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quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Como ajudar no desenvolvimento de crianças com T21, a "Síndrome de Down"

Especialista dá orientações para pais e familiares de crianças com comprometimentos no desenvolvimento e deficiência  

 

A T21 (Trissomia do Cromossomo 21), nomenclatura que vem sendo cada vez mais utilizada para a então chamada “Síndrome de Down”, é uma condição genética que acontece no momento da concepção. Ela é causada pela presença de três cromossomos 21 em todas ou em grande parte das células, e os indivíduos que a possuem têm traços físicos comuns e deficiência intelectual, porém com personalidades e habilidades únicas. 

De acordo com o Centro Síndrome de Down (CESD), estima-se que no Brasil haja cerca de 300 mil pessoas com T21 e em todos os casos, é importante que recebam os estímulos adequados desde cedo para que possam desenvolver habilidades pessoais, conquistar autonomia e independência. Mas como ajudar nesse desenvolvimento?

Segundo Patrícia Stankowich, psicanalista, psicóloga e especialista na clínica de crianças com comprometimentos no desenvolvimento e deficiência, pais e familiares que são estimuladores e acreditam na capacidade dos filhos fazem toda a diferença nos processos de crescimento e aprendizagem das crianças com T21. “O estímulo deve começar em casa, continuar na escola e em todos os lugares de convivência. É importante que os indivíduos saibam se virar com as situações do dia a dia, trabalhar e até mesmo morar sozinhos, ainda que com apoio externo”, avalia. 

A especialista afirma que é importante começar o processo de estímulo o quanto antes. Ou seja, pais e familiares de crianças com T21 devem promover o acesso às terapias desde o nascimento, provendo as intervenções precoces facilitadas por uma equipe multiprofissional com especialistas em terapia ocupacional, fisioterapia e fonoaudiologia, os quais irão promover experiências sensório-motoras que vão intervir na maturação da criança. “São condições necessárias para conseguir uma reação dinâmica com o meio em que vive, favorecendo o desenvolvimento e a aquisição de habilidades, promovendo funcionalidade e independência, dando escolhas a essas crianças no seu percurso de desenvolvimento para mais autonomia e melhor qualidade de vida”, explica. 

Também é importante levar a criança a ambientes com brinquedos, atividades e interações que ajudem no desenvolvimento motor, cognitivo e emocional, assim como incentivar a realização de práticas esportivas e a participação em jogos estimulantes para favorecer e promover experiências com outras crianças, possibilitando a construção de vínculos afetivos”, sugere Patrícia.

A psicóloga e psicanalista orienta que seja escolhida uma escola que tenha uma estrutura que ofereça não só estratégias pedagógicas adaptativas e inclusivas, mas que promova o acolhimento e o respeito à diversidade. “É importante entender que as crianças com T21 podem precisar de mais tempo para aprender, mas têm grande potencial de desenvolvimento. A disponibilidade da família, com empatia e amor, deve respeitar o tempo e os limites da criança”, diz.

Para Patrícia, outra questão essencial é incentivar a independência desde cedo. “Estimule a criança a realizar algumas atividades diárias sozinha, como se vestir e comer. Lembre de traçar metas realistas. Cada caso é um caso, por isso cada pequena conquista deve ser celebrada, sem a necessidade de comparações”, aponta.

A especialista enfatiza, por fim, que é crucial contar com profissionais de uma equipe multiprofissional, tais como terapeutas, educadores, grupos de ajuda e outros pais de crianças com a síndrome, no processo de desenvolvimento da criança. No entanto, vale frisar sobre a importância do psicólogo. “A participação deste profissional é extremamente necessária, antes mesmo de a criança ser capaz de participar de uma sessão de psicologia, uma vez que o acolhimento e orientação aos pais é fundamental na construção de uma harmonia familiar que facilitará todo o processo de desenvolvimento e autonomia da criança”, conclui.   


Patrícia Stankowich - Psicanalista, graduada em Filosofia pela UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) e também em Psicologia. Pós Graduada em Psicologia Jurídica e Mestre em Psicologia da Saúde. Facilitadora em Capacitações nas áreas da Saúde e Educação, com ênfase nas temáticas sobre Infância, Adolescência e Inclusão. Pesquisadora na área da Psicologia da Saúde. Realiza atendimento clínico a adultos. Especialista na clínica de crianças com comprometimentos no desenvolvimento e deficiência. Palestrante. Escritora. Autora do livro “Como pimenta mastigada”; coautora dos livros “O aprendiz de psicanálise” e “Sexuação & Identidade”, além de livros de poesia. Autora do Projeto +Inclusão. Colunista na rádio CBN Maceió com Podcast nas plataformas do Spotify e Deezer e YouTube. Malabarista de palavras, circense de nascença, apaixonada pela arte, leitura e pela mente humana. Para saber mais acesse o instagram.



Novembro azul: Câncer de próstata é silencioso e exames de rotina são fundamentais

Oncologista fala sobre a doença, que atinge centenas de milhares de homens em todo o mundo 

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), o câncer de próstata é o tipo de câncer mais frequente em homens no Brasil, depois do câncer de pele. A doença, que a hereditariedade como um dos principais fatores de risco, não apresenta sintomas na fase inicial e, muitos homens, por medo ou desconhecimento, deixam de fazer os exames de rotina.

O médico Fernando Zamprogno, oncologista na Kora Saúde, explica que quando os sintomas desse tipo de câncer começam a aparecer, geralmente é um sinal de doença avançada e de cura mais difícil. Por isso, campanhas como o Novembro Azul, que tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância dos exames de rastreio, são tão importantes.

O especialista tira as principais dúvidas sobre o tema:


O que é o câncer de próstata?

Câncer de próstata é uma neoplasia, ou seja, um tecido novo formado dentro da próstata. E ele tem uma característica que o distingue das lesões benignas, que é um crescimento desordenado e a capacidade de invadir outros pontos (órgãos e tecidos) ao redor da próstata. Essa é a característica primordial de todo câncer: a proliferação celular e a capacidade de invadir os tecidos vizinhos.


