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segunda-feira, 8 de maio de 2017

Especialista dá dicas para quem quer empreender




A crise financeira, as diversas opções de atividades profissionais e o desejo de maior liberdade e bem-estar pessoal têm levado um grande número de executivos a deixarem suas carreiras consolidadas para se arriscarem no sonho do negócio próprio.

De acordo com Emerson Weslei Dias, coach e autor do livro O inédito viável, três fatores estão bastante presentes nas pessoas que tomam essa decisão de buscar novos rumos. Em primeiro lugar, está a insatisfação com o trabalho atual. Ele destaca que o mundo nas empresas, principalmente nas grandes, está cada vez mais controlado, e com isso o grau de autonomia diminui muito. “Tenho percebido uma reclamação geral da falta de liberdade para trabalhar. Além disso, o mundo está cada vez mais competitivo e profissionalizado, as relações humanas se deterioram, é muita gente com problemas com seus superiores, pares...”, conta.

O segundo fator é o acesso à tecnologia e crédito. Como exemplo, ele cita o desenvolvimento de um aplicativo, que custa pouco e, se a ideia for boa, o sucesso é rápido. “Hoje em dia temos investidor-anjo, aceleradora de startups, franquias... O leque é grande, bem diferente do cenário de 10/15 anos atrás”, diz.

O especialista ainda ressalta que, em muitos casos, as pessoas estão buscando mais satisfação pessoal do que remuneração. “Vejo um movimento muito forte de querer fazer algo que tenha prazer, dar um significado a sua própria existência, principalmente quem já tem o que precisa do ponto de vista financeiro”, afirma. Dias acredita que o desejo de uma melhor qualidade de vida também influencia a escolha por mudar de carreira. “Estresse, trânsito, viagens, pressão por resultados, falta de recursos, instabilidade nos mercados são fatores presentes, e as pessoas querem poder equilibrar isso”, destaca.

No entanto, trocar a segurança do emprego pelo risco de abrir um negócio é uma decisão que exige muita ponderação. Segundo o coach, alguns pontos importantes precisam ser considerados por quem pensa em deixar uma carreira de executivo e iniciar outra como empreendedor. Antes de tudo, Dias faz uma breve conceituação sobre o que é Carreira, que define como "o tempo da vida em que a gente se dedica a algo que considera útil para a sociedade e sente prazer de fazer". Levando em conta essa definição, ele afirma que, na mudança, devemos ser conduzidos pelo mesmo sentido: dar ao mundo nossas habilidades, satisfazendo nossos anseios e, ao mesmo tempo, as necessidades das outras pessoas.

Vale lembrar que tocar um negócio próprio exige competências diferentes das necessárias para sobreviver no mundo corporativo. De acordo com o especialista, entre as principais dificuldades que um executivo tem em entender e se adaptar à realidade de um empreendedor está a famosa “atitude de dono”. “Muitos falam, mas poucos sabem o que é isso na prática. O executivo era acostumado a receber relatório e interpretar, agora ele talvez tenha que fazer os próprios relatório, ir ao banco resolver problemas da empresa, atender o cliente, ouvir reclamações, liderar pessoas, montar escalas de trabalho, entender o negócio do início ao fim e não mais uma visão “departamentalizada”, etc”.

O coach também alerta que o entusiasmo, típico de quem está começando um novo negócio, pode prejudicar se não for aliado à um bom planejamento. “Há um grande risco de ‘entrar de cabeça’. Muita gente erra ao apostar em uma paixão cega e achar que encontrou a mina de ouro. É preciso encontrar alguém que possa desconstruir sua ideia. Nesse momento, os críticos podem apresentar problemas que possam ainda existir e você não os estava vendo”, afirma.

Passo a passo. Chegada a hora de “colocar a mão na massa”, depois de definir o que vai ser feito (abrir um negócio, ser um franqueado, começar do zero ou comprar um negócio que existe), é preciso elaborar um bom plano de negócios. Passada essa etapa é hora de se questionar: tenho as competências para isso? Se sim, como posso testá-las? Se não, como posso desenvolvê-las?

