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domingo, 24 de março de 2019

O resgate do feminino e a performance no esporte


Você já parou para pensar no quanto a performance ou a exigência dela interferiu na sua visão de feminilidade? Para Fernanda Surian, que há 5 anos participa de competições de alta performance, observar essa relação é importante para se questionar: até onde é realmente necessário abandonar  o "feminino" para performar?


O que é o “feminino”? Essa definição existe? Ela se limita a  um estereótipo de corpo ou ela engloba outras questões? Ser “feminina” é bom? Ser mulher e ser feminina é a mesma coisa? Existe algo que uma mulher, pra ser feminina, NÃO deve fazer? A equação imagem “feminina” x performance no esporte já tirou o seu sossego? E quantas vezes você acredita que tem que ser “menos feminina” para atingir resultados? E o que é ser “menos feminina”?

Essas questões são levantadas pela atleta de alta performance Fernanda Surian, que há 5 anos participa de competições nacionais e internacionais e vive, obviamente, imersa nessa equação feminino x esporte. No mês das mulheres, ela questiona: até onde é necessário abandonar  o “feminino” para performar?

Fernanda lembra que o assunto está em alta e muitas marcas, inclusive, estão aderindo a ele para nos colocar para pensar: “publicidades como a da marca Always, com o vídeo  ““““““““““““““Like a Girl”, que mostra como a mudança de visão do que é “fazer algo como uma garota”. Quando somos crianças entendemos que fazer algo como  uma garota é “legal”, é fazer “bem”. Mas depois, como adolescentes, absorvemos que “como uma garota” é frágil, fraco e cheio de frescurite, e o da Nike, “Mostre o que as loucas podem fazer”, sobre os resultados que nós, meninas, conquistamos no esporte, mesmo que, lá atrás, desejar esses resultados tenha sido considerado loucura, são exemplos de como esse assunto está sendo trabalhado no momento”,  comenta.

“Houve um tempo em que não se acreditava que mulheres podiam performar, mas hoje, vivemos uma quebra de paradigma”, enfatiza Fernanda. Para ela, a pergunta que fica é: quando foi que inventaram que mulher feminina é fresca, frágil ou boba? Quando foi que isso ficou associado como uma definição principal de ser mulher? “No mundo do Crossfit, podemos citar um número incrível de mulheres que são fortes, delicadas, determinadas e agressivas em uma combinação mágica e fantástica! Alguns nomes aqui: Tia-Clair, Katrin Davidsdottir, Stacie Tovar, Brooke Wells”, lembra Fernanda.

A atleta revela: “quando comecei a performar, fui percebendo que lado feminino é visto como fresco, mimimi, que é esperado que você seja agressiva, bruta, ou seja, é esperado que você tenha reações que são percebidas como masculina. E, assim, talvez você tenha pensado que cuidar do cabelo, usar roupas bonitas, ser mais suave e gentil, por exemplo, fossem diminuir sua capacidade de performar”.

Fernanda conta que um dos maiores resgates que ela tem realizado na performance inclui respeitar e honrar seu lado ‘feminino’, assim como dar espaço para atuar no que é considerado ‘lado masculino’: “feminilidade pra mim é um ESTADO DO SER, vai além de uma condição física ou de atitude emocional. A ideia de feminino e masculino que eu aceito e me traz muito conforto físico, mental e espiritual é a de YIN e YANG. Como dois lados que são duas forças, presentes em TUDO e TODOS”.


E o que isso muda nos treinos?

Fernanda lembra que os atributos femininos ou yin são a gentileza, flexibilidade, a diplomacia, a receptividade, inatividade. Enquanto que os atributos masculinos ou yang são a força, a imposição, a ação, a agressividade. “Se pensarmos em treino, em desenvolvimento físico e mental, não precisamos desses dois lados?”. Ela dá exemplos: “se você tem a musculatura muito forte e rígida, mas não tem flexibilidade e mobilidade, isso pode restringir sua força. Se você treina muito, age muito, mas não dá tempo ao tempo, não tem um momento de espera, inativo, você fica mais propenso a lesões. Se você não se permite gentileza em momentos de frustração, o processo pode ser tornar muito difícil, mental e fisicamente”.

“A feminilidade não está só no físico, mas também no quão flexível você é, no quanto se permite ser quem é. Aí também é onde está sua resistência e sua força e a sua paz. Tudo se COMPLEMENTA. Essa combinação te permite estar no flow, sem se cobrar demais, sem se forçar a ser demais alguém que você não é. No box, use sua força e use sua diplomacia. Vá atrás do resultado que quer, mas faça isso do jeito que respeite seus valores e honre seu estilo de vida. De unhas pintadas (ou não), se combinar com você. O importante é que não há fórmula de sucesso e ele, certamente, apesar de ser um substantivo masculino, não tem gênero”, finaliza a atleta.






Fernanda Surian - Professora de inglês desde 2008, Fernanda já coordenou professores, deu aula fora do Brasil e agora oferece um curso próprio com foco em inglês instrumental. Formada em nutrição, Fernanda foi se especializar no inglês cursando tradução e legendagem. É certificada por Cambridge e pelo CELTA. Em 2014, Fernanda se apaixonou pelo mundo do Crossfit e começou uma carreira de atleta de alta performance. Desde 2016, Fernanda uniu os dois mundos e hoje compartilha em seu blog informações preciosas sobre técnica, treino e autoconhecimento e oferece cursos com foco nesse universo do esporte, para ajudar coaches e alunos a melhorarem seu desempenho.


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