Quais os fatores de risco?

Como fator de risco, há questões genéticas, hoje cerca de 20% dos casos de câncer de próstata têm uma correlação hereditária. Além disso, a raça negra tem mais câncer de próstata do que a branca.

Por fim, o próprio processo de envelhecimento do homem. Quanto mais velho, maior o risco. Por uma questão de falha natural do processo de renovação celular. Se pegarmos uma amostra de 1000 homens de menos de 50 anos, por exemplo, será raro encontrar um caso de câncer de próstata. Se fizermos esse mesmo recorte com homens de 80 anos, vai ser bem comum.


Quais são os sintomas e em que estágio aparecem?

O Câncer de próstata não dá sintoma na parte mais curável, por isso é importante fazer o programa de rastreio de câncer de próstata com toque retal e PSA. Isso porque a maioria dos homens não terá sintoma nenhum no momento em que a doença tiver mais chances de cura.

Se esperar sintomas aparecerem, a chance de cura já cai bastante. Aí, os sintomas são: dor local, dificuldade de urinar, às vezes sangramento. Mas, sempre importante lembrar, os sintomas de câncer de próstata são sintomas tardios.


Quais as opções de exames diagnósticos?

A partir dos 45 ou 50 anos, de acordo com o risco familiar, é necessário começar a fazer PSA e toque retal todos os anos.

E o tratamento, como é feito?

Para o câncer de próstata curável, o tratamento é cirúrgico, a retirada da próstata. Como tratamento para aqueles pacientes que, por algum motivo, tenham risco cirúrgico alto, a radioterapia com bloqueio de hormônio é a escolha convencional. Todos os outros tratamentos que costumamos ouvir, são ainda tratamentos alternativos, que precisam de dados clínicos mais robustos, então não podemos classificar como tratamento de escolha.

Existem pessoas também que diagnosticam câncer de próstata de baixa agressividade e que não precisam de tratamento. Existem homens que convivem com o câncer de próstata longamente sem que ele apresente nenhum problema, pela natureza de baixa agressividade dessa lesão.


Qual a importância da prevenção e da conscientização?

Isso tem a ver com a chance de cura. Se chego em um problema quando ele está pequeno, eu resolvo mais fácil. Nesse exato momento, centena de milhares de homens no mundo tem o câncer de próstata dentro deles e não sabem disso. E a única forma de saber, é procurar esse câncer. Então, é preciso rastrear e, caso o rastreamento dê alguma alteração, é indicada a biópsia. Parte dessa biópsia vai apresentar algum problema, parte demonstrar que é benigno.

O rastreamento é como uma peneira. Eu vou passar uma peneira na população de interesse e aqueles que “agarrarem” nessa peneira, investigo mais de perto. E o objetivo é a detecção precoce para aumentar as chances de cura.

 

Luto: dicas para superar a perda de um pet

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A morte de um animal de estimação pode ser a primeira experiência das crianças com o luto: especialistas ensinam como lidar com esse vazio

 

Os brasileiros não lidam bem com a morte e a maioria tem dificuldades para falar sobre o assunto. Um estudo realizado pelo Studio Ideias revela que o tema é tabu para 73% das pessoas e 82,4% acham que não existe nada mais sofrido do que perder alguém. 

E não é só a morte de pessoas queridas que deixa um vazio. Perder um pet é igualmente doloroso. Nessa hora, tutores precisam de atenção, em especial as crianças, já que a morte de um animal de estimação pode ser a primeira experiência delas com o luto. 

A psicopedagoga Daniela Jungles, professora de Psicologia e supervisora da clínica-escola do UniCuritiba – instituição que faz parte da Ânima Educação, um dos maiores ecossistemas de ensino superior do país – explica que o fato de considerar os animais de estimação como membros da família aumenta o vínculo emocional. 

“Para algumas pessoas a _perda de um animal de estimação pode ser comparável ao luto pela perda de um ente querido humano em termos de intensidade emocional_. No caso das crianças, pode ser uma experiência bastante significativa”, diz a mestre em Ciências da Educação pela Université de Sherbrooke, no Canadá. 

A intensidade das emoções é uma das semelhanças no processo de luto entre a perda de um familiar ou amigo e a de um animal de estimação. O processo de luto requer adaptação para viver sem o pet. “Isso pode levar tempo e incluir estágios como negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. A experiência de luto pela perde de um animal de estimação é única, influenciada por fatores como o relacionamento com o animal, a cultura, a personalidade e a experiência de vida.” 

Segundo a psicóloga, é importante reconhecer as emoções das pessoas enlutadas e oferecer apoio. No caso das crianças, a maneira como lidam com a perda varia de acordo com idade e personalidade. “Se a criança tiver dificuldades graves para viver esse luto ou demonstrar sinais de depressão ou ansiedade significativos é preciso buscar ajuda de um profissional de saúde mental.”

 

Luto não tem certo ou errado

Cada pessoa vive o luto de maneira única, não há certo ou errado. O fato é que superar a falta de um animal de estimação pode ser desafiador. Não reprimir as emoções é o primeiro passo. Conversar sobre o assunto com amigos e familiares também é reconfortante. “Encontrar pessoas que compreendam e apoiem esse luto ajuda a aliviar a dor”, ensina Daniela. 

De acordo com a psicóloga, outras estratégias ajudam a superar esse momento, como fazer um memorial em homenagem ao pet, cuidar do bem-estar físico e emocional (boa alimentação, exercícios físicos e descanso), respeitar o tempo necessário para lidar com a perda e, se preciso, buscar suporte profissional. 

“Participar de trabalhos voluntários em abrigos de animais ou fazer doações podem ser formas de honrar a memória do pet. A possibilidade de adotar outro animal de estimação também deve ser considerada quando a pessoa estiver emocionalmente preparada. Um novo animal de estimação não vai substituir o pet anterior, mas ajuda a preencher o vazio”, explica a professora do UniCuritiba.

 

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O papel do médico veterinário

Se os pets já são membros da família, comunicar a morte aos tutores não é fácil. A forma como os médicos veterinários fazem isso pode tornar o luto mais ou menos doloroso. 

