Estudos mostram redução na prática de atividades
físicas devido à pandemia, mas é possível manter a saúde física e mental, mesmo
com as dificuldades e incertezas
Um estudo conduzido por sete
pesquisadores de quatro universidades (Cambridge e Ulster, na Inglaterra,
Yonsei, na Coreia do Sul, e abrasileira Federal de Santa Maria) mostrou que os
índices de atividade física caíram de forma significativa durante a pandemia.
Publicado em fevereiro de 2021 com o título “Mudanças na atividade física e em
comportamentos sedentários de antes e durante a pandemia de Covid-19: uma
revisão sistemática”, a pesquisa mostrou que a prática de atividades físicas e
a diminuição de comportamentos sedentários afetam positivamente “tanto a saúde
física quanto a mental”, recomendando a divulgação de maneiras para elevar as
taxas de exercícios, especialmente durante a pandemia.
A pesquisa sugere que o
isolamento social, assim como a mudança para o home office, contribuiu para a
queda das atividades físicas e com o aumento do tempo de sedentarismo e a
permanência à frente de telas. Especialista em Medicina do Exercício e do
Esporte e em Cardiologia, Marcelo Bichels Leitão, que faz parte do movimento
“O Que Conecta Você às Pessoas”, idealizado pela startup MCities (www.mcities.com.br)
com foco na saúde física e mental no período da pandemia, afirma que é fundamental se manter ativo durante este
momento por inúmeros motivos: melhora da resposta imunológica (inclusive para
vacinas), evoluções mais brandas de doenças e benefícios metabólicos, entre
outros.
“Se pensarmos também na saúde
mental, o exercício físico ajuda a reduzir os níveis de ansiedade e depressão,
que têm demonstrado, segundo estudos, um aumento significativo pela pandemia”,
diz o também membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Medicina do
Exercício e do Esporte (SBMEE). Muitas pessoas se sentem inseguras para sair de
casa, mas não é motivo para deixar a atividade física de lado: boa parte dos
exercícios pode ser realizados de maneira saudável dentro de casa.
A Organização Mundial de Saúde
(OMS) recomenda pelo menos 150 minutos de atividades aeróbicas de baixa
intensidade e duas sessões de exercícios de força semanais. “A imensa maioria
das pessoas que está habituada vai manter atividades que já conhecem, adaptando
condições, como a corrida na esteira. Em geral, essas pessoas já conhecem a
resposta do seu organismo ao exercício”, explica.
Se a pessoa for sedentária,
por outro lado, é preciso ter mais cuidado. “Para quem nunca fez exercício
físico, a recomendação é para iniciar em atividades de intensidade mais suave
e, desde que não tenha queixas, como dores articulares ou musculares, cansaço
desproporcional, aperto no peito, pode ir aumentando a duração e a intensidade
do exercício de forma gradativa”, acrescenta. Em caso de dúvidas, é possível
buscar orientação por meio da telemedicina.
Um olhar para a saúde mental
Diretor da Cadmo Clínica
Médica, o médico psiquiatra Gustavo Sehnem afirma que, assim como o corpo, a
saúde mental também é afetada pela pandemia. Situações como o distanciamento
social, a incerteza e a insegurança modificaram a rotina e o planejamento de
muitas pessoas, afetando os seus hábitos, o que pode refletir na saúde mental.
“O estresse prolongado pode ser motivador para situações de ansiedade,
depressão, entre outros quadros”, diz Sehnem.
O home office fez com que
muitas pessoas não consigam definir os horários para se desconectar. Em muitos
casos, no início da pandemia, as pessoas se tornaram até mais produtivas, mas
não é algo sustentável. “O organismo é interligado. A criação de hábitos, uma
rotina de sono, uma alimentação equilibrada e horários de atividade física
interferem no dia a dia. Na clínica, observamos como a rotina é importante para
as pessoas com os mais diversos quadros”, explica Sehnem.
Não é só um potencial aumento
de trabalho que gera problemas. Para muitas pessoas, controlar o tempo de
exposição às telas – a internet, em especial – se tornou uma dificuldade. “Na
pandemia, ficou claro que muitos dos maus hábitos se devem ao uso indevido da
tecnologia, incluindo a desculpa da ‘falta de tempo’ para deixar de praticar
atividades físicas”, afirma Leitão.
Dicas para sua saúde
Segundo Sehnem, pessoas
ansiosas ou depressivas podem ter dificuldade em fazer uma autoavaliação para
perceber se estão mais angustiadas ou irritadas. “Nesses casos, é importante
ouvir a opinião dos familiares: eles estão criticando certos comportamentos? A
internet atua no setor de prazer e de recompensa cerebral, o que pode gerar
quadros compulsivos”, explica.
O contato com familiares,
inclusive, é um dos focos do movimento “O Que Conecta Você às Pessoas?”. As
ações propostas pela MCities nesta campanha envolvem uma maior atenção à
família e também à rotina, que foi modificada com a pandemia e precisa ser
retomada de maneira responsável, com atenção para a saúde mental e física.
“Qualquer simples estímulo positivo de uso do tempo tem poder de criar um
ambiente favorável para o enfrentamento dos maus hábitos”, comenta Paulo
Hansted, CEO da MCities.
Ficando atento às
recomendações das Secretarias de Saúde em relação a bandeiras mais brandas, é
possível praticar exercícios em espaços abertos. “O estímulo tem que existir”,
opina Hansted. “Não se deve abandonar os passeios com animais de estimação,
mesmo que seja para dar uma volta na quadra. Isso mantém a atividade física e
ainda dá estímulos visuais, por exemplo, que aliviam a tensão psicológica do
momento.”
Aproveitando situações
O médico psiquiatra dá outras
dicas para gerenciar a saúde:
- Crie uma rotina – Divida as 24 horas do dia de forma organizada: 6 a 8 horas de
sono, preferencialmente noturno; 8 horas para se manter intelectualmente ativo;
8 horas para se alimentar, fazer atividade física, momentos de lazer e de
relação com a família.
- Estimule os seus hobbies – Descubra algo que te dê prazer (leitura, música, estudos) e o
incentive dentro de suas possibilidades.
- Não agrida o seu organismo
– Observe atividades que dão prazer imediato, caso
do álcool ou comer de forma compulsiva. Em geral, elas geram prazer imediato,
mas são prejudiciais no longo prazo.
- Faça coisas por você – Questione-se: “O que tenho feito por mim? A alegria é contagiante,
assim como a irritabilidade. Se eu estiver bem, consigo estar melhor para a
minha família e o trabalho. Não é ser egoísta, mas cuidar de si”, explica
Sehnem.
- Saia da rotina – Dentro do que for possível, siga as orientações das autoridades e
mude a sua rotina, o que ajuda a recarregar as baterias.
- Filtre o que assiste – Evite permanecer muito tempo em redes sociais ou assistindo ao
noticiário. “Somos influenciados pelo que lemos e assistimos”, completa Sehnem.