Livre é o dia em que você decide parar de jogar
Os anos 90 realmente foram mágicos em produção literária, quem grudava na cadeira lendo os deliciosos romances do Sidney Sheldon sabe do que estou falando.
E foram nesses tempos, de internet ainda engatinhando que pesquisando
livros ao vivo na livraria (que era um super programa de final de semana)
encontrei uma obra com o título mais ou menos assim: "As 13 regras para um
relacionamento perfeito", não me lembro se era "relacionamento"
ou "casamento", mas estava solteira, pretendendo engatar um romance
em breve, comprei.
Best-seller mundial, escrito por duas autoras cheias de opiniões e
histórias de sucesso, era basicamente o manual da mulher impossível: regras e
mais regras para você abafar tudo o que sente perante a um novo pretendente,
matar a naturalidade e agir como uma estrategista de guerra.
Em dias atuais, um robô com inteligência artificial agiria
maravilhosamente bem para ser esta mulher perfeita, mas a humana falha. E pior,
culpa a sua falha por não ter seguido a regra.
E foi nesse misto de pequenos sucessos e fracassos segui a vida com esse
conhecimento impregnado no corpo tentando transformar relacionamentos em
experimentos.
Obviamente que não podia dar certo.
Finja desinteresse" era palavra de ordem, "esteja sempre
indisponível", "nunca, jamais em hipótese alguma mande
mensagem", "ignore qualquer vontade ou sentimento". Tudo para se
tornar "alguém valiosa e difícil de ser conquistada"…E o aspirante,
por sua vez, cansado de se esforçar, cair (morto) aos seus pés.
Quantas paredes foram mordidas, canetas comidas, amigas torturadas,
desejos reprimidos por histórias que nem viriam a ser nada!
Vida de verdade é outra coisa!
Estava eu por esses dias seguindo regras (já sem pensar, porque estavam muito bem incorporadas) tentando segurar vontades e instintos, no sexto dia consecutivo de uma dor de estômago lancinante.
Sem saber o que fazer, encontrei-me no auge do sofrimento com meu
terapeuta e disse a ele que iria aguentar firme e esperar às dez da noite para
mandar um "oi" ao escolhido depois de estrategicamente sumir por uns
dias.
Ele me perguntava apenas qual a razão do ritual, dei um milhão de
explicações até me sentir uma perfeita idiota.
Simples!
Depois de muitas desconstruções e discussões, pela primeira vez na vida,
mais de 20 anos depois daquele livro segui a minha regra: EU queria naquele
momento e me obedeci!
O botão do "send" apertado com ares de algo proibitivo em
plena duas da tarde de uma quarta-feira foi o remédio mais poderoso que já pode
existir para as dores de angústia e de estômago.
Não era sobre receber resposta, era sobre recuperar o respeito aos meus
desejos.
Me senti dona de mim, e o resto foi história…
Não existe hora para ser de verdade.
Saia do jogo.
A única regra que existe é ser feliz!
Marcia Jorge - atua no segmento da moda há 20 anos.
Iniciou a carreira aos 19 como agente de modelo, depois migrou para produção e
edição de moda. Assinou figurino de grandes campanhas de atacado e varejo e
também editoriais de moda Brasil afora. Ela defende o consumo consciente e,
principalmente o uso da moda e da imagem para melhorar a qualidade de vida e a
auto-estima. Acredita que todo tipo de regra que envolve o ato de se vestir
deve ser cuidadosamente analisada, pois geralmente exclui e aprisiona , por
isso, seu maior objetivo é levar o conhecimento de moda de uma maneira leve e
feliz para a mulher do mundo real. A idéia é descomplicar e brincar com a moda
, acabar com todos os dilemas, dramas e dúvidas. Suas formações em Marketing e
Psicologia, ambas pela Universidade Mackenzie foram passos essenciais para
enriquecer ainda mais sua expertise em comportamento.
instagram - @marcita973
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