Vivemos numa sociedade que valoriza o “touch” ao
invés do “toque”. Chegou o momento, ou até passamos dele, de questionar a nossa
relação com os aparelhos eletrônicos (celulares, tablets, etc.). Será que eles
não estão sendo utilizados de tal forma que estão prejudicando a própria
interação entre nós, seres humanos?
O sucesso das redes sociais é evidente.
Recentemente, o Facebook ultrapassou o número de 1 bilhão de usuários. O
WhatsApp foi um dos principais motores para as decisões das eleições
brasileiras. Temos redes sociais focadas em fotos, vídeos, namoros, etc..
Mary Meeker, estudiosa do consumo da internet no
mundo, aponta que um ser humano comum passa cerca de 7 horas de seu dia diante
das telas eletrônicas.
Não é incomum, hoje, uma pessoa conferir as novidades de
suas redes sociais ao acordar, para saber os comentários, as curtidas ou os
compartilhamentos que recebeu na noite passada. Muito menos incomum é a vontade
da nova geração de ser um youtuber. Estamos cada vez mais tentando interagir,
seja no âmbito pessoal ou profissional, pelas redes sociais. Novamente, o Whatsapp
é um desses exemplos. Estamos trabalhando mais, em horários adversos, graças a
esse aplicativo. A máxima de algumas das grandes empresas de “trabalhe a hora
que você quiser” significa, na verdade, que você vai trabalhar toda hora.
Se passamos horas na frente das telas, deixamos de
viver horas de interação direta. Como fica o “toque” nesse contexto? Como fica
o abraço, o beijo, o perfume que o outro passou, o cheiro da pele, o olhar os
olhos, o beijo, o sentir a presença do outro, o sentir a pele do outro, a
empatia, a alteridade? Ficam desprezados. Estamos vivendo um profundo
isolamento do “toque”, promovido pelo “touch”. Ou melhor, estamos trocando o
corpo, todas as sensações e emoções que ele nos proporciona, pelos conteúdos
das redes sociais. Por exemplo: no Japão, 500 mil pessoas, entre 15 a 39 anos,
têm se isolado por meses em casa. O caso é denominado pelo país de Hikikomoris.
Além desse caso, a American Urological Association,
em Boston, investigou a relação entre o consumo de pornografia e a disfunção
sexual de homens, entre 20 e 40 anos.
Joseph Alukal, um dos líderes da
pesquisa, afirma que quanto mais os homens têm assistido pornografia, menos
eles se interessam pela interação sexual real.
E ainda em nosso cotidiano, o “toque” além de
menosprezado, é violentado. Diariamente, nos transportes públicos, temos que
tocar um outro desconhecido, sentir seu cheiro, tocá-lo, ser empurrado e, por
vezes, até empurrar o próximo. Casos de assédios são ainda mais radicais e
inaceitáveis. Além dos transportes, os vizinhos, a comunidade, de grandes
cidades como São Paulo, são cada vez mais raras. Já as praças, principais
centros de interação social, estão cada vez mais escassas e destruídas. As
revitalizadas possuem a maravilha do WI-FI. No fim, depois de horas no
transporte, de falta de espaço para interação social na cidade, nós não
conseguimos e nem queremos mais tocar ninguém ou ser tocado. Fugimos para as
redes sociais digitais, novamente.
O fato é que nosso tempo é limitado. Se estamos no
“touch”, não estamos no “toque”, e vice-versa. É necessário haver o equilíbrio
dos dois. Devemos, então, desligar um pouco os aparelhos e olhar com mais calma
para nossos vínculos e para os nossos corpos. Somente assim, as risadas de doer
a barriga vindas das experiências inigualáveis com os amigos nos tempos livres,
e a comunicação mais complexa da humanidade, o amor e o fazer amor, estarão a
salvos.
Leonardo Torres -
Palestrante, Professor e Doutorando em Comunicação e Cultura Midiática.
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