Segundo Dias, a regra básica é Planejar, Executar o plano e fazer os ajustes necessário que são descobertos na execução, Checar os resultados alcançados de tempos em tempos, e, com base nisso, ajustar o que tiver que ser ajustado e seguir o plano. “É como reformar um avião em pleno voo, tem que ser peça por peça pra ele não cair”, diz. 






 Emerson Weslei Dias - Coach e consultor de carreira, dedica-se exclusivamente à consultoria e defesa do seu método "O inédito viável". Possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas pela FGV. É diretor de Liderança e Gestão de Pessoas da ANEFAC (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).




Roberto Campos sempre atual



 O país vive um momento de mudanças estruturais. A sociedade discute atualmente novas regras trabalhistas e previdenciárias e em seguida o foco será direcionado para a área tributária.

A reforma do sistema de impostos no Brasil neste ano coincide com o centenário de nascimento de um dos homens mais brilhantes que o país já teve. Caso estivesse vivo Roberto Campos teria feito 100 anos em abril. Ele foi um dos artífices do chamado “milagre econômico”, entre o final dos anos 60 e ao longo da década de 70, ao implementar um inovador modelo de tributos para o país.

A partir do final dos anos 80 Roberto Campos passou a criticar o sistema tributário do país. Reconheceu que o modelo que criara havia se esgotado e passou a defender o projeto do Imposto Único. Seu pensamento continua impressionantemente atual e sua pregação pela reforma tributária deve ser ouvida hoje com a mesma força e significação com que ele a fez no passado.

O Brasil tem hoje um dos mais complexos sistemas tributários do mundo. Cabe citar em relação a isso um trecho do artigo “A vingança do Jatene”, publicado pela Folha de S.Paulo em 18/07/1997, em que Campos critica políticos e burocratas que insistem em aplicar mais do mesmo quando, em benefício da economia brasileira se deveria alterar radicalmente a sua atual estrutura burocrática e arcaica. Diz o autor: “Não tenho o menor respeito pela sabedoria convencional que entroniza como indispensáveis os impostos clássicos tais que o imposto sobre a renda e o imposto sobre o valor adicionado na circulação de mercadorias. São ambos insuportavelmente obsoletos. Ensejam a criação de classes parasitárias como a dos fiscais e tributaristas, que não tiram seu lucro da atividade produtiva e sim da “exploração da complexidade”. Todos os impostos declaratórios (sobre a renda, consumo ou serviços) envolvem uma dupla burocracia: a do contribuinte e a do controlador. Quanto mais complicado o imposto, mais lucram as classes parasitárias. No Brasil, atingimos o máximo de desperdícios com cinco máquinas arrecadatória, a municipal, a estadual, a federal, a trabalhista e a previdenciária”. 

Campos conclui o texto dizendo que “O imposto bom não é o “imposto velho” nem o “imposto clássico”. O imposto bom é o insonegável e de cobrança automatizada. Qualquer imposto sonegável é socialmente injusto. E se a cobrança depende de documentos declaratórios torna-se um desperdício. A automaticidade e insonegabilidade são precisamente as características do chamado Imposto Único sobre Transações Financeiras, que não encontrou apoio nem do governo nem do Congresso”.

O Brasil terá que fazer a reforma tributária em algum momento e o legado de Roberto Campos deve ser resgatado nesse processo. A inovação hoje está na implementação de um projeto cujas diretrizes devem ser a radical simplificação da estrutura fiscal e a instituição de um sistema de arrecadação onde predominam a moeda eletrônica e a informatização dos bancos.

Da pena de Roberto Campos, em artigos de jornais ou em textos técnicos, jorravam ideias e conceitos modernos e inovadores. Foi um insolente crítico de seu tempo e um atrevido desbravador de ideias para o futuro.





Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na FGV (Fundação Getulio Vargas). Foi deputado federal (1999-2003) e é autor do projeto do Imposto Único. É presidente da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos).



