi criado para impedir o
deslocamento, apenas para organizá-lo.
c) Os limites para a intimidade – essa dimensão é
assegurada pela Constituição brasileira e estabelece a diferença entre o privado
e o público, bem como o respeito à privacidade e o controle de acesso dos
outros à nossa intimidade. Sendo o namoro algo de foro íntimo, pode estar aqui
um importante argumento para os que defendem a sua proibição em espaços
públicos, como por exemplo, na escola.
Quando compreendemos as três dimensões educacionais
do limite e o conceito de liberdade – associado à responsabilidade –, o maior
impasse educativo se encontra em discernir se o limite é um convite para o
outro lado – transposição – ou uma ordem para respeitar as fronteiras. Quanto
mais conhecemos os nossos estudantes e adentramos o restrito espaço de sua
convivência, mais entendemos que são criaturas ávidas por limites, interessadas
pelas descobertas que ultrapassem o óbvio, desde que sejam tocadas de forma
inteligente, estabelecendo e gerenciando vínculos positivos.
Namoro na adolescência é fato, sobretudo no Ensino
Médio, e deve ser tratado como todos os assuntos polêmicos, com diálogo franco,
a partir da empatia e da generosidade entre as gerações que habitam a escola.
Acedriana Vicente Vogel -
diretora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino
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