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quarta-feira, 3 de abril de 2019

O fim do voluntariado e a revolução dos social makers


O voluntariado, da maneira como conhecemos, está com os dias contados. Calma! Não estou profetizando o final da solidariedade. Antes, estou falando sobre uma passagem para um outro patamar de atuação em prol da coletividade; uma atuação fortemente qualificada e ancorada por um fazer social em rede. Acha que estou exagerando? Que nada! Há três décadas trabalho com comunicação e responsabilidade social em grandes companhias nacionais e estrangeiras, desenvolvendo uma metodologia exclusiva de Avaliação Qualificada da Imagem (AQI); nesse tempo, houve uma verdadeira revolução nos programas de voluntariado corporativo e nas comunidades. Na essência, essa transformação está sendo liderada por brasileiros que não querem apenas dedicar algumas horas da semana ao bem comum. Eles querem mais! E eles têm razão. Vale lembrar que somos a última geração que pode brecar o aquecimento global, mas somos a primeira que pode acabar com a miséria absoluta no mundo.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta com 7,4 milhões de pessoas que exercem algum tipo de trabalho voluntário – grupo que corresponde a 4,4% da população com mais de 14 anos; a pesquisa mostra que de 2016 para 2017, houve um aumento de 12,9% na atividade. Quando analisamos o perfil, vemos que a face do voluntariado brasileiro é feminina: mais da metade das iniciativas são lideradas pelas mulheres. Aliás, a própria história do voluntariado no Brasil, iniciada em 1543, com a fundação da Santa Casa de Misericórdia de Santos, já mostrava essa característica com as chamadas Damas Caridosas.

Embora a porcentagem de voluntários ainda esteja aquém do que precisamos para acabar com a miséria, socioeconômica e de espírito, os que estão na luta para melhorar o Brasil estão fazendo mais e melhor. Deixaram de ser simplesmente voluntários para se tornar o que denominei social makers. Esses verdadeiros fazedores sociais são mentores ou empreendem negócios de impacto social e ambiental, atuam como empreendedores sociais, fundam e dirigem organizações sociais ou encontram nos institutos e fundações um fértil campo profissional. 

Mas não é só: na iniciativa privada, administram empresas e marcas que se posicionam autenticamente diante de causas. E o que é mais promissor: pessoas comuns, como eu e você, que compreendem que conectadas pela tecnologia têm o poder de mobilizar pessoas e recursos em benefício da sociedade. O que estou dizendo é que atuar com propósito de mudar o mundo se tornou missão de vida e profissão de muitos de nós. Diante desse cenário, o voluntariado teve que ser reinventado, assim como o papel das próprias ONGs que – diante de uma crise sem precedentes – estão criando modelos híbridos e se tornando negócios sociais que oferecem produtos e serviços com potencial de ganhar escala.

A inspiração para estudar e ressignificar essa atuação do voluntário tomou a forma de um conceito quando li uma matéria sobre o empreendedorismo norte-americano.  A reportagem falava que, em 2014, Barak Obama – então presidente dos Estados Unidos – afirmou apoiar o movimento maker, classificando os makers como protagonistas de uma nova revolução industrial. Em linha geral, o Maker Movement é a face mais tecnológica e técnica da cultura do Do-It-Yourself (sigla DIY, faça você mesmo), cuja essência é a ideia de que pessoas comuns podem fabricar, construir, modificar e inventar os mais diversos produtos, serviços e projetos. Inovação é o efeito colateral desse movimento.

A informação se conectou, imediatamente, com o meu envolvimento na curadoria do Festival de Inovação e Impacto Social (FIIS) que lançou o termo social makersem um evento multifacetado realizado em Poços de Caldas, Minas Gerais, em 2018. Hoje, associado a um grupo de social makers –que atua na imprensa, agências de publicidade, negócios de impacto social, grandes empresas, universidades e na filantropia – estamos desenhando a edição 2019 do FIIS.  A revolução dos social makerscontinua e trará mais inovação!





Marcelo Alonso - foi executivo de empresas como Natura, Vivo, Credicard e Dow. Hoje atua como consultor em comunicação e sustentabilidade.


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