O ronco pode ser um aliado no rastreio de problemas
respiratórios que levam a um cotidiano cansado, difícil e até mesmo doente.
Três médicas otorrinolaringologistas desenham o mapa do sono saudável na semana
do Dia Mundial do Sono (17/03)
"Ser
Feliz É Dormir Bem e Respirar Pelo Nariz" é tema da proposta da Associação
Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) para
lembrar do Dia Mundial do Sono neste ano, nada melhor do que reunir especialistas
em otorrinolaringologia para cercar o problema do ronco
e da apneia, grandes vilões do sono e da vida de ⅓ da população mundial, de acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para
começar, o cuidado com o ronco é unânime no sentido de ser um indicador
infalível de que algo não vai bem com a respiração durante o sono. Exceto em
momentos específicos de resfriados e outras situações pontuais, o ronco não
deve ser considerado normal na vida das pessoas. É o alerta da
otorrinolaringologista do Hospital das Clínicas de São Paulo Dra. Maura Neves.
"Roncar todas as noites ou roncar alto denota obstrução importante da
passagem do ar e pode indicar a síndrome da apneia do sono, que interrompe a
passagem do ar, diminuindo a quantidade de oxigênio no sangue", explica a
especialista, destacando o que muitos sabem, mas poucos agem a respeito disso:
"A presença da apneia do sono está associada, por exemplo, ao aumento do
risco de hipertensão, insuficiência e arritmia cardíacas, derrame e
diabetes."
Engajada
na missão de ajudar as pessoas a se conscientizarem sobre a gravidade dessa
ocorrência, a otorrino Dra Roberta Pilla membro da ABORL-CCF -Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial, preparou uma lista simples para identificar a
presença da apneia:
- Boca seca ao acordar
- Sonolência diurna ou fadiga
- Sono fragmentado
- Dor de cabeça matinal
- Dificuldade na concentração e perda de memória
- Irritabilidade
A
apneia é um dos problemas que prejudicam a qualidade do sono e de vida das
pessoas, mas, ainda que não se desenvolva essa questão mais grave, a
experiência da Dra Roberta mostra que a respiração pela boca, em si, já é
suficiente para dificultar o dia a dia. Ela contextualiza: "O ar deve ser
inspirado pelo nariz para ser filtrado, aquecido e umidificado antes de chegar
aos pulmões. A respiração pela boca não é normal e precisa ser avaliada".
Respirar
pela boca pode acontecer por diversas razões, desde motivos anatômicos até
quadros de rinite alérgica, desvios de septo, pólipos nasais, hipertrofias de
conchas nasais, hipertrofia de adenóide e amígdalas palatinas, entre outras.
Além dos sintomas que alertam para a apneia, dormir de boca aberta pode,
segundo Dra. Roberta, levar a sintomas mais difíceis. "A curto e longo
prazo o indivíduo pode começar a perceber uma hiperatividade, irritabilidade,
desinteresse por atividades e agressividade, além de questões físicas, como
alterações crânio esqueléticas, como rosto alongado, alteração na oclusão dentária,
maxila pouco desenvolvida, lábio superior curto e entreaberto, narinas mais
estreitas e palato ogival", detalha a médica.
Como saber se é grave?
Dra
Maura Neves chama a atenção para os cuidados de quem está preocupado com o
sono, a respiração ou o ronco. "Deve ser feita uma avaliação do sono por
um exame chamado Polissonografia, em que se verifica o tempo de sono,
frequência cardíaca e porcentagens dos estágios de sono, além da quantidade de
apneias e microdespertares". A otorrino conta que, em consulta, ela também
avalia os sintomas clínicos, como a sonolência diurna, aquela que leva a
cochilar em situações como assistir televisão, ler, andar de ônibus ou metrô,
dirigir no trânsito etc.
Identificadas
as causas do ronco, ou da respiração bucal, ou mesmo a apneia, os tratamentos
começam a ser considerados, como continua Dra Maura: "Em casos de apneia,
há casos de cirurgia, uso de aparelhos intraorais, CPAP, fonoterapia para
fortalecimento da musculatura do pescoço. Tudo depende da severidade da apneia".
Para as condições que envolvem a respiração pela boca, a especialista cita o
controle das rinites, a correção de desvio de septo, das amígdalas e adenóides,
e ressalta a necessidade de avaliação do dentista e da fonoterapeuta como
terapia multidisciplinar, se for o caso.
O que fazer para respirar melhor e, assim, dormir melhor?
A
médica otorrinolaringologista geral e pediátrica,Dra Carla Falsete preparou um guia de
autocuidado para cuidar da respiração, que pode ser amiga ou
inimiga da noite de sono:
1.
Pratique a respiração diafragmática: Ao respirar profundamente, seu diafragma,
o músculo que ajuda a controlar a respiração, é ativado. Essa respiração ajuda
a aumentar a capacidade pulmonar, reduzir o estresse e melhorar a oxigenação.
Para praticar, deite-se de costas, com as mãos sobre o abdômen. Inspire
profundamente pelo nariz e sinta o abdômen se expandir. Em seguida, expire
lentamente pela boca, contraindo o abdômen. Repita por alguns minutos
diariamente.
2.
Mantenha uma boa postura: A postura inadequada pode dificultar a respiração,
especialmente se você permanecer sentado por longos períodos. Tente manter uma
postura ereta, com os ombros para trás e o queixo levemente para cima.
3.
Tente evitar exposição a poluentes ambientais, como fumaça de cigarro, poluição
do ar e produtos químicos irritantes. Use uma máscara em ambientes poluídos ou
com muita poeira.
4.
Faça exercícios regularmente para melhorar a função pulmonar e a capacidade
respiratória, além de fortalecer os músculos respiratórios. Escolha atividades
que elevem sua frequência cardíaca, como caminhada rápida, corrida, natação,
ciclismo ou dança.
5.
Mantenha seu corpo bem hidratado para manter a saúde das vias respiratórias,
pois o muco que reveste o nariz, a garganta e os pulmões é composto
principalmente de água. Quando o corpo está desidratado, o muco pode se tornar
mais espesso e pegajoso, o que pode dificultar a respiração.
6.
Reduza o estresse, pois ele pode afetar a respiração, deixando-a mais
superficial e acelerada. Práticas como meditação, ioga e tai chi podem ajudar a
reduzir o estresse e melhorar a respiração. Também é importante identificar as
fontes de estresse em sua vida e encontrar maneiras saudáveis de lidar com
elas.
7.
Consulte um profissional da saúde especialista. Um médico
otorrinolaringologista e um dentista podem ajudar a encontrar o tratamento
específico com base no diagnóstico.
Dra. Carla Falsete - CRM 101843 | RQE 71523 - Médica graduada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- Campus Sorocaba (2000), Residência médica em Otorrinolaringologia Geral e Pediátrica pela Clínica Médica Otorhinus (2004). Título de Especialista em Otorrinolaringologia Geral e Pediátrica e Cirurgia Cérvico Facial pela ABORL-CCF (desde 2005). Pós-graduada em Medicina Desportiva pela UNIFESP (2007). Preceptoria cirúrgica no Núcleo de Otorrinolaringologia de São Paulo (desde 2007). Psicoterapeuta formada Helper pelo Pathwork®️ (2018). Formação Médica ampliada pela Antroposofia (2020). Healthy lifestyle.