Professora do curso de Medicina Veterinária do UniCuritiba, Ana Elisa Arruda Rocha diz que cada médico veterinário tem uma abordagem própria, mas algumas condutas são adotadas de maneira parecida por boa parte dos profissionais. “A abordagem inicial com o tutor deve ser feita presencialmente e em um ambiente reservado. A recomendação é evitar ao máximo dar essa notícia por telefone.” 

Antes de comunicar o óbito, é importante também certificar-se de que o tutor sabia sobre a gravidade do caso. “Podemos repassar o histórico do animal com o tutor deixando que ele participe da narrativa e tenha seus sentimentos e emoções cuidadosamente observados e acolhidos”, explica. Além da comunicação da morte, o profissional pode auxiliar os tutores na tomada de decisões sobre enterro ou cremação.

 

Preparo psicológico

Os médicos veterinários devem se preparar psicologicamente e emocionalmente antes de comunicar o óbito ao tutor. Treinamentos sobre saúde mental e aconselhamento aprimoram as habilidades para oferecer apoio emocional eficaz. 

Segundo a professora do UniCuritiba, a melhor forma é ser transparente, passar as informações com gentileza, ouvir o tutor com atenção e validar os sentimentos que surgem. “Eu também me coloco em uma posição vulnerável para que vivamos o luto juntos. Muitas vezes cuido de pacientes durante 15, 20 anos e me conecto aos seus familiares. É uma dor compartilhada. Juntos, pensamos em opções de homenagens e compartilhamos memórias que nos fazem rir e chorar. Essa amizade com os familiares permanece para sempre”, conta.

 

Sem mentiras ou invenções

Nas comunicações às crianças, o ideal é que o médico veterinário tenha o consentimento dos pais para contar a verdade e permitir que elas se despeçam do animal, sempre dando suporte com palavras positivas e expressando o quanto elas foram importantes para o animal também. 

Ana Elisa é _contra inventar desculpas_ de que o animal fugiu, por exemplo. “As crianças podem aprender desde cedo que a morte é parte do processo da vida e encarar isso com mais naturalidade. Encorajo a expressão de sentimentos, seja por meio de palavras, desenhos, cartinhas ou outras formas criativas. Os rituais de despedida ajudam a lidar com as emoções.” 

Assim como a psicóloga Daniela Jungles, a médica veterinária Ana Elisa recomenda que as crianças sejam acompanhadas de perto no processo de luto, pois podem manifestar sua tristeza em forma de birra, choros excessivos, ansiedade ou irritabilidade. “O luto tem dias mais fáceis e outros mais difíceis, tanto para adultos quanto para crianças. As famílias precisam estar atentas para que todos sejam acolhidos. Essa fase vai passar e as memórias compartilhadas continuarão sempre valendo a pena”, afirma Ana Elisa. 

Para ajudar nesse processo, a psicopedagoga Daniela Jungles dá algumas dicas.

1) Seja honesto e compassivo: use palavras apropriadas à idade e explique de forma gentil o que aconteceu. Mostre empatia e compaixão, validando os sentimentos da criança. 

2) Incentive a expressão de sentimentos: encoraje a criança a expressão o que estiver sentindo: tristeza, raiva, confusão ou medo. Mostre que esse sentimento é normal. 

3) Faça uma cerimônia de despedida: dê à criança a oportunidade de se despedir, fazendo um enterro simbólico no jardim, por exemplo. 

4) Ofereça informações sobre a morte: dependendo da idade da criança, explique o ciclo natural da vida e da morte. Responda às perguntas da criança com sinceridade, sem recorrer a respostas evasivas. 

5) Mantenha a rotina: após a perda do animal de estimação é importante manter a rotina da criança o mais consistente possível. Isso oferece segurança e previsibilidade durante um período emocionalmente desafiador. 

6) Ofereça apoio emocional: esteja disponível para a criança e ouça atentamente o que ela tem a dizer. Esteja presente para consolá-la quando for preciso. Mostre empatia e paciência. 

7) Lembre-se das memórias positivas: incentive a criança a compartilhar histórias e memórias positivas sobre o animal de estimação. Isso ajuda a preservar o legado do animal e a celebrar a alegria que ele trouxe para a vida da criança. 

8) Respeite o tempo de luto: o luto é um processo individual e pode variar em duração para cada pessoa. Respeite o tempo da criança para lidar com a perda e esteja disponível para apoiá-la.


 UniCuritiba

 

Dia de Finados: como ensinar as crianças a lidar com a saudade?

Unsplash - Senjuti Kundu

No Dia de Finados, um dos sentimentos mais presentes é a saudade de quem já partiu. Saudade é uma palavra que curiosamente só existe na Língua Portuguesa, embora esse sentimento, obviamente, não seja exclusivo dos que falam esta língua. No dicionário, ela é definida como um “sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, uma coisa, um lugar ou à ausência de experiências prazerosas já vividas”. Mas, na prática, a saudade pode ser um transporte sentimental que nos leva diretamente a uma pessoa, um lugar, uma situação, uma sensação e, até mesmo, a si próprio: sentir saudade de quem se era.  

Para ensinar as crianças a lidar com a saudade, vale lembrá-los que o tempo é incontrolável e que as pessoas que amamos deixam marcas inesquecíveis, mas é importante observar que, para a psicologia, a saudade não precisa ser necessariamente um sentimento ruim. Pode querer dizer apenas respeito à contemplação de boas lembranças, emoções que se associam a este sentimento.

Do ponto de vista filosófico, a saudade pode ser considerada a presença incessante da ausência, ou seja, um vazio - que é diferente do nada - e que insiste em ativar pensamentos e nos levar a estados emocionais profundos. Com isso, é importante reconhecer que quando sentimos saudades de pessoas que já se foram, nossos corpos produzem certas substâncias químicas, como hormônios e neurotransmissores, que causam sensações físicas que podem mudar de pessoa para pessoa. 

