O voluntariado, da maneira como conhecemos, está
com os dias contados. Calma! Não estou profetizando o final da solidariedade.
Antes, estou falando sobre uma passagem para um outro patamar de atuação em
prol da coletividade; uma atuação fortemente qualificada e ancorada por um
fazer social em rede. Acha que estou exagerando? Que nada! Há três décadas
trabalho com comunicação e responsabilidade social em grandes companhias
nacionais e estrangeiras, desenvolvendo uma metodologia exclusiva de Avaliação
Qualificada da Imagem (AQI); nesse tempo, houve uma verdadeira revolução nos
programas de voluntariado corporativo e nas comunidades. Na essência, essa
transformação está sendo liderada por brasileiros que não querem apenas dedicar
algumas horas da semana ao bem comum. Eles querem mais! E eles têm razão. Vale
lembrar que somos a última geração que pode brecar o aquecimento global, mas
somos a primeira que pode acabar com a miséria absoluta no mundo.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta com 7,4 milhões de pessoas que
exercem algum tipo de trabalho voluntário – grupo que corresponde a 4,4% da
população com mais de 14 anos; a pesquisa mostra que de 2016 para 2017, houve
um aumento de 12,9% na atividade. Quando analisamos o perfil, vemos que a face
do voluntariado brasileiro é feminina: mais da metade das iniciativas são
lideradas pelas mulheres. Aliás, a própria história do voluntariado no Brasil,
iniciada em 1543, com a fundação da Santa Casa de Misericórdia de Santos, já
mostrava essa característica com as chamadas Damas Caridosas.
Embora a porcentagem de voluntários ainda esteja
aquém do que precisamos para acabar com a miséria, socioeconômica e de
espírito, os que estão na luta para melhorar o Brasil estão fazendo mais e
melhor. Deixaram de ser simplesmente voluntários para se tornar o que denominei
social
makers. Esses verdadeiros fazedores sociais são mentores ou
empreendem negócios de impacto social e ambiental, atuam como empreendedores
sociais, fundam e dirigem organizações sociais ou encontram nos institutos e
fundações um fértil campo profissional.
Mas não é só: na iniciativa privada, administram
empresas e marcas que se posicionam autenticamente diante de causas. E o que é
mais promissor: pessoas comuns, como eu e você, que compreendem que conectadas
pela tecnologia têm o poder de mobilizar pessoas e recursos em benefício da
sociedade. O que estou dizendo é que atuar com propósito de mudar o mundo se
tornou missão de vida e profissão de muitos de nós. Diante desse cenário, o
voluntariado teve que ser reinventado, assim como o papel das próprias ONGs que
– diante de uma crise sem precedentes – estão criando modelos híbridos e se
tornando negócios sociais que oferecem produtos e serviços com potencial de
ganhar escala.
A inspiração para estudar e ressignificar essa
atuação do voluntário tomou a forma de um conceito quando li uma matéria sobre
o empreendedorismo norte-americano. A reportagem falava que, em
2014, Barak Obama – então presidente dos Estados Unidos – afirmou apoiar o
movimento maker, classificando os makers como
protagonistas de uma nova revolução industrial. Em linha geral, o Maker
Movement é a face mais tecnológica e técnica da cultura
do Do-It-Yourself (sigla DIY, faça você mesmo), cuja
essência é a ideia de que pessoas comuns podem fabricar, construir, modificar e
inventar os mais diversos produtos, serviços e projetos. Inovação é o efeito
colateral desse movimento.
A informação se conectou, imediatamente, com o meu
envolvimento na curadoria do Festival de Inovação e Impacto Social (FIIS) que
lançou o termo social makersem um evento multifacetado realizado em Poços
de Caldas, Minas Gerais, em 2018. Hoje, associado a um grupo de social
makers –que atua na imprensa, agências de publicidade, negócios de
impacto social, grandes empresas, universidades e na filantropia – estamos
desenhando a edição 2019 do FIIS. A revolução dos social
makerscontinua e trará mais inovação!
Marcelo Alonso - foi
executivo de empresas como Natura, Vivo, Credicard e Dow. Hoje atua como
consultor em comunicação e sustentabilidade.
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