Você já parou para
pensar no quanto a performance ou a exigência dela interferiu na sua visão de
feminilidade? Para Fernanda Surian, que há 5 anos participa de competições de
alta performance, observar essa relação é importante para se questionar: até
onde é realmente necessário abandonar o "feminino" para
performar?
O que é o “feminino”? Essa definição existe? Ela se
limita a um estereótipo de corpo ou ela engloba outras questões? Ser
“feminina” é bom? Ser mulher e ser feminina é a mesma coisa? Existe algo que
uma mulher, pra ser feminina, NÃO deve fazer? A equação imagem “feminina” x
performance no esporte já tirou o seu sossego? E quantas vezes você acredita
que tem que ser “menos feminina” para atingir resultados? E o que é ser “menos
feminina”?
Essas questões são levantadas pela atleta de alta
performance Fernanda Surian, que há 5 anos participa de competições nacionais e
internacionais e vive, obviamente, imersa nessa equação feminino x esporte. No
mês das mulheres, ela questiona: até onde é necessário abandonar o
“feminino” para performar?
Fernanda lembra que o assunto está em alta e muitas
marcas, inclusive, estão aderindo a ele para nos colocar para pensar:
“publicidades como a da marca Always, com o vídeo ““““““““““““““Like a
Girl”, que mostra como a mudança de visão do que é “fazer algo como uma
garota”. Quando somos crianças entendemos que fazer algo como uma garota
é “legal”, é fazer “bem”. Mas depois, como adolescentes, absorvemos que “como
uma garota” é frágil, fraco e cheio de frescurite, e o da Nike, “Mostre o que as loucas podem
fazer”, sobre os resultados que nós, meninas, conquistamos no esporte,
mesmo que, lá atrás, desejar esses resultados tenha sido considerado loucura,
são exemplos de como esse assunto está sendo trabalhado no momento”,
comenta.
“Houve um tempo em que não se acreditava que
mulheres podiam performar, mas hoje, vivemos uma quebra de paradigma”, enfatiza
Fernanda. Para ela, a pergunta que fica é: quando foi que inventaram que mulher
feminina é fresca, frágil ou boba? Quando foi que isso ficou associado como uma
definição principal de ser mulher? “No mundo do Crossfit, podemos citar um
número incrível de mulheres que são fortes, delicadas, determinadas e
agressivas em uma combinação mágica e fantástica! Alguns nomes aqui: Tia-Clair,
Katrin Davidsdottir, Stacie Tovar, Brooke Wells”, lembra Fernanda.
A atleta revela: “quando comecei a performar, fui
percebendo que lado feminino é visto como fresco, mimimi, que é esperado que
você seja agressiva, bruta, ou seja, é esperado que você tenha reações que são
percebidas como masculina. E, assim, talvez você tenha pensado que cuidar do
cabelo, usar roupas bonitas, ser mais suave e gentil, por exemplo, fossem diminuir
sua capacidade de performar”.
Fernanda conta que um dos maiores resgates que ela
tem realizado na performance inclui respeitar e honrar seu lado ‘feminino’,
assim como dar espaço para atuar no que é considerado ‘lado masculino’:
“feminilidade pra mim é um ESTADO DO SER, vai além de uma condição física ou de
atitude emocional. A ideia de feminino e masculino que eu aceito e me traz
muito conforto físico, mental e espiritual é a de YIN e YANG. Como dois lados
que são duas forças, presentes em TUDO e TODOS”.
E o que isso muda nos treinos?
Fernanda lembra que os atributos femininos ou yin
são a gentileza, flexibilidade, a diplomacia, a receptividade, inatividade.
Enquanto que os atributos masculinos ou yang são a força, a imposição, a ação,
a agressividade. “Se pensarmos em treino, em desenvolvimento físico e mental,
não precisamos desses dois lados?”. Ela dá exemplos: “se você tem a musculatura
muito forte e rígida, mas não tem flexibilidade e mobilidade, isso pode
restringir sua força. Se você treina muito, age muito, mas não dá tempo ao
tempo, não tem um momento de espera, inativo, você fica mais propenso a lesões.
Se você não se permite gentileza em momentos de frustração, o processo pode ser
tornar muito difícil, mental e fisicamente”.
“A feminilidade não está só no físico, mas também
no quão flexível você é, no quanto se permite ser quem é. Aí também é onde está
sua resistência e sua força e a sua paz. Tudo se COMPLEMENTA. Essa combinação
te permite estar no flow, sem se cobrar demais, sem se forçar a ser demais
alguém que você não é. No box, use sua força e use sua diplomacia. Vá atrás do
resultado que quer, mas faça isso do jeito que respeite seus valores e honre
seu estilo de vida. De unhas pintadas (ou não), se combinar com você. O
importante é que não há fórmula de sucesso e ele, certamente, apesar de ser um
substantivo masculino, não tem gênero”, finaliza a atleta.
Fernanda
Surian - Professora de inglês desde 2008, Fernanda já
coordenou professores, deu aula fora do Brasil e agora oferece um curso próprio
com foco em inglês instrumental. Formada em nutrição, Fernanda foi se
especializar no inglês cursando tradução e legendagem. É certificada por
Cambridge e pelo CELTA. Em 2014, Fernanda se apaixonou pelo mundo do Crossfit e
começou uma carreira de atleta de alta performance. Desde 2016, Fernanda uniu
os dois mundos e hoje compartilha em seu blog informações preciosas sobre
técnica, treino e autoconhecimento e oferece cursos com foco nesse universo do
esporte, para ajudar coaches e alunos a melhorarem seu desempenho.
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