Entendendo como a saudade ocorre, fica mais simples compreender o motivo pelo qual, no período imediato após uma separação, ela pode causar sintomas físicos parecidos com os da abstinência de drogas. Irritação, dificuldade para dormir, aumento de cortisol (hormônio do estresse) e um mal-estar generalizado, mesmo que em menor intensidade. Ou seja, devemos ouvir e acolher genuinamente todas dores e emoções que os pequenos expressam quando dizem que estão com saudades de uma avó, um tio ou alguém próximo que já faleceu. 

A saudade abarca um conjunto de sensações e emoções que remetem desde o passado até as sensações do presente. Uma essência que Manuel Melo, escritor português, descreve como “bem que se padece e mal que se desfruta”. Pode parecer óbvio, mas o melhor remédio para esse sentimento é distrair as crianças - a nós mesmos, ou seja, sair da inércia e buscar outras atividades que proporcionem bem-estar, coisas que façam acelerar a percepção de passagem do tempo. 

Falar sobre a saudade também é fundamental, principalmente com crianças e adolescentes, quando esse sentimento se desperta pelas primeiras vezes, mas, claro, se o incômodo for muito grande, é recomendável buscar ajuda de um profissional de psicologia. Mas, de um modo geral, a recomendação é conversar sobre o que aconteceu e ajudar as crianças a compreender o falecimento e a lidar com a situação de maneira resiliente. Uma conversa sincera e carinhosa, adequada à idade de cada criança, tende a ser o melhor caminho para que a situação seja compreendida e vivida. 

Usar termos como “tal pessoa agora é uma estrelinha” pode ser uma boa estratégia para introduzir a triste notícia, mas dizer “viajou e vai demorar para voltar” ou “foi morar longe” às vezes pode não ser a melhor estratégia, pois com o tempo a criança pode descobrir que a história não é bem assim e isso pode abalar sua confiança nos pais.  

Em resumo, a melhor maneira de fazer com que uma criança aprenda a lidar com a saudade é estimular que fale e expresse o que está sentindo. Isso é importante para que saiba que pode compartilhar sempre suas emoções, que não está sozinha nesse momento difícil e que tudo bem ficar triste ou ter vontade de chorar quando um ente querido deixa de nos brindar com a sua presença. Acolher os sentimentos e dar carinho facilita a que passem por essa situação com mais leveza e naturalidade.


Helen Mavichian - psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes


No Dia de Finados é importante mostrar que morte é parte natural da vida

Psicólogo afirma que família desempenha papel essencial no acolhimento dos sentimentos de crianças e adolescentes 

 

O mês de novembro conta com uma data importante: o Dia de Finados, quando boa parte das pessoas recordam e prestam homenagens aos entes queridos que não estão mais aqui. Trata-se de uma data importante também para se refletir a respeito da morte e dos sentimentos que ela gera, especialmente para crianças e adolescentes, que muitas vezes ainda não sabem definir bem o que sentem. 

Segundo Danilo Suassuna, idealizador do Instituto Suassuna, que organiza e realiza congressos, seminários, workshops e extensões voltadas aos profissionais da psicologia, abordar a questão da morte com crianças e adolescentes é um desafio importante, e uma perspectiva humanista-existencialista e fenomenológica pode oferecer uma abordagem valiosa para compreender e auxiliar esse processo. “Essa perspectiva enfatiza a importância de reconhecer a finitude da vida humana. É explicar às crianças e adolescentes que a morte é uma parte natural e que todos os seres vivos eventualmente morrem”, explica. 

O psicólogo sugere que se façam perguntas abertas aos mais jovens para que eles possam expressar seus sentimentos, pensamentos e preocupações sobre o assunto. Ouça atentamente suas experiências individuais e seja honesto ao responder às perguntas. Evite dar respostas simplistas ou enganosas, pois isso pode criar confusão ou medo”, orienta. 

De acordo com Suassuna, a família desempenha um papel crucial no acolhimento dos sentimentos das crianças e adolescentes, por isso é importante que ela os ajude a entender que a morte faz parte do ciclo da vida. “Encoraje a comunicação aberta e o apoio mútuo dentro da família durante o processo de luto. E para familiares que têm entes queridos em situações críticas, como na UTI, explique que a morte não acontece de um dia para o outro, mas é um processo. Ajude as crianças e adolescentes a entenderem que a morte pode ser vista como uma transição”, ressalta.

Um ponto importante, segundo o especialista, é entender que mais do que simples ausência e vazio, o luto é um processo individual que deve ser vivenciado por cada pessoa a seu modo. “Incentive as crianças, adolescentes e adultos a respeitar seus próprios ritmos de luto e a buscar apoio quando necessário. E reconheça que a dor dos adultos pode às vezes ser projetada nas crianças, por isso é importante separar suas próprias emoções da experiência das crianças, permitindo que estas processem a morte de acordo com seu nível de compreensão e desenvolvimento emocional”, alerta.

Uma orientação importante, de acordo com Suassuna, é que os adultos sempre lembrem de ser sinceros e não contar mentiras ou criar ideias fantasiosas ao falar sobre a morte de alguém. “A verdade liberta. Embora possa ser difícil, a honestidade é essencial para que as crianças e adolescentes compreendam e processem a morte de maneira saudável. A mentira, por sua vez, pode causar confusão e dificultar o processo de luto. Ao compartilhar a verdade com empatia e apoio, você ajuda a construir confiança e a promover um ambiente onde as emoções possam ser expressas de forma genuína”, conclui. 



Danilo Suassuna- Doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2008), possui graduação em Psicologia pela mesma instituição. Autor do livro “Histórias da Gestalt-Terapia – Um Estudo Historiográfico”. Professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás e do Curso Lato-Sensu de Especialização em Gestalt-terapia do ITGT-GO. Coordenador do NEPEG Núcleo de estudos e pesquisa em gerontologia do ITGT. É membro do Conselho Editorial da Revista da Abordagem Gestáltica. Consultor Ad-hoc da revista Psicologia na Revista PUC-Minas (2011). Para mais informações acesse o instagram: @danilosuassuna.

