Medo e desconhecimento do
diagnóstico fazem muitos pacientes desistir de procedimentos.
Médico explica que não há riscos para o
soropositivo submeter-se às cirurgias plásticas
Em 2013, o Ministério da Saúde divulgou que 734 mil
brasileiros eram portadores do vírus HIV, mas que 19,75% dessa população (145
mil) não têm ideia de que vivem com esse quadro. Esse cenário de
desconhecimento faz com que o portador tome ciência do diagnóstico de outra
forma: antes de uma cirurgia plástica.
De acordo com o cirurgião plástico Dr. Sérgio
Morum, muitos pacientes podem descobrir ser portadores do vírus HIV nos exames
preliminares. “Antes de qualquer procedimento cirúrgico, o cirurgião pede para
que o paciente realize uma bateria de exames, inclusive de sangue. Nesses
exames, é possível constatar a presença do vírus HIV, se o paciente for
hospedeiro.” Para o médico, a reação pós-descoberta é a parte preocupante.
“Muitos descobrem e não voltam para realizar a cirurgia, e o cirurgião fica
sabendo do motivo muito tempo depois.”
Segundo Dr. Morum, é compreensível o susto do
paciente ao descobrir a notícia, mas esse assunto precisa ser debatido. “É
necessário que o paciente saiba que não há nenhum impedimento em realizar
procedimentos cirúrgicos. O fato de ser portador do vírus HIV não o proíbe de
ter uma vida normal. Ele pode realizar diversas atividades como qualquer outra
pessoa, inclusive uma cirurgia plástica. Não há motivos que o impeça de
realizar qualquer procedimento.” Ele afirma que o diagnóstico não é uma
sentença. “É possível ser portador do vírus, mas não sofrer com a Aids. Se o
diagnóstico foi dado cedo e o tratamento foi bem realizado, o paciente não
sofrerá as consequências da doença. Isso não o impede de realizar qualquer
atividade que já fazia ou que planejava fazer.”
O cirurgião plástico
afirma que o relacionamento paciente-médico é confiável e sigiloso. “É contra a
ética do exercício profissional da medicina que qualquer informação médica a
respeito do paciente seja divulgada pelo médico, sem a prévia autorização. Mas
é necessário que o paciente confie, e conte tudo durante a consulta.”
O curitibano Renato* é portador do HIV, e já
realizou uma operação plástica no abdômen. Ele conta que nunca teve dúvidas
sobre se poderia ou não se submeter ao procedimento por conta do diagnóstico.
“Descobri antes da cirurgia, e realizei o procedimento sem preocupação.
Acredito que as pessoas não devam se privar de realizar aquilo que querem, por
serem portadores do HIV.” Para ele, o paciente precisa se abrir para o médico.
“É necessário que haja uma conversa muito aberta entre o paciente e o médico,
que tudo esteja às claras.”
Renato afirma que não pensará duas vezes em
realizar outro procedimento. “Se for possível, farei outra cirurgia sim. A
cirurgia plástica é algo normal, como fazer uma academia. As pessoas não
precisam se preocupar com relação a isso. Sou portador do vírus, mas não
significa que eu não possa ter uma vida normal e buscar o melhor para mim, como
qualquer outra pessoa.”
*Para preservar a identidade
do personagem, a seu pedido, foi-lhe atribuído um nome fictício.
Dr. Sérgio Morum -
Cirurgião-plástico
Complexo Brasil XXI: SHS 06 - Conjunto A - Torre E, Sala 820 - Asa Sul -
Brasília-DF