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segunda-feira, 15 de abril de 2019

Mito ou verdade? Saiba identificar as fake news de doenças respiratórias


Pneumologista desvenda as principais dúvidas sobre condições que atingem os pulmões, como DPOC e asma


Nos buscadores da internet, em aplicativos de mensagens e nas redes sociais, o que não falta é uma enorme quantidade de informações sobre saúde. A rede facilitou a criação de grupos de apoio para pacientes de diversas doenças, que permite a troca de experiências e informações conhecidas sobre sintomas e tratamento. Com tantas pessoas conectadas, as informações sobre saúde nas redes sociais podem ser produzidas por qualquer usuário. Não é difícil encontrar postagens sobre chás para asma, alimentos que curam a DPOC, entre outros. Essas informações são comuns para doenças populares, como as condições que atingem os pulmões.

Muitas vezes, esses assuntos tão atraentes e milagrosos podem ser armadilhas: as chamadas fake news. Esses conteúdos, geralmente criados sem validação de um médico, não tem comprovação científica. O problema está no potencial alcance dessas mensagens, já que, de acordo com a Pnad Contínua TIC 2017 do IBGE, mais de 126 milhões de brasileiros têm acesso à internet[i]. O Dr. José Roberto Megda, pneumologista da Residência de Clínica Médica do Hospital Universitário de Taubaté, aponta que o perigo é ainda maior no caso de doenças respiratórias. "Recebo alguns pacientes no consultório que me perguntam sobre posts de redes sociais. É importante que eles estejam próximos do especialista e se sintam à vontade para tirar todas as dúvidas com o pneumologista, evitando problemas com o tratamento". Confira, abaixo, os mitos e verdades de doenças respiratórias desvendados pelo Dr. Megda.


Apenas quem fuma ou já fumou tem doenças respiratórias.

MITO. O tabaco é, de fato, a principal causa de muitas doenças respiratórias, mas há outros fatores de risco, como poluição, fumaça de lenha, exposição a produtos químicos e poeira[ii] A mais conhecida entre as que têm ele como causa é a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, ou apenas DPOC[iii]. Ela indica, geralmente, a combinação de doenças que reduzem o fluxo de ar nos pulmões, provocando sintomas como falta de ar, tosse seca e pouca disposição para fazer as atividades do cotidiano. Costumam ser chamadas de bronquite crônica e enfisema[iv].


Pessoas com condições respiratórias não podem tomar leite.

DEPENDE. O Dr. Megda sinaliza que "alergias a alimentos pode impactar na respiração da pessoa e, se ela tiver alguma doença respiratória, potencializada por fatores alérgenos, podem ocorrer crises". É o caso da asma, que tem origem genética e se manifesta com os sintomas de falta de ar e sensação de chiado no peito. Os pacientes com a asma manifestam a doença ao entrarem em contato com elementos que sensibilizam as vias aéreas, o que podemos chamar de "gatilhos" das crises. Para quem é intolerante à lactose, o leite de vaca pode se tornar um gatilho. Para os demais pacientes, o importante é consultar o especialista e incluir o leite de forma equilibrada na dieta.


A bombinha usada para o tratamento vicia

MITO. As bombinhas não causam nenhum mal à saúde dos pacientes e são a opção de tratamento mais recomendada pelos especialistas. O Dr. Megda sinaliza que "o dispositivo sempre foi alvo das informações falsas, o que, para um paciente que não tira as dúvidas com o médico, pode contribuir para a baixa adesão ao tratamento". Para facilitar a utilização regular do medicamento, o especialista reforça que o tipo de dispositivo usado faz toda a diferença. "Existe um tratamento que permite uma inalação mais suave por névoa, por exemplo, que facilita a absorção do remédio e torna a rotina do paciente mais prática". Quando tratadas adequadamente, a DPOC e a asma podem ter seus sintomas controlados – o que confere uma melhor qualidade de vida e nenhum impacto na rotina do paciente.