 

Morte: o fim necessário para entender o que é vida

Escritora e defensora dos direitos humanos, Barbara Becker convida leitor a encontrar nas perdas o cerne da própria existência em novo livro publicado pela Latitude 

 

A escritora e defensora dos direitos humanos Barbara Becker presenciou inúmeras perdas desde a juventude: avós, pai, mãe, tia, colegas de trabalho, animais de estimação e vizinhos. Foi a partir do diagnóstico terminal de sua melhor amiga de infância, Marisa, que Becker buscou o significado do que é ser mortal e qual o sentido de viver sabendo que a morte é o fim. Esta dúvida enraizada na autora deu origem à obra Morte: a essência da vida – Como encontrar nas perdas o cerne de nossa existência, publicada no Brasil pelo Selo Latitude da VR Editora.

Cada um dos 22 capítulos que compõem o livro é dedicado a detalhar uma experiência de luto e como Barbara encontrou nestas perdas a essência do próprio existir. Ela utiliza a palavra ‘cerne’, núcleo central que sustenta uma árvore, ao explicar que a morte é essencial para que a vida aconteça. “Na ecologia perfeita de uma árvore, a morte é o coração da vida, e a vida nutre a essência duradoura da morte. Assim é conosco: a vida e a morte não podem existir separadas”, explica a autora.

[...] todos esses grandes amores da minha vida se foram. Sinto saudades de cada uma delas. Às vezes, ainda acordo chorando. Aprendi que essa dor é parte da minha jornada. No entanto, há algo mais, uma essência alentadora que permanece depois de cada morte, de cada partida. Todas essas pessoas - meus avós, meus pais, Marisa e outras - se tornaram parte do meu cerne.
(Morte: a essência da vida, p.12)

Com um olhar atento para o que faz a existência valer a pena, Becker compartilha histórias pessoais em que a vida e morte se cruzam de formas inesperadas: um dos exemplos é quando o pai ficou viúvo e conheceu a mãe da autora, dando origem a sua própria existência. Durante as 184 páginas, lições de cada perda são relembradas e como foram capazes de mudar a visão sobre mortalidade da escritora, além da forma como vive.

Morte: a essência da vida é um guia repleto de mensagens reconfortantes em que Barbara Becker conta sobre o poder de se abrir à morte para aprender sobre o que é vida. Segundo ela, só assim será possível mergulhar na sensação de liberdade, única maneira de viver sem arrependimentos.

 

Divulgação
 VR Editora - Latitude

Ficha técnica:

Autora: Barbara Becker 
Editora: Selo Latitude – VR Editora
Tradução: Lígia Azevedo 
Gênero: aperfeiçoamento pessoal: morte/luto 
ISBN: 978-65-89275-20-6 
Páginas: 184
Preço: R$ 49,90 
Link de compraAmazon e 
e-commerce VR Editora

 

Sobre a autora: Barbara Becker é escritora e dedicou mais de 25 anos em parcerias com defensores dos direitos humanos e no mundo todo em busca da paz. Trabalhou com a Organização das Nações Unidas, com a Human Rights First – uma organização internacional de direitos humanos sem fins lucrativos e apartidária com sede em Nova York, Washington e Los Angeles; e com a Ms. Foundation for Women – coletivo de mulheres nos Estados Unidos que promove a equidade e a justiça para todos. Acredita que por meio de suas narrativas pessoais, ela possa esclarecer questões complexas a respeito da vida. Ao passar por treinamentos com monges zen em cuidados paliativos e como voluntária no Hospital de Bellevue, em Nova York, ingressou na equipe de assistência espiritual da Cruz Vermelha americana. Barbara mora em Nova York com o marido e seus dois filhos.  

Site: https://barbarabecker.com/

 


Psicanalista explica o luto.

  

O psicólogo e professor de psicanálise Ronaldo Coelho, da capital paulista, fala sobre a importância psíquica do velório, as fases do luto e como explicar sobre a morte para crianças.

 

O velório

“O velório se constitui num momento de encontro entre as pessoas que mantinham relações significativas com a pessoa que faleceu, este momento é importante para a construção da ideia de que, apesar de a pessoa não mais estar entre os que a ama, sua memória permanecerá viva entre aqueles que ali estão. A presença das pessoas no velório cumpre a função de dizer para quem perdeu seu ente amado que elas não estão sozinhas e também que aquela vida não foi em vão”, explica. 

O psicanalista aponta, ainda, que cada pessoa pode lidar com o luto de uma forma diferente, mas que no geral existem fases pelas quais as pessoas passam: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação – estágios descritos pela psiquiatra suiço-americana Elisabeth Kübler-Ross. 

“Nem sempre é fácil aceitar uma perda e os motivos que implicam nesta dificuldade sempre são singulares, únicos para cada um. O processo de elaboração do luto é o caminho de entender esses motivos e cuidar deles. Na maioria das vezes fazemos isso sozinhos e com a ajuda do tempo, mas quando o luto se torna patológico, piorando ao longo do tempo em vez de melhorar, caminhando para uma depressão, por exemplo, é indicado um trabalho psicoterápico”, ressalta.
 

Explicando a morte para as crianças 

A perda de um familiar não afeta apenas adultos, mas também tem impacto com as crianças. Muitos pais não sabem como tratar desse assunto com os filhos pequenos e acabam inventando histórias, mas Ronaldo não aconselha esse caminho. 

“Com crianças a perda deve sempre ser tratada com uma linguagem que seja adequada às suas capacidades de compreensão a depender de sua idade. Não se deve mentir para ela e nem tentar esconder, o recomendado é, com auxílio de eufemismos e metáforas, comunicar que aquela pessoa não poderá mais estar fisicamente com ela e que este é um processo natural da vida. Em alguns casos as crianças já sabem o que houve. Por esse motivo, vale perguntar a elas se sabem o que aconteceu, o que imaginam e o que entendem. Essa é uma forma cuidadosa e interessante de começar a conversa a partir do campo de conhecimento e compreensão da criança”, finaliza o psicólogo.


