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segunda-feira, 15 de junho de 2015

O tempo chega para todos




Hoje se pensa na velhice muito diferente de tempos atrás. As pessoas estão se preparando melhor para esta fase da vida. Existe, pelo menos, uma preocupação maior em envelhecer com mais conforto e com saúde. As pessoas estão vivendo mais tempo, de acordo com as últimas estatísticas, e a sociedade se mobiliza para receber os novos idosos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a qualidade de vida na Terceira Idade pode ser definida como a manutenção da saúde, em seu maior nível possível, em todos os aspectos da vida humana: físico, social, psíquico e espiritual. A entidade classifica cronologicamente como idosa a pessoa com mais de 65 anos em países desenvolvidos e com mais de 60 anos em países em desenvolvimento.
O processo de envelhecimento é muito particular para cada pessoa e não se inicia em uma idade específica, partindo do pressuposto que as construções, desconstruções e resignificações da vida são individuais e não atrelado à uma imposição social. O que acontece é adaptar algumas dificuldades a outra realidade. É errôneo associar a velhice à doença.
Envelhecer é o contínuo processo de adaptar-se à vida e não a morte. Acontece que a sensação de finitude faz com que percebamos a proximidade de desfecho. Todavia, aproximar-se não é concluir, mas, explorar o que ainda está por vir. Dispor-se ao que está adiante. Manter-se saudável não é para evitar uma morte prematura, mas sim, pelo propósito de ter qualidade de vida.
Relembrar do passado faz bem, desde que não se viva somente deste passado. O passado é referência, uma base sólida, mas viver o presente é igualmente importante para o idoso. O convívio social, relações de amizades, amorosas e sexuais devem fazer parte da vida do idoso. Os laços afetivos são imprescindíveis para a pessoa se sentir fazendo parte de algo, interagindo e inserido na sociedade.
A propósito, o sexo é uma perspectiva na terceira idade. Existem limitações, mas o sexo e o prazer são permitidos. A mudança implica em lidar com algumas limitações como cirurgias e a leitura do próprio corpo e do outro. Readequações necessárias, mas que não impedem a relação de ser vivido com carinho e uma sensação de bem-estar. Cerca de 50% das pessoas acima de 60 anos, casadas ou que têm parceiros sexuais, relatam a prática de sexo a cada 15 dias mais ou menos. Com o advento do medicamento para disfunção erétil, criado em 1998, provocou uma nova revolução sexual. Voltaram as possibilidades, fantasias e libido. E por quê não?
A participação da família é imprescindível para que o idoso se sinta acolhido e seguro. A união e a interação com filhos e netos são importantes para o aspecto emocional. Conviver e demonstrar preocupação, ajudar com os cuidados básicos e incluir o idoso nas atividades familiares são necessários para que ele se sinta confiante e feliz. Muitos casos de depressão na velhice acontecem em decorrência do rompimento com a família, abandono e solidão. Quanto maior for a participação dos familiares na vida do idoso, melhor.
O estado de abandono também acontece concomitante à situação em que o idoso perde sua condição de trabalhador, ou seja, a possibilidade de produzir, ser independente financeiramente e ter autonomia. Existe uma preocupação de algumas empresas em reempregar os idosos e reinseri-los no mercado de trabalho.
É imprescindível que o idoso se sinta entusiasmado consigo. Existem inúmeras atividades voltadas para o público da terceira idade que envolvem atividades esportivas, caminhadas, relaxamentos e tratamentos para o corpo com o intuito de estimular o cérebro e os músculos.
Existem grupos de idosos que se encontram para passeios e viagens. Pessoas ativas, informadas, pensantes. Um público exigente e que busca qualidade de vida. E não para por aí não. Salões de dança promovem bailes e recebem com frequência eventos para atender este público que se redescobre e percebe que o chinelo e o pijama estão fora de moda.
Fato é que no Brasil não é nada fácil envelhecer. O desrespeito e a falta de acolhimento da sociedade ainda é muito severa com estas pessoas. Muito da fragilidade da terceira idade acontece em decorrência da precariedade de ruas esburacadas, transporte público precário e a falta de educação de passageiros que desrespeitam o acento especial, um sistema previdenciário precário, aposentadoria sofrida e o cumprimento do Estatuto do Idoso.
A expectativa de vida do brasileiro ao nascer vem crescendo vertiginosamente, chegando a 75 anos. Há planos de previdência privada e investimento em poupança. As pessoas adquiriram a noção de se fazer um patrimônio, por menor que seja, para garantir uma velhice um pouco tranquila. Envelhecer é um privilégio e não um fardo. Não se admite mais o preconceito e discriminação pela terceira idade.

Breno Rosostolato - psicólogo e professor da Faculdade Santa Marcelina - FASM

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