Mais um dado assombra o brasileiro. Novo
levantamento realizado pela Serasa Experian mostra que a inadimplência de micro
e pequenas empresas atingiu um patamar recorde de 5,3 milhões no país. Em
comparação com o mesmo mês do ano passado, houve uma alta de 6,9%. O estudo
aponta ainda que o resultado foi motivado pela alta da inflação, somada ao
fraco desempenho da atividade econômica, mas a verdade é que há diversos
fatores que implicam na inadimplência e que vão além de uma economia instável.
Entre todos eles, um merece destaque: a má gestão dos recursos.
E contra esse fato, não há argumentos que revertam
a situação. Isso porque, uma empresa pode ter como ponto alto, e até mesmo
estratégico, um time de vendas arrebatador. Pode ter um método de produção
extremamente ágil ou ainda um custo de produção baixo, que são fatores bem
característicos de pequenas empresas de serviço. Ainda assim, sem gestão e
organização financeira ela vai ter problemas e pode se tornar inadimplente. E
pior ainda: quebrar, porque isso é só uma questão de tempo.
Existe um ditado que diz que uma empresa pode não
dar lucro, mas tem que ter fluxo de caixa para não falir. E eu defendo essa
lógica. Porque não há fintech com crédito em excelentes condições, juros baixos
ou qualquer outro incentivo que resolva um problema de falta de controle do
capital que entra e sai de um negócio. Com má gestão, tais soluções só vão
tapar o sol com a peneira, pois é o mesmo que pegar dinheiro para vê-lo ir pelo
ralo.
Ousaria até mesmo a dizer que, se não gosta de
controlar o fluxo de caixa, não tenha uma empresa. É que um negócio,
independentemente de seu tamanho, é como um organismo vivo. Ninguém consegue
viver no limite de suas forças ou energias, pois certamente terá uma crise de
ansiedade, um burnout e vai parar. Do mesmo modo, pois vale a analogia, uma
empresa é um organismo vivo que não pode andar no limite seus gastos, sem ter
onde cortar, pois vai parar.
Outra comparação também ajuda. Se uma pessoa tem
com o carro, com o convênio médico ou ainda com a escola das crianças terríveis
custos escondidos, não previstos, uma empresa também os tem, e eles devem ser
identificados e controlados. Por isso, algumas dicas são fundamentais
para quem quer fazer uma melhor gestão, evitar a bola de neve da inadimplência
e o pesadelo de um possível “bankrupt”:
- Cuide
do seu orçamento – Mesmo em crise e com as vendas abaixo da meta,
as despesas continuam as mesmas. Só que isso não pode acontecer. É preciso
investir tempo para analisar o orçamento e identificar o que pode ser
cortado, postergado ou economizado.
- Se
você não tem todo o conhecimento em gestão, contrate um especialista da
área – é
muito comum, principalmente em pequenos negócios, que o dono seja aquele
jogador que ataca, defende e faz o meio de campo. Só que isso é letal
quando se trata de gestão. Fluxo de caixa não é para amador, é para
profissional. Deixar essa atividade sob a responsabilidade de quem nunca
gerenciou um negócio não dá certo. Investir em um profissional experiente
ou ainda na terceirização desse serviço por empresa competente pode
parecer um “alto custo”, mas com o tempo trará retorno.
- Visão
de futuro –
trabalhe sempre com três cenários, um otimista, um realista e um
pessimista. Mire no lucro do otimista, mas controle seus custos como no
cenário de um resultado pessimista, que necessita ser muito prudente. Em
outras palavras, se o resultado de um mês foi ruim, tome as providências
imediatamente. Não espere que o amanhã trabalhe para resolver a situação.
- Dívida,
renegocie –
Pague sempre primeiro todas as contas que têm os maiores juros ou que
certamente vão te dar dor de cabeça como impostos, cartão de crédito,
empréstimos ou financiamentos. Para as demais, evite o descontrole, mas na
urgência renegocie prazos e valores e evite obter créditos com bancos e
financiadoras.
- Se a
saída for o crédito, pesquise – Se buscar um crédito for mais interessante
do que os juros de uma conta, vá em frente. Porém, busque sempre opções
mais baratas e prazos mais longos do que os da dívida. Mas lembre-se, para
uma empresa que está endividada, o crédito é sempre caro. Cuidado.
E lembre-se uma empresa sem fluxo de caixa, está
doente. Medique antes que ela vá para a UTI. Reorganizar as finanças de um
negócio pode ser demorado, já que em média leva até dois anos e apresenta
muitas dificuldades. Nessas horas, toda a atenção com os custos fixos é válida,
pois são eles que costumam ruir uma empresa. E acredite, no final das contas, todo
esforço valerá a pena quando a empresa voltar a ter saúde financeira.
Dora
Ramos - consultora e orientadora financeira, além de
contadora e CEO da Fharos Contabilidade (www.fharos.com.br)
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