Ronaldo Coelho - psicólogo, psicanalista e professor de psicanálise. É idealizador e professor do curso Análise do Discurso na Clínica Psicanalítica, que tem por objetivo formar psicólogos e psicanalistas para realizarem uma análise consistente de seus pacientes desde a primeira sessão. Atua como psicanalista em seu consultório particular e mantém o canal Conversa Psi no YouTube. Graduado em Psicologia (USP) e Mestre em Psicologia Institucional (USP). Foi professor de Psicologia Médica do curso de graduação de Medicina (UNIFESP) e preceptor da Residência Multiprofissional em Saúde (UNIFESP). Trabalhou em hospitais como Hospital São Paulo e Hospital Universitário da USP, onde, além da assistência aos pacientes e familiares, realizava supervisão clínica de atendimentos psicológicos desenvolvidos por estudantes e psicólogos, orientação de pesquisas e aulas em Psicologia Hospitalar.



Quando a tristeza se torna um problema, psiquiatra explica


Nem toda tristeza é patológica. De acordo com a psiquiatra Dra. Naiayde Monte, especialista em Transtornos de Humor pela USP, a tristeza, na maior parte dos casos, é um sentimento humano natura, que acontece como resposta a determinados estímulos e contextos. “Quem nunca ficou triste por terminar um relacionamento, ser demitido ou perder um ente querido? Nessas e tantas outras situações cotidianas, é esperado que as pessoas se sintam tristes. Porém, é preciso atenção quando essa tristeza persiste e atrapalha o dia a dia”, alerta a psiquiatra. 

Para a médica, a tristeza ‘normal’ não costuma durar muito e de maneira geral não traz prejuízos para a pessoa, enquanto a tristeza patológica tende a durar pelo menos duas semanas, com impacto na realização das atividades e funções do indivíduo. “Muitas vezes, mesmo sem estímulo que justifique, a tristeza patológica pode vir”, explica a psiquiatra. 

Nesses casos, a tristeza pode ser um problema a ser resolvido, muito mais do que um sentimento passageiro. “Precisamos estar atentos se, associado a ela, existem outros sintomas, tais como choro fácil, desânimo e perda do prazer em realizar atividades que antes eram prazerosas”, fala Dra. Naiayde.

A médica afirma que ao reconhecer alguma dessas situações, é essencial procurar ajuda profissional. “Um médico psiquiatra ajuda a entender essa tristeza, diferenciar se ela é normal ou patológica e conduzir o tratamento mais adequado”, finaliza.
 

FONTE: Dra. Naiayde Monte - Especialista em Transtornos do Humor, membro do PROMAN (Programa de Transtorno Bipolar da USP) e da Comissão Científica da ABRATA. Fundadora, coordenadora e preceptora do Ambulatório de Transtorno Bipolar da residência médica em psiquiatria da Universidade de Santo Amaro (UNISA/SP).



Como o luto afeta o cérebro, neuropsicóloga explica

Processo de luto pode afetar funções cognitivas do cérebro
 

A neuropsicóloga Tammy Marchiori, com formação em neurociência por Harvard e especialização em Terapia Cognitiva pelo Beck Institute, explica como a neuropsicologia do luto compreende o processo de luto e como isso pode afetar o funcionamento cognitivo, emocional e neuropsicológico de quem passa por isso. “O luto é uma resposta natural à perda de alguém, mas pode afetar o cérebro e as funções cognitivas”, explica. 

Entre os aspectos mais envolvidos neste processo, a especialista enumera e chama atenção para os sinais que precisam ser avaliados. “A pessoa em luto pode sofrer lapsos de memória, dificuldade em se lembrar de detalhes ou eventos, não conseguir se concentrar, ter dificuldade para tomar decisões, planejar e organizar as tarefas da rotina”, avisa. 

Para Tammy, ainda é natural do processo que algumas emoções se misturem entre tristeza, raiva e até crises de ansiedade que podem durar semanas, mas vale ter atenção se alguns meses de passarem e a pessoa não reagir. “É importante levar em conta se os sinais de depressão começarem a aparecer depois de algumas semanas, para isso um teste neuropsicológico pode ajudar a identificar as áreas específicas em que o luto está afetando o indivíduo e, em seguida, desenvolver estratégias de intervenção e apoio para ajudar a pessoa a lidar com o processo de luto de maneira mais eficaz”, finaliza. 


Tammy Marchiori - Neuropsicóloga com aperfeiçoamento em neurociência em Harvard, especializada em Terapia Cognitiva pelo Beck Institute. Membro da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia e da American Psychological Association (APA)
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Finados e luto, psiquiatra explica o processo


No próximo dia 2 de novembro é lembrado o Dia de Finados. A médica psiquiatra Dra. Jéssica Martani, especialista em comportamento humano e saúde mental, explica como a morte desencadeia o processo de luto. Ela fala que o luto é uma resposta natural e emocional à perda de alguém ou algo significativo em nossas vidas. “Quando uma pessoa querida morre, é comum experimentar uma série de emoções intensas, como tristeza, choque, negação, raiva e até mesmo depressão”, afirma. 

Para a médica, a neurociência e a psicologia podem ajudar a entender as reações emocionais e cognitivas que ocorrem durante o luto. “A região do cérebro associada ao processamento emocional, como o córtex pré-frontal ventromedial e a amígdala, pode estar envolvida na experiência do luto. Essas áreas podem desencadear respostas emocionais intensas e memórias associadas ao falecido”, revela. 

Além disso, a psicologia desempenha um papel fundamental na compreensão do luto. “Existem diferentes teorias e modelos que explicam as fases e processos pelos quais as pessoas passam durante o luto, como o modelo de Kübler-Ross, que descreve as fases de negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. No entanto, é importante ressaltar que o luto é uma experiência individual e única para cada pessoa, e nem todos passam por todas as fases descritas”, fala Dra. Jéssica. 

Durante o luto, é comum que as pessoas busquem apoio na família e nos mais próximos para compartilhar histórias, memórias e emoções. Esse processo pode ajudar a criar um senso de comunidade e solidariedade entre os que estão passando pelo mesmo processo de luto. Além disso, Dra Jéssica ressalta que é importante permitir-se vivenciar as emoções e procurar apoio emocional de amigos, familiares ou profissionais de saúde mental, se necessário. 