POPULISMO BEBERRÃO DE MENTIRAS - REFLEXÕES SÓBRIAS



        No último fim de semana de abril, dois textos me chamaram a atenção. Um deles é do jornalista que assina a segunda página do jornal Zero Hora. As opiniões de Tulio Milman tendem para a esquerda. É um dos tantos que, convictamente, ajudaram a pavimentar o acesso petista ao poder. Na referida coluna, porém, Tulio Milman confessa seu erro afirmando que "os grevistas não sabem, mas é contra Lula que estão protestando". Extraio do texto o seguinte segmento:
        "A realidade só se revelou mais tarde, com o colapso ético e prático de um modelo corrupto e irresponsável, onde a gastança do dinheiro público e o descontrole geravam a ilusão de abundância.  Qualquer modelo de desenvolvimento econômico só é eficiente se for sustentável. Não foi o que aconteceu. Difícil é explicar para milhões de brasileiros acostumados ao paternalismo e ao messianismo político. 
        Os anos de Lula e de PT não foram de prosperidade. Foram de irresponsabilidade e de desmando. Geraram um gigantesco passivo econômico e social. Os 14 milhões de desempregados no Brasil são a herança viva desse delírio, no qual muita gente, inclusive eu, embarcou. Cheguei a acreditar que Lula era uma solução viável de diálogo entre opostos. Na verdade, era apenas um monólogo sedutor e vazio."       
        Como se percebe, o jornalista está falando sobre a perigosa sedução do populismo, que, entre outras sinistras emanações, se expressa em paternalismo e messianismo, nos quais ele confessa haver embarcado e dos quais desembarca à vista do desastre social, econômico, político e fiscal a que nos conduziram.
        O outro artigo é do filósofo Roberto Romano, professor da Unicamp, e foi publicado no Estadão do dia 29/04. Aborda a impropriedade do uso do vocábulo "bolivarianismo" para designar o sanatório político que está varrendo a Venezuela para o monturo ideológico onde jazem Cuba e Coreia do Norte. Desse mal, Simón Bolívar é inocente. Nas primeiras linhas, porém, Roberto Romano fez estas interessantes observações sobre populismo:
        "O elogio da ignorância, no Brasil, resulta de uma síntese efetuada por intelectuais, políticos, clérigos. Tal operação tem nome comum: populismo. Não se trata apenas de ideologia, existem populistas de esquerda, de direita, católicos, protestantes, muçulmanos. A demagogia, doença antiga, já na Grécia democrática recebeu seu nome de batismo. Após a queda do Império Romano, o apelo ao povo como árbitro supremo de todo poder e saber definiu movimentos de massa, fracassados ou bem-sucedidos. O romântico Michelet evoca a chusma popular como figura Christi, presença do Messias. 
        O populismo recusa a pesquisa para a descoberta do verdadeiro. A sua demagogia reúne em poucos chavões um arsenal tosco de propaganda. Os totalitarismos do século 20 levaram tal política ao absurdo. Goebbels, de um lado, os “jornalistas” do Pravda, de outro, abusaram do populismo em doses diárias, sorvidas pela multidão em padrões pantagruélicos. Afinal, “engolimos avidamente a mentira que nos lisonjeia, bebemos gota a gota a verdade que nos amargura” (Diderot)."

        Agora, afirmo eu: no Brasil destes últimos 30 anos, a desgraça populista escolheu um partido para chocar seus ovos, se reproduzir e alcançar o poder. No caminho, arrastou setores expressivos da Igreja Católica, da mídia, do meio acadêmico, contaminando a alma do povo brasileiro. Agora, combate toda tentativa de estabelecer algum realismo na gestão do Estado e, através de seu mais tonitruante porta-voz, ameaça voltar ao poder. Só o Brasil sensato, formado majoritariamente por liberais e conservadores, por pessoas realistas, enfim, pode deter o avanço populista que - mau caráter e beberrão de mentiras como é - pisa no acelerador em tempos difíceis.





Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.




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