DPOC é doença de idosos

MITO. Embora atinja a população idosa, a DPOC pode se manifestar em pessoas a partir dos 40 anos, segundo o especialista. No Brasil, 14,9% das pessoas com idade superior a 40 anos têm doença[v]. A Iniciativa Global para DPOC (GOLD)[vi] sinaliza 5 fatores que ajudam a identificar quem pode ter a doença, já que esses sinais podem ser confundidos com o processo de envelhecimento: ter mais de 40 anos, ser fumante ou ex-fumante, apresentar tosse frequente, ter tosse com catarro constante e queixar-se de cansaço ou falta de ar ao fazer esforço, como subir escadas ou caminhar.


Os remédios só devem ser tomados nas crises

MITO. Doenças respiratórias como asma e DPOC não tem cura e, por isso, precisam ser acompanhadas constantemente por pneumologistas. Com o tratamento medicamentoso correto e constante, os pacientes não sentem impactos na rotina. O Dr. Megda alerta que "muitos pacientes caem no erro de acharem que estão bem porque já tomaram o remédio por um tempo e abandonam o tratamento. Sem o tratamento adequado e contínuo, eles voltam a ter exacerbações e recorrem ao pronto-socorro com frequência". Esses descuidos têm impactos na saúde pública. São mais de 83 mil internações ocasionadas por DPOC anualmente no Brasil. As internações pela doença custam aos cofres públicos aproximadamente R$ 38,7 milhões por ano[vii].


Alimentação impacta na qualidade de vida de quem tem DPOC

VERDADE. Ter uma alimentação desequilibrada interfere na quantidade de nutrientes e calorias no organismo, o que diminui a energia do corpo para as atividades básicas, como a respiração. O especialista explica que, no caso da DPOC, ficar muito tempo em jejum também é prejudicial. Isso porque, depois, ao comer um volume muito grande de comida em uma única refeição, o estômago pode ficar dilatado, comprimindo o diafragma. Assim, há uma limitação da respiração.


Natação faz bem para pacientes com asma

VERDADE. Se o paciente fizer o acompanhamento com o especialista regularmente e manter a rotina de tratamento com o medicamento indicado, ele pode praticar qualquer tipo de atividade física sem enfrentar problemas respiratórios – sempre com avaliação prévia de um pneumologista. Além do apoio do médico, é importante fazer exercícios com a orientação de um educador físico, que saberá indicar os treinos adequados para quem possui alguma doença respiratória. Um dos esportes mais recomendados tanto para asma quanto para a DPOC é a natação, que é de baixo impacto e trabalha bastante a respiração do praticante.


Chás e ervas como o agrião podem curar a asma

MITO. Não existe nenhum chá ou substância que cura a condição. A asma é uma doença crônica, mas pode ter seus sintomas controlados por meio de tratamento contínuo e adequado, que inclui o uso de medicamentos. Sem isso, a asma provoca sérios impactos na vida do paciente, tais como insônia, fadiga, diminuição do nível de atividades e falta na escola e trabalho. Por isso, o Dr. Megda reforça que "é importante estar atento às leituras feitas na internet e sempre consultar o médico, que pode dar as melhores indicações".






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Referências:
[ii] Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2010. 160 p.: il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Cadernos de Atenção Básica, n. 25). Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doencas_respiratorias_cronicas.pdf
[iii] Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease. Global Strategy for Diagnosis, Management, and Prevention of COPD – 2018 [Internet].
[iv] WHO. Chronic obstructive pulmonary disease (COPD). Disponível em: http://www.who.int/en/news-room/fact-sheets/detail/chronic-obstructive-pulmonary-disease-(copd)
[v] Moreira Graciane, Manzano Beatriz, et al. PLATINO, a nine-year follow-up study of COPD in the city of São Paulo, Brazil: the problem of underdiagnosis. J Bras Pneumol. 2013;40(1):30-37
[vi] Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease. Global Strategy for Diagnosis, Management, and Prevention of COPD – 2018 [Internet].
[vii] Ministério da Saúde. Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS). CID J44 – Outras doenças pulmonares obstrutivas crônicas. 2016. Disponível em: http://datasus.saude.gov.br/. Acesso em: 7 de jun 2018.

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