“Em última análise, a morte pode ter um impacto significativo na vida, desencadeando um processo de luto complexo. Compreender as bases neurocientíficas e psicológicas do luto pode ajudar a normalizar essas experiências e fornecer suporte adequado para aqueles que estão enlutados”, finaliza a psiquiatra.

 

Dra. Jéssica Martani - Médica psiquiatra, observership em neurociências pela Universidade de Columbia em Nova Iorque – EUA, graduada pela Universidade Cidade de São Paulo com residência médica em psiquiatria pela Secretaria Municipal de São Paulo e pós graduação em psiquiatria pelo Instituto Superior de Medicina e em endocrinologia pela CEMBRAP.   CRM 163249/ RQE 86127


Palavras cruas sobre os estágios de luto do término

 Em entrevista, poetisa Elisa Marques relata como transformou as dores de um rompimento amoroso repentino em arte 

 

Com textos curtos, potentes e repletos de emoções diversas e nada lineares, a escritora Elisa Marques formou a coletânea Até minha terapeuta sente falta de você, um compilado de 72 poemas de inspiração autobiográfica, explorando o término entre duas mulheres pelo ponto de vista da autora. 

A escrita sempre foi presente em sua vida, mas em entrevista a poetisa conta que o primeiro livro nasceu de forma um tanto espontânea, num fluxo natural e sincero. Confira: 

1. Escrever sobre si mesmo nem sempre é uma experiência confortável. Como foi para você o processo de escrita de seu primeiro livro, com tantos traços autobiográficos? 

Meu primeiro livro foi um trabalho muito inconsciente. Não sei até que ponto eu consigo responder à pergunta porque escrever até então era apenas uma ferramenta terapêutica. Eu não tinha medo nem vergonha, porque não sabia que estava escrevendo um livro. Essa inconsciência talvez seja o que tenha tornado a obra tão honesta, tão visceral. A dor e o desconforto são quase palpáveis. 

2. A poeta contemporânea Rupi Kaur é uma de suas inspirações. Como ela, você acredita no poder da cura pela escrita?

Eu acredito nos poderes das artes. Acho que a arte não só cura, mas também te dá prazer de viver.  

3. Pretende escrever outros livros também autobiográficos? Pode dar um spoiler para os leitores sobre possíveis temas que você abordaria?

Arrisco dizer que seja impossível, enquanto autor, se distanciar tanto dos próprios textos que eles não sejam nem um pouquinho sobre si mesmo. Gosto do termo “autoficção” e é por esse caminho que eu sigo no meu próximo livro. Meu tema favorito é o amor romântico e acho que ainda tenho muito a dizer sobre. 

4. Seu avô tem grande influência em seu gosto pela leitura e pela escrita. A escolha por escrever poesias, especificamente, veio da leitura dos trabalhos dele? Você tem vontade de seguir escrevendo poemas ou pretende também se aventurar na escrita de outros gêneros?

A influência do meu avô no meu trabalho vai além do profissional, está no sangue. Não acho que escrever poesias foi uma escolha consciente, tanto que hoje estou me arriscando em outros gêneros, como a crônica. De uma forma ou de outra, acredito que teria chegado à poesia, mas admito que esse primeiro contato na escrita de Até minha terapeuta sente falta de você foi quase automático. 

5. A poesia contemporânea dá muitas possibilidades ao autor. Por que decidiu utilizar inícios de frases em letras minúsculas e pontos finais em seus poemas? Há algum significado especial nessas escolhas, que possa compartilhar?

O ponto final foi uma coisa pela qual eu lutei durante a edição do livro. Sinto que a formação em jornalismo me tornou uma poeta mais rígida. O ponto final para mim é um lugar de respiro e esse livro exigia isso. A escolha pelas letras minúsculas foi uma tentativa de lutar contra essa rigidez e, esteticamente falando, acho mais bonito dentro da métrica do poema. 

6. Você estudou nos Estados Unidos. Há intenção de traduzir a obra atual ou escrever outras diretamente na língua inglesa?

Tenho planos de traduzir este primeiro livro em 2024. Entretanto, meu primeiro contato com a poesia na escrita veio depois da minha formação no exterior, onde eu escrevia matérias para jornais e revistas, então escrever poesia em inglês é algo que ainda não tive o desejo de fazer. 

7. Tem algum novo projeto em vista? Se sim, pode contar um pouco sobre ele?

Meu segundo livro, também de poesia, será lançado em breve. Junto a ele pretendo retomar um projeto audiovisual que iniciei anos atrás. Misturar literatura com cinema é meu hobby favorito e os leitores podem esperar muito isso de mim no futuro. 

 

Elisa Marques - goiana, nascida em 1994 e cresceu em Goiânia. Estudou Jornalismo e Psicologia nos Estados Unidos e atualmente divide seu tempo entre literatura e cinema, sendo também roteirista e diretora. Desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita inspirada pelas obras de seu falecido avô, a primeira referência que teve de escritor. “Até minha terapeuta sente falta de você” é o primeiro livro da autora, que traz sentimentos profundos sobre fins de relacionamentos divididos em 72 poemas com tom melancólico e contemporâneo.
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Quais mortos merecem nosso pranto?

No Dia dos Mortos, recordamos os nossos entes queridos que se foram. Por vezes, depositamos flores em suas lápides com datas já amarrotadas pelo tempo. Ou simplesmente comentamos à mesa uma passagem memorável, alegre ou edificante e, assim, esticamos por alguns minutos a existência desse morto entre nós. Quando a morte é recente e a ausência ainda não é um fato assimilado ou mesmo aceito em face de circunstâncias que ocorreu - como um acidente ou um mal súbito ou, pior, uma violência - o dia se torna um receptáculo de lamentos e acusações ao mundo e ao além-mundo, tendo o suposto Protetor como alvo predileto; a incompreensão pela perda sendo transferida para quem deveria evitá-la ou pelo menos justificá-la. 

No entanto, quando saímos de nossa bolha e olhamos sob a perspectiva da História, há muito mais mortes que comemoramos do que lamentamos. A morte é uma "solução" para os inimigos, para as ameaças, para os que são diferentes de nós, daqueles que, real ou imaginariamente, põem em risco nossa existência e nosso modo de vida. Como ensina Freud, em um texto escrito durante a primeira grande guerra, “o que não é cobiçado por nenhuma alma humana não precisa ser proibido (…) É justamente a ênfase da proibição: não matarás que nos dá a certeza de que descendemos de uma série infinitamente longa de gerações de assassinos, para os quais o prazer de matar, tal como talvez para nós mesmos ainda, estava no sangue”. 

No nosso cotidiano, assumimos esse paradoxo, muitas vezes, ao mesmo tempo: enquanto um pensamento entristece com a lembrança do ente querido que se foi, outro vibra com a notícia de que a polícia exterminou mais uma “gangue de bandidos”, ou de que o país iniciou a contraofensiva contra os terroristas responsáveis por um massacre inacreditável. Nosso olhar embaça e se ilumina em torno do mesmo assunto. Tudo depende de qual morte estamos falando. 

Quais mortos merecem nosso pranto? Há sempre uma explicação plausível para que a morte seja fonte de dor ou de júbilo. A conclusão é um tanto embaraçosa: não é a morte em si que é chorada ou comemorada, mas a forma como essa morte afeta o nosso espírito narcísico que, como mais uma vez lembra o Doutor Freud, acha que não vai morrer nunca e detesta quando o desautorizam com seus desaparecimentos inesperados. 

Nosso tempo de informação contínua e sem descanso, lembra-nos de todos os mortos a todo instante. Durante a pandemia, os números nos eram apresentados diariamente, em um placar seguido de quadros explicativos do aumento ou diminuição das incidências da última semana. Ficávamos informados sobre as mortes dos outros e esse espectro nos acompanhava em todos os lugares, lembrando-nos de que poderíamos ser os próximos da lista. Muitos espíritos mais fracos, inclusive, caíram em uma negação explícita e desafiaram as mais sensatas medidas de segurança, de distanciamento e de vacinação. Muitos morreram porque recusaram a ideia de que poderiam morrer, já que, afinal, a morte é um assunto dos outros.

Agora, vivemos o desfile diário das mortes pela ação terrorista na Palestina e pela contra ofensiva insana que tornou toda uma população refém de um desejo de ira e vingança muito mais do que de Justiça. E, mais uma vez, temos a oportunidade de escolher quais mortes vamos lamentar e pelas quais vamos torcer, como em uma disputa de pênaltis no fim de um campeonato. Curioso é que, nessas disputas, os dois lados invocam o Protetor, como se Ele também tivesse um lado e como se Ele também lamuriasse ou regozijasse pelos mortos “certos" ou “errados”.

Quais mortos merecem nosso pranto? Eu fico com a resposta de Hemingway. Nesses tempos de realidades tão indecorosas, a ficção é, de longe, o lugar onde podemos encontrar o que resta da nossa humanidade combalida. E plantá-la novamente, para além do vale das sombras. 



Daniel Medeiros - doutor em Educação Histórica e professor no Curso Positivo.
@profdanielmedeiros


Especialista ensina pais na conciliação do luto em família

Em lançamento, psicopedagoga Camila Capel baseia-se na própria experiência para orientar leitores a lidarem com a perda


A morte de uma pessoa querida é um tema difícil de ser abordado com crianças e adolescentes, ainda mais quando os pais também vivenciam o luto. Para estes, o desafio está em lidar com a dor pela perda de alguém importante não apenas para os filhos, mas também a si próprios, enquanto tentam manter o papel como educadores. 

Depois de passar por esta experiência como mãe junto às duas filhas, Camila Capel escreveu o livro Vamos falar sobre a vida?. A obra fornece recursos para que os pais e responsáveis apoiem, dialoguem e escutem os filhos no processo de compreensão da morte de uma pessoa próxima, como bisavós, avós ou tios, por exemplo. 

 A autora, que é psicopedagoga com aprofundamento em pedagogia Waldorf, orienta sobre as melhores formas de comunicar uma perda familiar para uma criança, como responder à curiosidade natural delas em torno do assunto e manifestar os sentimentos sobre o ocorrido. Do ponto de vista dos pais, ela guia como passar pelo luto e, ao mesmo tempo, ser um porto seguro para quem ainda está iniciando a jornada pelas dores da vida.  

Ter a consciência da continuidade nos faz estabelecer outro tipo de relação com quem partiu, sentimo-nos parte de algo maior, que transcende a existência física. De certa forma, eles continuam vivos em nós. Relembrar os momentos bons juntos, exaltar qualidades, reconhecer características positivas deles, as quais sentimos carregar em nós também. Tudo isso traz um sentido de continuidade e de pertencimento (Vamos falar sobre a vida?, pg. 256) 

Para continuar a apoiar os pais nessa difícil jornada, Camila Capel também escreveu o livro infantil A Mala do Opa. Inspirado na experiência real da autora em explicar a perda de uma pessoa querida para a sua filha pequena, o livro trata do fim da vida sob o olhar lúdico de uma criança e esclarece com leveza temas como os rituais de despedida de quem partiu e a saudade sentida por quem fica.  

 


Divulgação
Camila Capel

Ficha técnica: 

Título: Vamos falar sobre a vida? Desconstruindo tudo que você aprendeu sobre morte 
Autora:
Camila Capel 
Editora:
Leitura e Arte Editora 
ISBN:
9788567838199 
Páginas:
472 
Formato:
25 x 16 
Preço:
 R$ 120,00 
Onde comprar:
Amazon  

  

Sobre a autora: Camila Capel é psicopedagoga com aprofundamento em pedagogia Waldorf, facilitadora de processos de autodesenvolvimento, meditação e mindfulness e educadora de adultos. É também autora do livro infantojuvenil A Mala do Opa, que ajuda a tratar com leveza o tema do luto com as crianças.   

 

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